Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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AVALIAÇÃO DOS ATRIBUTOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM UMA CAPITAL DA AMAZÔNIA
Ana Emanuela de Carvalho Chagas, Kátia Fernanda Alves Moreira, Landerson Laife Gutierrez Batista

Última alteração: 2018-06-05

Resumo


A Atenção Primária em Saúde ganhou visibilidade mundial pela primeira vez durante a  8ª Conferência de Saúde realizada em Alma Ata, no ano de 1978. O lema da Conferência era “saúde para todos no ano 2000” e propunha uma reformulação do modelo médico-assistencial vigente naquele período, o qual era pautado em práticas centradas na doença e se mostrava ineficaz para sanar as necessidades de saúde da população na época, além disto tinha por objetivo garantir maior participação do Estado, sobretudo no tocante ao financiamento das ações em saúde a serem ofertadas.  Os preceitos instituídos pela Declaração de Alma Ata influenciaram significativamente o movimento de Reforma Sanitária brasileiro, que culminou na criação do Sistema Único de Saúde cuja lógica de trabalho proposta era a de clínica ampliada, considerando os aspectos biológico, psíquico e social que influenciam o processo de saúde-doença dos sujeitos que teriam garantidos acesso universal às ações ofertadas nos serviços de saúde. Assim, a Estratégia de Saúde da Família foi instituída como alternativa para a organização e ordenamento desses serviços a fim de se consolidar a Atenção Primária em Saúde no país. Este nível de atenção em saúde, orienta-se por eixos estruturantes denominados atributos que se subdividem em essenciais, sendo eles: atenção ao primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação; e derivados: orientação familiar, comunitária e competência cultural. A incorporação de tais atributos na prática dos profissionais que atuam na Estratégia de Saúde da Família eleva a qualidade dos serviços favorecendo a consolidação do Sistema Único de Saúde, uma vez que permitem ações mais resolutivas pois, estão ajustadas ao contexto de reais necessidades e potencialidades da comunidade e indivíduos aos quais se assiste, isto consequentemente melhora os indicadores de saúde de uma população. Frente a isto, este estudo teve como objetivo avaliar a incorporação dos atributos acesso de primeiro contato, longitudinalidade e orientação familiar na prática de profissionais de nível superior que atuam nas equipes de Saúde da Família da zona Leste de Porto Velho, Rondônia. Trata-se de um estudo avaliativo, transversal de abordagem quantitativa desenvolvido mediante dados coletados em sete Unidades de Saúde da Família da zona leste mais uma da zona norte do município de Porto Velho. Participaram deste estudo 23 enfermeiros, 22 médicos e 14 odontólogos que atuam na assistência direta aos usuários na Estratégia de Saúde da Família. A coleta de dados se deu através de questionário estruturado que aborda o perfil acadêmico e profissional dos participantes e o Primary Care Assessment-Tool (PCATool-Brasil) versão para profissionais. O tratamento dos dados se deu com utilização do Software Statistical Package for Social Sciences 20.0 (SPSS) e para identificar associação entre profissão, área de pós-graduação, participação em atividades de qualificação profissional e os indicadores de qualidade do serviço (escores obtidos) foi adotado o teste qui-quadrado, teste exato de Fisher ou teste de Pearson considerando um nível de significância de 5%, rejeitando as hipóteses nulas de ausências de associação quando o p-valor encontrado foi menor que 0,05. Os resultados demonstraram que 91,5% dos profissionais participantes são pós-graduados, sendo 62,7% na área de Atenção Primária em Saúde. Pouco mais da metade (54,2%) dos profissionais informaram não ter participado de eventos de qualificação profissional mas, dos que a efetuaram, 70,4% consideraram que estes eventos contribuiram para o aperfeiçoamento de sua conduta profissional. A predominância de especialização na área de Atenção Primária em Saúde entre os profissionais participantes, pode estar associada ao fato de que no município cenário desta pesquisa, a ESF sofreu um processo de expansão maior nos últimos 10 anos, e dentre outros investimentos, foram realizados seis concursos públicos, nesse intervalo de tempo, para provisão de recursos humanos que visava atender à necessidade das novas USF e isto pode ter sido um estímulo para os profissionais em buscar aperfeiçoamento na área que foram contratados para atuar ou que já estavam atuando mas, agora ganhando maior visibilidade. No tocante a avaliação dos atributos da Atenção Primária em Saúde, foi evidenciado alto escore para os atributos “longitudinalidade” (6,6) e “orientação familiar” (7,9) mas, um escore insatisfatório (3,3) do atributo “acesso de primeiro contato”. Partindo da premissa de que a longitudinalidade expressa a existência de fonte regular de cuidado às necessidades de saúde que surgem  no decorrer do ciclo de vida dos usuários do serviço, é provável que a incorporação satisfatória deste atributo no serviço de APS avaliado seja em decorrência do tempo de atuação dos profissionais nas equipes de Saúde da Família e Unidades de Saúde da Família avaliadas. A grande parcela dos profissionais participantes deste estudo, apresenta um tempo de atuação na mesma equipe igual ou superior a dois anos, o que pode contribuir com o acompanhamento baseado em vínculo e consequente noção das reais necessidades evidenciadas em um diagnóstico situacional da população a qual se conhece, ao longo do tempo. Além disto, há que se considerar que o instrumento PCATool versão para profissionais, mensura a incorporação do atributo acesso de primeiro contato sob uma abordagem que se limita aos aspectos organizacionais do serviço, que não são obrigatoriamente inerentes à atuação dos profissionais de saúde, enquanto que abrange aspectos da longitudinalidade e orientação familiar que estão intimamente relacionados ao processo de trabalho, mais especificamente às relações interpessoais estabelecidas entre usuário e profissional durante a assistência prestada seja no espaço da USF, domicílio ou outro espaço na comunidade. Portanto, fatores como a oferta de ações e serviços no horário das 7h00 às 19h00, apenas em dias úteis da semana, bem como falta de mecanismos que agilizem o agendamento de consultas acabam limitando o acesso da população trabalhadora, que não encontra acolhimento para suas demandas de saúde, o que pode ter contribuído para resultado insatisfatório quanto ao atributo “acesso de primeiro contato”. Em contrapartida, a incorporação satisfatória dos demais atributos nos permite supor que, embora em meio aos fatores que dificultam o acesso dos usuários ao serviço de saúde, a maioria dos profissionais, quando qualificados, conseguem ofertar de forma satisfatória e com regularidade o cuidado àqueles usuários que conseguem acessar o serviço. Além disto, foi evidenciado associação significativa (p= 0,016; p< 0,05) entre a variável “especialização na área de Atenção Primária em Saúde” e alto escore do atributo “longitudinalidade”. Conclui-se que há de se priorizar investimentos na estrutura e no processo de assistência relativos ao atributo pior avaliado (acesso de primeiro contato) bem como, fomentar ações de educação continuada e/ou permanente com vistas a incentivar maior nível de qualificação profissional para fortalecimento da Atenção Primária em Saúde no âmbito municipal. Ademais, observou-se a necessidade de realização de outras pesquisas cujo objetivo seja avaliar os serviços de Atenção Primária em Saúde sob a percepção de usuários  e assim obter uma análise mais abrangente e talvez consistente da qualidade da atenção que está sendo ofertada no âmbito da ESF, no município.


Palavras-chave


Atenção Primária em Saúde; avaliação em saúde; acesso e qualidade em saúde