Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O REFLEXO DO MODELO HEGEMÔNICO DE FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA ATUAÇÃO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL FRENTE AO DESMAME VENTILATÓRIO
Priscila Menon dos Santos, Ana Lúcia Escobar

Última alteração: 2018-01-05

Resumo


O desmame ventilatório consiste na fase preparatória para remoção do paciente da ventilação mecânica invasiva, ou seja, quando ocorre a mudança do modo ventilatório controlado para o modo espontâneo, visando à interrupção do suporte invasivo. É um evento importante na evolução de pacientes críticos internados em UTI e depende da participação de toda a equipe multiprofissional e assistencial ligada ao paciente para que sejam garantidos índices e os parâmetros que proporcionem maior segurança ao processo. De acordo com a RDC-N7 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, deve ser designada uma equipe multiprofissional legalmente habilitada, que deve ser dimensionada, quantitativa e qualitativamente, de acordo com o perfil assistencial, demanda da unidade e legislação vigente. A equipe mínima, para atuação exclusiva no setor, segue critérios pré-definidos, deve conter um médico diarista, um médico plantonista e um fisioterapeuta a cada dez leitos; um enfermeiro assistencial a cada oito leitos e um técnico de enfermagem a cada dois leitos. Vale ressaltar que, além da equipe mínima, devem ser garantidos, entre vários outros, serviços de assistência e terapia nutricional, assistência farmacêutica, assistência fonoaudióloga, assistência psicológica e assistência social. Dessa forma, fica resguardado, a todo paciente internado em UTI, o direito de receber assistência integral, por meio da atuação conjunta de toda equipe multiprofissional. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi identificar se os profissionais de uma equipe multiprofissional atuantes em uma UTI do estado de Rondônia praticam a interdisciplinaridade diante do evento desmame ventilatório. Para isso, foi realizado um estudo do tipo descritivo transversal com abordagem quantitativa, do qual participaram profissionais de nível superior, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos e fonoaudiólogo. A UTI em questão possui 30 leitos, onde a maioria dos pacientes necessita de suporte ventilatório invasivo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de ética e pesquisa da Fundação Universidade Federal de Rondônia, sob o parecer nº 1.849.697 e obedeceu criteriosamente à Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa com seres humanos. Além disso, todos os voluntários assinaram ao Termo de Compromisso Livre e Esclarecido concordando em participar da pesquisa. A amostra foi composta por 39 profissionais da saúde de nível superior, em um universo de 56 profissionais. Entre os incluídos na pesquisa estão enfermeiros (31%), médicos (28%), fisioterapeutas (15%), assistentes sociais (8%), nutricionistas (5%), farmacêuticos (5%), psicólogos (5%) e fonoaudiólogo (3%) que foram contatados quando se encontravam de plantão no serviço e convidados a responder ao questionário. A média de idade dos profissionais foi de 35 ±8,7 e o tempo médio de atuação em unidade de terapia intensiva foi de 3,95 ±3,5 anos, sendo que destes, em média 2,62 ±1,1 anos são de atuação na UTI estudada. Além da coleta de dados para a caracterização da amostra, foi indagado aos participantes, por meio de um questionário online, se os mesmos acreditam que seu trabalho influencia no tempo que o paciente necessita de ventilação mecânica invasiva; se os mesmos participam do processo de desmame ventilatório dos pacientes da UTI em que atuam e, ainda, se conhecem todas as fases do evento. Entre as respostas, foi verificado que 74% dos profissionais entrevistados demonstraram estar convictos de que o seu trabalho influencia de alguma forma no tempo de permanência do paciente em ventilação mecânica. Porém, 16% responderam que acreditam que seu trabalho influencia apenas parcialmente e 10%, por sua vez, responderam que suas condutas não influenciam na variável. Por mais que não exista total convicção, por parte dos diferentes profissionais que compõem a equipe multiprofissional, de que toda assistência prestada ao paciente que se encontra em um leito de UTI influencia no desmame ventilatório, muitos estudos demonstram a estreita relação existente entre condutas assistenciais, atuação multiprofissional e desfecho clínico. Assim como comentado em uma revisão de literatura onde foram elencados os principais fatores preditivos para o insucesso do desmame ventilatório, destacando entre eles a importância da atuação da equipe multiprofissional. É realçada, ainda, a necessidade de entrosamento da equipe no processo de tomada de decisão para se iniciar o desmame em momento adequado e seguro, principalmente em se tratando de ventilação mecânica prologada. Quando perguntado diretamente a cada profissional se o mesmo participa do desmame ventilatório, ficou muito claro como os principais envolvidos são realmente os fisioterapeutas (100%), médicos (91%) e enfermeiros (50%). Os demais profissionais que afirmaram não ser sua atribuição representaram 21% da amostra, confirmando que na prática existe uma real dificuldade em associar condutas isoladas com o contexto do evento. Porém, mesmo com 91% dos médicos e 50% dos enfermeiros afirmando que participam do desmame ventilatório, apenas 45% e 25%, respectivamente, externaram conhecer as fases do evento, ao passo que 100% dos fisioterapeutas declaram conhecer todas as fases. Considera-se que a integralidade da assistência é um princípio constitucional norteador de políticas de saúde, que inclui a organização do sistema de formação profissional em todos os níveis de ensino. No entanto, há certa dificuldade em compreender o real significado do que vem a ser a integralidade. Dentro dos serviços de saúde só se é possível atingir tal aspecto diante da constituição da equipe multiprofissional que atue de maneira interdisciplinar. Porém, é necessário que cada profissional inserido na equipe conheça exatamente suas limitações e possibilidades de atuação, e mais que isso, entenda a importância de e como mudar as relações de poder entre as diversas categorias profissionais, e destas com os usuários. Sendo assim, pôde-se evidenciar neste estudo o reflexo do modelo pedagógico hegemônico de ensino, centrado em conteúdos fragmentados e focados em especialidades, o qual possui abordagem de formação extremamente tecnicista. Nesse modelo acadêmico, as disciplinas não se interpõem dificultando o processo de atuação integrada preconizada pelo SUS. De qualquer forma, observa-se que a assistência aos pacientes da UTI em questão, é prestada em todos os âmbitos, visto que, de fato, existe uma equipe multiprofissional atuante no serviço. Porém, é evidente que não existe a integração necessária entre os profissionais da equipe para que a integralidade do cuidado seja uma realidade. Isto, por si só, sugere que sejam traçadas estratégias que melhorem a integração da equipe multiprofissional, buscando a interdisciplinaridade.

Palavras-chave


Desmame do respirador; Unidades de terapia intensiva; Equipe de assistência ao paciente.