Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Hô-êi-ê-tê, o canto do Pajé: manifestações artísticas relacionadas às praticas de saúde
Nauama Dias Suruí, Chicoepab Suruí Dias, Elisama Dias, Patricia Marques da Costa

Última alteração: 2017-12-29

Resumo


O presente trabalho foi realizado junto ao povo Paiter Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro, Município de Cacoal, Rondônia, e tem como objetivo resgatar as memórias de um tempo em que as festas, os cantos, danças e assovios eram sinônimos de saúde e de cura, e mostrar a importância do reconhecimento das manifestações artísticas relacionadas às praticas de saúde. Para isso foi feita uma pesquisa bibliográfica e também utilizada à observação direta, pois faço parte da comunidade. O povo Paiter Suruí utilizava-se de diversas manifestações artística, neste texto será abordada uma delas, o Hô-êi-ê-tê, festa sagrada realizada para a cura e prevenção de doenças, os espíritos vinham da floresta para a cerimonia que duravam cinco dias e noites. O Pajé comandava a festa, puxando o canto com seu bastão de taquara enfeitado com plumas vermelhas o “naraí”. Ao som do canto a dança era realizada em duas rodas, em uma ficavam o pajé, alguns homens que seguravam taquaras enormes com palhas nas pontas onde eram incorporados os espíritos e casais que dançavam abraçados, a outra roda era a dos que tocavam as flautas. As crianças menores não participavam da festa, pois não suportariam a presença sobrenatural. Eram invocados Goanei, espíritos das águas e Goarei, espíritos do céu, que desciam sobre a aldeia trazendo cantos e histórias, cantados e contadas pelo pajé, o intermediador. Eram dias e noites de músicas vindas de outro mundo. Durante a festa o pajé abençoava a população entregando a elas uma pedra que serviria de proteção contra as doenças, no ultimo dia da festa ele soprava os doentes enquanto todos assoviavam em roda uma música de outros mundos, enquanto os espíritos retornavam para suas casas. A vida era muito bonita, diz os mais velhos com nostalgia, tudo era a festa. Após o contato a vida dos Paiter Suruí mudou drasticamente, grande parte do território dos Paiter Suruí foi invadido e devastado na época também houve uma epidemia de sarampo dizimando a população de 5.000 para 250 pessoas, com isso começaram a fazer o uso da medicina ocidental e o canto do pajé silenciou. Percebe-se um distanciamento da comunidade com as praticas tradicionais de cura, os pajés deram lugar aos agentes de saúde cuja formação não possibilita o diálogo com a medicina tradicional. A perda das manifestações artísticas e saberes de um povo significa também a perda de cultura e identidade, por isso é importante que haja reconhecimento desses saberes através de politicas publicas e a abertura de espaços para o seu fortalecimento, pois somente através do incentivos as praticas tradicionais poderia se trazer de volta, o Hô-êi-ê-tê.


Palavras-chave


Ritual; Paiter Suruí; Cura