Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A diversidade do Cuidado no SUS a partir das Residências Multiprofissionais em Saúde: aproximações com a Saúde Indígena no interior do Mato Grosso do Sul
Luisa Vilas Boas Cardoso, Janaína Mazzuchelli Pereira, Janaína Mazzuchelli Pereira, Bruna Tadeusa Genaro Martins de Oliveira, Bruna Tadeusa Genaro Martins de Oliveira

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação: Com a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS), os serviços públicos assumiram um importante papel para a formação profissional no campo da saúde, dentro de uma lógica que integra ensino, assistência, gestão e controle social.  Esse olhar ampliado para a formação foi de suma importância para a expansão dos Programas de Residências Multiprofissionais em Saúde no Brasil, que passaram a integrar as instituições de ensino e de serviço, desde o início dos anos 2000, como dispositivo de constituição de práticas baseadas nos princípios e diretrizes do SUS e nos conceitos que defendem a utilização de metodologias ativas e participativas, tendo a educação permanente como eixo pedagógico. Dentro dessa perspectiva, a Residência Multiprofissional em Saúde da Família de Sobral (RMSF)- Ceará surgiu pela compreensão da necessidade de qualificar, inicialmente, os profissionais da rede para um paradigma em saúde diferente dos modelos tradicionais de pós-graduação, tendo como ênfase a promoção da saúde, a educação popular e a educação permanente. Para a formulação desse Programa, considerou-se que o residente não podia ter uma mera função de observador e acompanhante do sistema de saúde, mas sim, ser um sujeito ativo no processo de construção formativo para o trabalho. Logo, o desenho teórico-metodológico da RMSF de Sobral organiza-se, a partir de vivências de aprendizagem, que buscam intensificar e aprimorar a prática profissional, partindo da busca de conhecimentos e experiências relevantes à Estratégia de Saúde da Família. Em uma lógica similar, o Programa de Residência Multiprofissional do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (RMS HU/UFGD) busca operar mudanças nos processos de formação e de trabalho em saúde e, com a ênfase na Atenção à Saúde Indígena, pretende formar enfermeiros, psicólogos e nutricionistas para uma atuação que contemple as especificidades destes povos, considerando que seus processos de saúde-doença estão relacionados à posse de seus territórios tradicionais, ao uso de recursos naturais, à proteção de suas crenças, modos de vida, etc. Para tal, propicia atividades teóricas e experiências de trabalho nos diferentes pontos da rede assistencial do município de Dourados – Mato Grosso do Sul e também incentiva a participação em eventos e congressos, de modo a promover a aproximação com estes povos, sua realidade e seus saberes. É característica comum aos Programas de Residência supracitados a possibilidade de realização de um mês de estágio eletivo em qualquer um dos campos que já constituem espaço de trabalho, ou ainda, em articulação com qualquer outro Programa ou ponto da rede SUS, a vivência em serviços distintos, a fim de conhecer diversas experiências de cuidado, se aproximar de tais realidades e intercambiar conhecimentos. O presente trabalho teve por objetivo relatar as reflexões de uma residente integrante da RMSF de Sobral, que optou por conhecer, ensinar e aprender sobre o fazer em saúde, realizando seu estágio eletivo na RMS HU/UFGD, na ênfase em Atenção à Saúde Indígena em territórios com etnia Guarani, Kaiowá e Terena.  Desenvolvimento: Trata-se de um relato da experiência de extensão de caráter optativo realizado por uma nutricionista residente da Residência Multiprofissional em Saúde da Família do município de Sobral – CE, na Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase na Atenção à Saúde Indígena, no Município de Dourados – MS. A vivência deu-se por 30 dias, no mês de novembro de 2017. Este estágio compreendeu os seguintes locais da rede assistencial: Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HUGD), Unidades Básicas de Saúde indígena da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), Hospital e Maternidade Indígena Porta da Esperança (HIPE), mais conhecido como Hospital da Missão e Casa de Apoio à Saúde Indígena (CASAI). Durante este período, também foi possível conhecer espaços intersetoriais, como o Centro de Referência de Assistência Social Indígena (CRAS), a Escola Municipal Intercultural Guateka – Marçal de Souza. Resultados: Com o processo de colonização, os indígenas no Mato Grosso do Sul vivem atualmente submetidos a situações de confinamento em reservas. Os conflitos por demarcação de terras tradicionais para vivência da cultura e modos de ser na perspectiva indígena, a falta de acesso á água e a direitos básicos marcam o cotidiano desses povos. Grande parte das terras são áreas degradadas pela exploração do agronegócio, impossibilitando a existência do mato, animais, água, plantas, remédios tradicionais e toda cosmologia fundamental para viver o modo de ser Guarani, Kaiowá e Terena. Ao longo dessa experiência, observou-se que a realidade da saúde indígena no município necessita de muitos avanços para contemplar o preconizado nas políticas de saúde para esses povos. Foi perceptível que as instituições de saúde que assistem a população indígena reproduzem o modelo biomédico, com poucos a nenhum espaço para a construção de uma organização em saúde pautada na interculturalidade das diferentes etnias locais. Em alguns ambientes, como o HU, essa contradição se manifestava mais intensamente, uma vez que o cuidado hospitalar apresentava-se de forma engessada e inflexível, com pouca aceitação para outros tipos de práticas de saúde, como as rezas, os cantos, o uso do fogo e das plantas medicinais, que são realizados por lideranças indígenas religiosas nomeadas de nhanderu e nhandesy. Neste espaço, também foi possível observar que os profissionais, em sua maioria não indígena, devido ao desconhecimento e a pouca aproximação com a realidade desses povos, carregavam pré-conceitos que dificultavam na criação de vínculo, na humanização do cuidado e na atenção diferenciada, tornando o trabalho mecanizado e com foco no adoecimento. No caso das instituições de saúde localizadas nas aldeias, como o Hospital da Missão e as Unidades Básicas de Saúde, apesar da existência de algumas diferenças na forma de cuidado, possivelmente pela existência, em sua maioria, de profissionais indígenas, estes espaços causaram a residente mais estranhamento do que o HU, uma vez que, por serem instituições que se aproximam da realidade indígena, esperava-se que de fato, existisse uma atenção em saúde diferenciada para os mesmos, no entanto, o que se percebeu foi que havia muita semelhança com o processo de trabalho realizado pela residente extensionista em comunidades não indígenas no interior do Ceará. As ações que apresentavam um olhar diferenciado ao cuidado em saúde com esses povos eram condutas individuais de alguns profissionais e residentes da ênfase em saúde indígena que conseguiam alguns espaços para o cuidado tradicional. A partir dessas reflexões, a busca pela vivência no território por meio das visitas e conversas com a comunidade, principalmente rezadores e lideranças locais, foi fundamental, pois permitiu que houvesse uma troca de diferentes conhecimentos e saberes que podiam fundamentar uma atenção mais próxima do que deveria ser a saúde indígena. Considerações Finais: As vivências de extensão são de extrema relevância para o processo formativo do residente, pois garantem o aprimoramento do fazer dos mesmos, dando-lhes oportunidades de interagir com experiências de trabalho diferenciadas do seu processo formativo atual. A escolha de uma residência com ênfase na saúde indígena surgiu como uma oportunidade de refletir sobre a atenção à saúde indígena no município de Dourados, sob uma perspectiva externa. A partir desse olhar conclui-se que a atenção a saúde indígena local necessita de uma construção coletiva que leve em consideração a organização desses povos, a cultura, a tradição e diversidade étnica, possibilitando assim a implementação de um modelo diferenciado.


Palavras-chave


Saúde de Populações Indígenas; Educação Continuada; Assistência à saúde