Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O FAZER INVENTIVO E CRIATIVO DO PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA NO SUS
Jaqueline Oliveira, Monique Scapinello

Última alteração: 2017-12-28

Resumo


Apresentação
Este trabalho pretende apresentar algumas pontuações, relevância, desafios, inserção e novas formas do fazer clínico e terapêutico do profissional de Psicologia nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) em interface com os fazeres de outros profissionais.   Além de provocar alguns questionamentos primeiramente naquelas que escrevem este texto, posteriormente no sujeito que lê e de afeta por este trabalho.

Desenvolvimento do trabalho
É importante destacar que este relato de experiência surgiu da inserção das autoras no Sistema Único de Saúde através de estágios, vivências e como trabalhadora de saúde. Com o decorrer cotidiano foram sendo produzidos questionamentos sobre o fazer e também o trabalho multiprofissional e a proposta de um fazer transdisciplinar em saúde.
Partimos do conceito de saúde presente na lei 8080/90 que é norteador e base para as práticas dos profissionais inseridos no SUS, em especial os psicólogos, bem como do conceito de clínica ampliada. A partir destes referenciais entendemos a saúde não apenas como a ausência de doença, mas sim como resultado das condições ambientais, sociais, relacionais e econômicas em que o sujeito está imerso. Portanto, pensar o fazer clínico e social multiprofissional e o desafio de uma prática transdisciplinar deve perpassar por esta conceitualização de saúde, levando em consideração a saúde como um fenômeno complexo e também cultural.
Na nossa formação acadêmica um dos desafios a serem atingidos é a superação do trabalho clínico a partir de um diagnóstico, testes psicológicos ou até mesmo de uma psicologia descritiva, mas sim dar voz e vez a um sujeito que surge nas entrelinhas de um discurso em que a patologia apresenta uma centralidade na vida deste usuário, é criar possibilidade do mesmo “ver-se” de uma nova forma. Com base na reflexão anterior é possível pensar uma prática transdisciplinar de trabalho, afinal, pensar nesta perspectiva é transcender as fronteiras das disciplinas e saberes de cada profissão, possibilitando na riqueza de cada encontro e conhecimento técnico formular novos conceitos, entender o sofrimento de maneira ampla, manejar as situações clínicas e de trabalho de forma coletiva, inventar novas práticas e ações no território, é na transdisciplinaridade que um novo movimento de saúde pode nascer provocando novos caminhos e intervenções em saúde.
Devemos destacar a importância dos profissionais da área da saúde em especial o psicólogo ter como perspectiva de trabalho a clínica ampliada, afinal, a mesma pretende compreender o significado do processo de adoecer e cuidar do sujeito, adquirindo assim a doença um segundo plano.  Construir a clínica de forma ampliada é romper as barreiras e as fronteiras do modelo biomédico e tradicional, é buscar novas ferramentas coletivas, afinal, o início da compreensão da complexidade do sujeito começa pela escuta do próprio usuário de forma a ligar muitos saberes.
Esta proposta de fazer saúde, valoriza as singularidades de cada usuário e não o vê por partes ou patologias. Fazer clínica ampliada, é romper fronteiras e limites no quais se esbarra o tratamento tradicional.
É imprescindível destacar que o conhecimento adquirido na academia é insuficiente diante das complexidades dos sujeitos que circulam nos serviços de saúde, novas produções culturais e modos de existência nos desafiam a ter atos criativos e se reinventar no cotidiano dos serviços de saúde.  É preciso fazer diferente, afinal, trabalhar com políticas públicas e realidade subjetiva da população brasileira é misturar saberes da vida com o saber técnico. Nesse contexto, mudanças nos modelos profissionais e de práticas são “urgentes” nos contextos apresentados, mais do que profissionais do SUS, é preciso ser agente social e produzir sentido no acolher de cada usuário e nas intervenções no território.

Resultados e/ou impactos
Os efeitos percebidos decorrentes da experiência acima citada estão envoltos no emaranhado da constante aprendizagem da prática ´psi´ no cotidiano do SUS. Ao nos propormos em transpor as fronteiras do uniprofissional e disciplinar, também somos convidadas a repensar nossas práticas ético-políticas com os usuários, tomando como partida o protagonismo e o exercício da cidadania e da subjetividade dos mesmos. Ademais, é possível notar certa resistência em determinados espaços e discursos acerca deste paradigma o qual sustentamos. Práticas asilares e pouco emancipadoras dos usuários são constantemente vividas nos serviços de saúde, muitas vezes carregadas de preconceitos e de uma dificuldade de alguns trabalhadores em abrirem-se a uma nova forma de pensamento e de fazer no âmbito coletivo. Por fim, não podemos deixar de assinalar nossa reprovação e indignação ao cenário sócio-político atual, no qual o golpe e o desmantelamento das políticas públicas e dos direitos sociais estão sendo uma constante, o que leva a uma precarização do trabalho e das possibilidades oferecidas ao sujeitos em sofrimento psíquico e/ou vulnerabilidade social.

Considerações finais
Não podemos desconsiderar que o SUS é produto de lutas sociais coletivas. Por isso para a Psicologia é relevante pensar o trabalho transdisciplinar, pois desta forma possibilita aos psicólogos consolidarem sua contribuição em um lugar de produção e invenção de conhecimentos, na gestão do trabalho e inserção na comunidade em interface com vários saberes técnicos. Podemos pensar que a transdisciplinariedade de antemão é uma realidade utópica, mas a mesma nos impulsiona em percursos a serem trilhados rumo a um Sistema Único de Saúde mais resolutivo.
Vivemos tempos em que a dimensão de tempo cronológico se esvazia, “tempos líquidos” como diria Zygmunt Bauman. Faz-se fundamental levar em consideração que o processo criativo e inventivo por vezes não opera da lógica da instantaneidade, é regido por uma duração sem prazos definidos, pela elaboração do sujeito que está implicado no tempo subjetivo, por isso as mudanças por vezes são lentas no tempo do relógio e surge de forma abrupta no tempo daquele que o produziu. Um novo desafio surge: conciliar o tempo do sujeito com o tempo do relógio que não cansa de nos atropelar. Corremos atrás de resultados satisfatórios, no entanto, precisamos levar nas nossas andanças sempre a criatividade como um recurso de potencial instrução para quando o conhecimento técnico não der conta de responder as complexidades subjetivas utilizemos da invenção coletiva como ferramenta de transformação. Dessa forma, vamos tecendo uma rede rica em significações, saberes e afetos.

 

 


Palavras-chave


Psicologia; SUS; fazer clínico.