Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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TERRITORIALIZAÇÃO COMO IMPORTANTE FERRAMENTA DO TRABALHO EM SAÚDE
Andressa Freire Salviano, Maria Juliana Vieira Lima, Maria Juliana Vieira Lima, Joyce Hilário Maranhão, Joyce Hilário Maranhão, Noeme Moreira de Andrade, Noeme Moreira de Andrade

Última alteração: 2018-01-21

Resumo


APRESENTAÇÃO

Os conceitos de território e territorialização são bastante complexos, abrangendo múltiplas dimensões e aspectos. O território é um espaço vivo em permanente construção e reconstrução, produto de uma dinâmica social onde se tencionam sujeitos sociais. Dessa forma, a concepção de território não se refere apenas a um espaço físico, mas diz respeito a relações econômicas, políticas, culturais e sociais.

Nesse contexto, a territorialização em saúde toma como base para a constituição da atenção à saúde as demandas da população, bem como suas características e o modo como organiza suas vidas e relações. É uma metodologia capaz de modificar o modelo das práticas assistenciais e de gestão, fazendo-se, portanto, importante para os processos formativos em saúde.

Da produção científica sobre territorialização em saúde, pouco se contempla esse processo no contexto hospitalar, direcionando a produção aos campos da atenção básica e às políticas de saúde comunitária. Compreende-se, porém, que o hospital pode ser considerado também um território no qual se faz importante conhecê-lo e fazer parte dele, na tentativa de ordená-lo de acordo com as necessidades e possibilidades das práticas de intervenção, a fim de adequar as ações ao público alvo; não imergindo no serviço como um agente externo, mas atuando como sujeito do próprio território.

O programa de Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará (RIS-ESP-CE) propõe a territorialização como meio de inserção nos territórios, permitindo que os profissionais residentes possam compreender a dinâmica do cenário de prática, voltando-se para os múltiplos fluxos que os constituem e os diversos atores que dão vida e mobilidade às práticas de saúde. Mais do que uma simples visita ou imersão imediata, a proposta da territorialização aponta para uma inserção gradual no cenário de prática. Dessa forma, este estudo teve como objetivo relatar a experiência e os resultados do processo de territorialização de residentes interprofissionais de um hospital pediátrico de referência do Ceará.

 

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

A territorialização foi realizada entre 09 a 30 de junho de 2014, período destinado pelo programa de residência para esta atividade, no Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Um cronograma foi organizado pela coordenadora e residentes para que se realizasse o percurso por todos os setores do hospital: unidade de urgência e emergência, ambulatório, unidades de internamento (cirurgia, neonatologia, neurologia, clínica médica, especialidades, unidades de terapia intensivas), centro pediátrico do câncer, coordenações das categorias profissionais e outros (raio X, banco de sangue, banco de leite, SAME, ouvidoria, transplante de órgãos, biblioteca, serviços gerais).

As 18 residentes se distribuíram em 6 trios e, em sistema de rodízio, conheceram todos os setores citados acima em período integral. Através de observação e visitas aos setores/serviços e diálogo com os profissionais, usuários e familiares foi possível colher informações sobre relações de poder, determinantes sociais e assistência nos cenários de práticas e a partir disso, identificar fortalezas, fragilidades, oportunidades e ameaças na instituição.

 

RESULTADOS

O HIAS é um hospital infantil terciário de referência no Ceará que acolhe a demanda sanitária relacionada a doenças graves, raras e de alta complexidade de todos os municípios do estado e de estados vizinhos da região Nordeste e, em casos excepcionais, da região Norte do país. Em 2014, o HIAS aderiu ao programa de Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará-RIS- ESP-CE, iniciando a primeira turma da ênfase em Pediatria, contemplando 18 residentes de 8 categorias profissionais da saúde, a saber: enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição, odontologia, psicologia, terapia ocupacional e serviço social. Atualmente, o hospital possui 360 leitos, dos quais 53 são de internação domiciliar, uma iniciativa pioneira de acompanhamento das crianças e do adolescente em sua residência, dando todo o suporte técnico e assistencial. Ainda, realiza anualmente cerca de 300 mil atendimentos a pacientes de 0 a 18 anos em 28 especialidades médicas e 38 serviços de apoio assistencial, dos quais se destacam as especialidades de cirurgia cardíaca, neurológica, ortopédica, deformidades (lábio leporino e fissura palatal) e oncologia.

Por ter um perfil generalista, o HIAS se subdivide em espaços geográficos bem distintos, onde cada setor demonstra a especificidade do seu espaço físico e da organização da rotina e dos procedimentos a serem executados por cada profissional, assim como das relações interpessoais construídas no cotidiano do serviço. Essa variedade de espaços contribui para que o HIAS participe da Rede de Atenção à Saúde em várias frentes, a saber: Urgência e Emergência, Materno-Infantil e Doenças Crônicas, além de ter parcerias com os demais hospitais de nível secundário e terciário.

A partir das observações e diálogos com os profissionais, pacientes e familiares, percebeu-se que há um acolhimento diferenciado e humanizado dos usuários, atitude justificada pelos profissionais por se tratar de um hospital infantil. Também há uma resolutividade das demandas e uma boa imagem do hospital pelos pais, que às vezes peregrinam por diversos serviços da rede de assistência à saúde. Além disso, o HIAS tem parcerias com ONGs e casas de apoio para pacientes e familiares dos interiores. No entanto, há um nó crítico no serviço de urgência e emergência, que acolhe uma demanda que não faz parte do perfil de atendimento, devido às fragilidades da rede, e que acaba superlotando o setor.

Percebeu-se também que há uma carência de determinadas profissões no hospital, a exemplo da psicologia e fonoaudiologia, além de uma redução de profissionais no quadro geral, consequência da deficiência no plano de cargos e carreiras no serviço público, por conseguinte, não há uma renovação e/ou aumento do número de profissionais, mas sim um aumento de profissionais organizados em cooperativas.

Dentre as fragilidades observadas, a que chamou atenção foi a falta de equipes multiprofissionais na maioria dos setores e, quando elas estão presentes, há uma dificuldade de atuação interdisciplinar, reforçado pelo modelo biomédico ainda fortemente presente na instituição.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da territorialização foi possível identificar fortalezas, fragilidades e ameaças, assim como prioridades nos cenários de práticas. Isso possibilitou uma reflexão sobre os processos vivenciados e sobre os espaços nos quais a residência poderia atuar de forma eficaz, resultando na implementação de atividades, como: grupos de cuidado ao cuidador, educação em saúde para acompanhantes e pacientes (salas de espera, grupos temáticos, atendimentos compartilhados), orientações de alta hospitalar, além de grupos de estudos para a formação das residentes e dos profissionais interessados.

Esse modo de imersão no território não passou despercebido por alguns profissionais que não estavam envolvidos com a residência, pois eles relataram a dificuldade de iniciar um trabalho sem conhecer as especificidades do setor. Um aspecto facilitador dessa imersão foi a participação efetiva da coordenadora e das preceptoras e de outras pessoas de referência do HIAS no processo de territorialização, pois as mesmas acompanharam e apresentaram as residentes nos serviços visitados como forma de promover um elo entre os profissionais e as residentes.

A territorialização, enquanto processo de aproximação e observação do campo de trabalho, possibilitou adentrar no hospital de um modo diferenciado dos demais profissionais, residentes de medicina e estudantes universitários, visto que, nos possibilitou exercer um olhar crítico sobre os fatores concernentes a rotina, procedimentos e relações interprofissionais e interpessoais dos diversos setores do hospital como daqueles relacionados aos determinantes sociais e epidemiológicos.

 

 


Palavras-chave


Territorialização; hospital; comunicação interdisciplinar