Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
AULA ENCENAÇÃO: dialogando com arte e dança, saúde mental e reforma psiquiátrica em curso técnico de enfermagem
Bianca Waylla Dionisio, Paulo Cesar de Moura Luz, Paulo Cesar de Moura Luz, Paulo Cesar de Moura Luz, Dassayeve Távora Lima, Paulo Cesar de Moura Luz, Dassayeve Távora Lima, Paulo Cesar de Moura Luz, Dassayeve Távora Lima, Paulo Cesar de Moura Luz, Dassayeve Távora Lima, Dassayeve Távora Lima, Dassayeve Távora Lima

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação: A formação do Técnico de enfermagem inicia-se na década 60 atrelada ao crescimento econômico, à industrialização e consequente aumento de consumo de serviços de saúde. Contudo só se efetivou em 1971 com a Lei de Nº 5692 que fixou as Diretrizes e Bases da Educação e definiu a obrigatoriedade da profissionalização de 2º grau. Em relação ao tempo de formação do Técnico de Enfermagem a carga horária mínima é fixada pela Resolução CNE/CEB Nº 04/99 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico que estabelece dois anos letivos com 1800 horas. É nítido em nossa região um número crescente de instituições formadoras que promovem cursos técnicos de enfermagem, garantindo o acesso rápido e descentralizado, aos indivíduos que desejam tanto ampliar sua capacitação, quanto adentrarem na área de saúde.  Em nossa realidade, a carga horaria do curso é flexibilizada, permitindo aos educandos que residem em distritos e municípios distantes do polo assistirem aulas nos finais de semana, em sua cidade. A ementa do curso é divido em três módulos, disciplinas com carga horaria de 20h a 40h, aulas práticas de 10h e estágios supervisionando de 200h em Unidade Básicas de Saúde e 400h em rede hospitalar. As aulas ocorrem uma vez por semana, no horário das 8h às 16h da tarde.   Uma das disciplina que fazem parte do currículo é a de Saúde Mental e Psiquiátrica, com 40 h de teoria e 10h de prática. A carga horaria teórica é desenvolvida em sala de aula, em quatro (4) sábados e a carga horaria prática é vivenciada através de um visita técnica a uma instituição hospitalar de referência para os indivíduos em/com sofrimento/ transtornos mentais, bem como a indivíduos usuários de álcool e outras drogas.  Venho através desse relato, descrever minha experiência como educadora da disciplina de Saúde Mental, de uma turma de técnico de enfermagem de um distrito localizado a 54 km do polo da instituição formadora.  Objetivo: Descrever uma experiência de formação de profissionais técnicos de enfermagem sobre saúde mental e reforma psiquiátrica, utilizando metodologia ativa com base na aprendizagem significativa. Desenvolvimento do trabalho:O intuito da primeira aula foi sensibilizá-los acerca da importância do cuidado humanizado, empático, respeitando à dignidade e os direitos humanos, que é tão falho em nossa sociedade quando se trata de pessoas em sofrimento mental e/ou em uso de álcool e outras drogas, uma vez que, nossas raízes estão fincadas em preconceito, estigma, discriminação e medo. Para cortar essas raízes, creio que precisamos mostrar a realidade vivenciada por milhares antes da Reforma Psiquiátrica e tristemente ainda após. Dialogamos a partir de algumas palavras/questões geradoras: ética, empatia, cidadania, desinstitucionalização, Como eu chamo essas pessoas? Como se dá a atenção em saúde a estes usuários? Foi perceptível os preconceitos, a discriminação, desde a maneira de tratamento utilizando palavras pejorativas a exclusão das pessoas em sofrimento mental e/ou em uso de álcool e outras drogas na comunidade onde residem. Prosseguimos assistindo o documentário “Holocausto Brasileiro” que mostra a barbárie hospital psiquiátrico de Barbacena em Minas Gerais discutimos o documentário. Bem como, o primeiro caso brasileiro sentenciado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (sede em Washington), do Damião Ximenes Lopes, morto em de outubro de 1999, com transtorno mental, na instituição psiquiátrica denominada Casa de Repouso Guararapes em Sobral (CE), Percebi ao final que o encontro possibilitou diversas afetações, o incomodo, e começamos os primeiros cortes nas raízes históricas e culturais. A segunda aula, prosseguimos com a ementa, apresentando os transtornos mentais, as principais drogas e sempre pontuando as demais formas de cuidado e as estratégias extra-hospitalares. A terceira aula nasce a partir do desejo de descontruir as práticas estigmatizadas e promover uma ampliação do olhar para as demais formas de cuidado. O primeiro momento foi em roda, todos descalços, sentados no chão, com música ao fundo, diversos cheiros e sentidos tomando de conta daquela sala, cheia de histórias enfileiradas. Conversamos sobre estarmos em roda, a possibilidade de olhar nos olhos a minha estranheza ao perceber rosto novos, que estiveram nas duas aulas anteriores, iniciando a crítica ao sistema tradicional da escola brasileira, onde os alunos são receptores e professores os que transferem conhecimento. Dialoguei sobre a proposta de construirmos coletivamente a aula, a partir das metodologias ativas: teatro, exposição entre outros. Com a colaboração de todos, dividi as equipes e lancei a ideia de construirmos uma linha do tempo gigante na quadro esportiva da escola, desde antes da reforma psiquiatria as redes de atenção psicossocial e conhecermos/praticarmos novas estratégias de cuidado/ práticas integrativas. Iniciamos a aula, que podemos chamar de aula encenação, com teatro sobre os cuidados ou não cuidados prestados aos pacientes institucionalizados nos manicômios antes da reforma psiquiátrica. Caminhamos pela crítica do modelo hospitalocêntrico (1978-1991), com o grito do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), os primeiros congressos e conferências nacionais de Saúde Mental, as primeiras experiências (redução de danos, implementação do CAPS, intervenção hospitalar) com grande repercussão de que a Reforma Psiquiátrica, não sendo apenas uma retórica, era possível e exequível. Passamos pelo nascimento do Sistema Único de Saúde e a entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado. Marchamos em frente visualizando o começo da implantação da rede extra-hospitalar (1992-2000), com o olhar sobre a Reforma Psiquiátrica depois da lei Nacional (2001 -2005). Percorremos cada pedaço do processo de desinstitucionalização e redução de leitos em hospitais psiquiátricos, desde o Programa Nacional de Avaliação do Sistema e o Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar Psiquiátrica no SUS, Programa de Volta para Casa, Residências Terapêuticas, Centros de Atenção Psicossocial e assim, a Rede de Atenção Psicossocial exposta no chão com fitas coloridas. Adiante, conversamos sobre os processos de luta e movimento para a conquista da cidadania e dignidade dessas pessoas. Nos interrogámos como profissionais técnicos de enfermagem podem e devem ir além de práticas que visem a medicalização e contensão da vida. Diante disso, apresentei Nise da Silveira, mulher brasileira revolucionaria, e Jung que tratam sobre arte e a loucura, demonstrei a dança terapia, através das cirandas e as músicas populares. Escutamos, dançamos, pintamos e cantamos, e com isso demonstrando que essas são estratégias de cuidado podem e devem ser levado por eles para dentro dos hospitais, para os CAPS, para as UBS enfim para a RAPS.  Os impactos estão intimamente interligados aos efeitos que o encontro afeta cada um. Considerações finais: Logo na primeira aula, foi exposto o quanto foram desvalorizados e minimizados meramente em técnicas. Senti a necessidade deles de perceberem mais empoderados e críticos em suas habilidades profissionais. Me propôs a demonstrar que podem tem escolhas, que eles podem fugir da mecanização do cuidado. Podem escolher ser ou não profissionais empáticos e éticos, continuar praticando ou não técnicas que interferem nos direitos e na dignidade das pessoas, podem escolher somente aplicar e checar medicamentos prescritos, conter e calar essas pessoas, ou podem contê-las e aplicar medicamentos sem agressão, escutá-las, cantar, pintar e dançar juntos.

 


Palavras-chave


SAÚDE MENTAL; ENFERMAGEM; FORMAÇÃO; ARTE;