Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
ENFERMAGEM E OS DETERMINANTES SOCIAIS, AMBIENTAIS E DE SAÚDE: DESCREVENDO EXPERIÊNCIA EM UMA COLÔNIA DE PESCADORES
Germana Maria da Silveira, Lívia Alves de Souza, Leidy Dayane Paiva de Abreu, Luzia Martins Pereira, Francisca Emanuela Paiva de Abreu, Ana Hirley Rodrigues Magalhães, Francisca Alanny Araújo Rocha

Última alteração: 2018-01-21

Resumo


DESENVOLVIMENTO: A saúde ambiental nos últimos 20 anos vem sendo compreendida como uma área recente no Sistema Único de Saúde (SUS) e integrante de uma Saúde Pública renovada. A saúde ambiental não só integra o movimento de promoção da saúde, mas também é de grande importância, pois retoma o debate sobre os determinantes sociais da saúde expressos nos relatórios publicados tanto pela Organização Mundial da Saúde, como pela Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde. Atividades tradicionais de extrativismo, como, por exemplo, a pesca artesanal, a agricultura de subsistência e a extração vegetal, dependem, demasiadamente, do contexto ambiental na qual estão inseridas e encontram-se fortemente condicionadas aos ecossistemas em que se reproduz o trabalho. Essas atividades sofrem maiores impactos em territórios refuncionalizados produtivamente, que assumem, por conseguinte, novas configurações socioeconômicas, características de um processo de desterritorialização. Compreender as transformações em territórios de ecossistemas marinhos implica no reconhecimento de que os processos de trabalho associados a esses esforços produtivos em particular a pesca artesanal, estão sujeitos a assumir outras funções ou configurações diferentes daquelas historicamente estabelecidas. O diagnóstico de saúde da comunidade constitui a primeira etapa do planeamento em saúde e consiste no conhecimento da comunidade através da identificação dos seus problemas, necessidades, grupos de risco e recursos existentes na área da saúde. Com esse diagnóstico, o enfermeiro consegue identificar os grupos vulneráveis que serão alvos de uma atenção prioritária em projetos de intervenção na comunidade. Neste contexto, encontra uma colônia de pescadores do distrito de Aracatiaçu, situado município de Sobral/CE, em que pescadores vêm desenvolvendo estreitas relações com a natureza, de onde extraem a subsistência de suas famílias, por conseguinte, enfrentando diversas questões relativas às condições de vida, saúde e doença. Os pescadores fazem parte dos grupos populacionais vulneráveis. Os grupos populacionais vulneráveis são aqueles que têm maior probabilidade, ou seja, maior possibilidade de desenvolver problemas de saúde do que o resto da população, apresentando frequentemente maior dificuldade no acesso aos cuidados de Saúde. Ao reconhecerem-se os aspectos que levam à maior vulnerabilidade do indivíduo, grupo ou comunidade criam-se oportunidades de intervenções de enfermagem na busca de uma cobertura mais justa, equitativa e solidária, constituindo estes alguns dos princípios éticos e deontológicos que regem a atividade profissional de enfermagem. Dentro dessa vivencia em campo, encorajando os indivíduos, famílias e grupos vulneráveis a obterem serviços de saúde, orientando para estratégias de prevenção e de promoção da saúde e ajudando a identificar potencialidade, dificuldades e recursos. Ante o exposto, pretendeu-se com esse estudo analisar os determinantes sociais, ambientais e de saúde de uma Colônia de Pescadores (Z67), distrito de Aracatiaçu, município de Sobral-CE. DESENVOLVIMENTO: Trata-se de um estudo de caso, realizado in loco na associação dos pescadores da Colônia Z67, no distrito de Aracatiaçu-Sobral/CE. Participaram do estudo 62 pescadores associados na Colônia Z67. Foi realizado entre os anos de 2015 e 2016. Durante a investigação aplicou-se entrevista semiestruturada, a fim de obter o registro de informações objetivas a respeito das condições de vida, sociais, ambientais e de saúde dos pescadores. As entrevistas e observações foram analisadas por meio da categorização com base no modelo proposte do Diagrama de Determinantes Sociais de Saúde, segundo modelo de Dalhgren e Whitehead em 1991. Para os depoimentos dos pescadores, utilizou-se o anonimato dos participantes do estudo, utilizando nome popular de peixes do nordeste nas falas mais relevantes do estudo como: Cará, Curimatã, Pescada, Traíra, Branquinha, Pacu, Bico Doce. RESULTADOS: No estudo foi possível observar que a pesca artesanal é uma atividade que ocorre de forma familiar em todo o distrito de Aracatiaçu, Sobral/CE. A pesca artesanal acontece na Colônia de Pescadores Z67, tendo em média cerca de 150 pescadores artesanais profissionais associados no munícipio de Sobral, sendo que 62 deste total estão no distrito de Aracatiaçu.  Em relação à destinação dos rejeitos, a maioria declararam, não possuírem fossas sépticas e lançar seus esgotos a céu aberto, embora o distrito seja contemplado com o projeto de saneamento básico, além de jogaram no rio as vísceras dos peixes tratados, como pode ser vista na fala de dois dos pescadores.“La em casa a gente joga toda sujeira no rio, o esgoto também cai lá. Aqui não tem saneamento básico.” (PACU).“Olha, depois que nós pega os peixes nós costuma tratar na beira do açude, porque muitos comerciantes gostam de comprar bem fresquinho, ai, nós joga dentro do rio mesmo os fatos dos peixes. Já as garrafas usadas na pescaria nós junta e dá pra Paróquia.” (BICO DOCE). As respostas levaram a perceber que os pescadores demonstraram não ter conhecimento do impacto ao lançar os dejetos no corpo hídrico, principalmente na forma que os peixes são manuseados sem nenhuma preocupação sanitária sendo depositados sobre pedras ao redor do rio e lá mesmo é feito o tratamento dos peixes. Todo esse processo ainda é corriqueiro no cotidiano das pescas, e os pescadores veem isso como natural. Com relação à tipificação dos acidentes, as maiores ocorrências estavam associadas a cortes e perfurações envolvendo peixes, cortes com anzóis nas mãos e pés, quedas e contusões na canoa, tudo isso incide em doenças na vida das pescadoras e pescadores. Como elementos estruturantes da determinação social da doença, a contaminação e poluição do corpo d’agua agudiza essa relação, tornando plausíveis os nexos causais patológicos na colônia de pescadores. Com relação às principais doenças relatadas pelos participantes, foram mais recorrentes nos depoimentos doenças como: dores na coluna, problemas de visão, ressecamento nos lábios, alergias, profundas rachaduras nos pés e até câncer de pele, dentre outras oriundas de inflamações por acidentes com apetrechos de trabalho da pesca. O estudo revelou uma enorme vulnerabilidade social da atividade da pesca artisanal. Outro fator importante identificado na pesquisa foi que há uma grande necessidade de orientações voltadas para promoção da saúde e desenvolver sensibilização socioambiental, em que foi observado que o pescado é vendido de forma inadequada sem atender aos padrões sanitários básicos de conservação e limpeza, principalmente no manuseio das vísceras que são lançadas no próprio açude. Com o desafio em tentar compreender como pescadores enfrentam as doenças, como relacionam com a saúde e quais recursos econômicos e sociais pode usar a favor de si, nos apropriamos de alguns elementos do seu cotidiano de vida, reconhecendo como os dissabores da atividade pesqueira favorecem o surgimento de doenças, nos levando a percepção da compreensão dos perigos diários, por eles enfrentados e da necessidade de trabalhar. Assim, as observações sobre os determinantes ambientais e de saúde, consistiram nas percepções e explicações realizadas enquanto uma releitura significativa do ambiente, consistindo em uma expressão de linguagem compartilhada com outros integrantes do grupo em que estão inseridos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Com o estudo foi possível observar a emergência de uma série de dados que indicam as preocupações e angustias cotidianas do grupo de pescadores ao pontuarem problemas ambientais e de saúde, relacionados com aspectos sociais, econômicos e políticos. Desejamos, com o estudo aqui apresentada e coloca um desafio às instituições, no desenvolvimento de políticas públicas especialmente orientadas às especificidades regionais dessas comunidades pesqueiras e a atuação conjunta com a organização comunitária, elaborando estratégias que lhes permitam refletir sobre as condições de meio ambiente, saúde e doença, visando transformá-la, para além da estrita lógica da sobrevivência.

Palavras-chave


Pesca; Saúde; Meio Ambiente