Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Esquizofrenia e Saúde Bucal na Atenção Básica: em busca da equidade
Luiza de Paula Sousa, Anya Pimentel Gomes Fernandes Vieira Meyer, Maria Cláudia Lima de Freitas

Última alteração: 2018-01-21

Resumo


APRESENTAÇÃO: A constituição brasileira de 1988 criou o Sistema Único de Saúde, regido pelos princípios de Universalidade, Equidade e Integralidade. Entretanto, parcelas da população ainda não têm acesso aos serviços e à resolução dos seus problemas de saúde, aqui evidenciada, saúde bucal. Dentre os preteridos, estão os indivíduos com transtornos mentais, notadamente, pessoas com esquizofrenia, doença crônica que atinge cerca de 1% da população. Este transtorno normalmente inicia-se antes dos 25 anos de idade, afetando pessoas de todas as classes sociais. Observa-se, pois, que se trata de uma grande parcela da população brasileira, boa parte dela, usuária do SUS, que deve ser assistida em todas as suas necessidades de saúde, inclusive necessidades relacionadas à saúde bucal. Os pacientes com transtornos mentais parecem ser um subgrupo dentre as pessoas com deficiência, ainda mais afetadas pelo preconceito e pela negligência, pois a própria OMS também afirma que “as pessoas que enfrentam problemas de saúde mental ou deficiências intelectuais parecem ser mais desprovidas em muitos cenários do que aquelas que enfrentam deficiências físicas ou sensoriais” (WHO, 2012). As questões relativas ao acesso aos serviços de saúde, são marcadas, de uma maneira geral, por situações conflituosas, que angustiam trabalhadores, gestores e usuários. A realidade aponta uma dificuldade ainda maior de atendimento para o grupo de pacientes com necessidades especiais, quando a busca é por Atenção em Saúde Bucal. A partir do exposto, surgem vários questionamentos: Que tipo de atenção em saúde bucal está sendo oferecido aos pacientes com transtorno mental, em especial aos com esquizofrenia, na ESF? Qual a resolutividade desta estratégia na atenção em saúde bucal para tal clientela? Qual ao preparo, formação e/ou disponibilidade dos profissionais que atuam na ESF, enquanto trabalhadores de uma proposta ordenadora do cuidado?  Qual a opinião dos pacientes e/ou cuidadores acerca destas questões? Nesta perspectiva, esta pesquisa teve como objetivo geral, averiguar o acesso à atenção em Saúde Bucal oferecida aos pacientes com esquizofrenia, no âmbito da Atenção Primária, em Fortaleza, Ceará. Seus objetivos específicos foram: Investigar o grau de satisfação de pacientes com esquizofrenia e/ou seus cuidadores, em relação ao acesso à atenção à saúde bucal oferecida na Estratégia Saúde da Família em Fortaleza – Ceará; Identificar a formação e capacidade/competência técnica autorreferida dos cirurgiões-dentistas da Estratégia Saúde da Família de Fortaleza-Ce, para o cuidado, o atendimento e a resolutividade às demandas dos pacientes com esquizofrenia. Este trabalho objetiva mostrar um recorte da dissertação produzida, a partir da pesquisa realizada, evidenciando a percepção de pessoas com esquizofrenia entrevistadas, acerca da temática explicitada.  DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: tratou-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa (entrevistas estruturadas), em duas etapas (uma com profissionais da saúde bucal e outra com pacientes/cuidadores). A coleta de dados desta fase da pesquisa deu-se entre os dias 22 de abril e 26 de agosto de 2016, sendo realizada na sala de espera do ambulatório de atendimento aos pacientes com esquizofrenia e aos pacientes do ambulatório de Psicoses de Difícil Controle (PDC) do Centro de Estudos, Aperfeiçoamento e Pesquisa do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (Hospital de Messejana), em Fortaleza- Ce. Este hospital foi escolhido, por conveniência, por ser o maior, o mais antigo e o único hospital totalmente público que presta assistência aos pacientes com transtorno mental, em Fortaleza. Um total de 100 pacientes com esquizofrenia e/ou cuidadores foram entrevistados. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), tendo a pesquisa sido aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Secretaria Estadual de Saúde do Ceará (SESA), sob o parecer nº 1774.361, de 10 de dezembro de 2015, seguindo suas recomendações. Os aspectos éticos da pesquisa foram cumpridos de acordo com a resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde. Os dados foram analisados na base eletrônica STATA 14.0. RESULTADOS: Apesar de terem sido pesquisados 100 pacientes, nem todos responderam a todas as perguntas. Destacou-se, dos dados obtidos na pesquisa, as seguintes informações: a idade média dos pacientes pesquisados é de 35,7 anos (DP±11,7); 67% são do sexo masculino; 60% se disseram pardas; 50 (50%) dos entrevistados são católicos; são nascidas na capital, 74,7% dos entrevistados; a imensa maioria dos pacientes, 84 (84%), é solteira e a média do número de filhos é de 0,5 filho por pessoa, com uma variação de zero a sete (DP± 1,1). Trinta e três deles têm o ensino fundamental incompleto, 39 % afirmam ter alguma profissão e 57 pessoas declararam renda de um salário mínimo. Noventa e cinco por cento já se consultou com dentista pelo menos uma vez na vida; 58 pessoas já procuraram o serviço de atenção primária perto de casa, para tratamento odontológico, mas só 50% destes (29 indivíduos) já conseguiu atendimento. A maior parte dos pacientes (88,7%) gostaria de realizar seu tratamento perto de casa. Boa parte dos pesquisados, 47,4% (n=97) disseram nunca ter tido qualquer informação, acerca do serviço de saúde bucal, dada pelo Agente Comunitário de Saúde; 34 (35%) pessoas afirmaram não conhecer este profissional de saúde. Os pacientes/cuidadores, 82,2% (79 de 96 que responderam à pergunta) não percebem o diagnóstico de esquizofrenia como um impedimento para serem atendidos na atenção primária. Os pacientes e seus cuidadores atribuíram uma pontuação baixa – 5,0 – quando questionados sobre a resolutividade e a atenção dada, por equipes saúde bucal na atenção básica. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este estudo apresenta a realidade da atenção em saúde bucal oferecida aos pacientes com esquizofrenia, sob a ótica dos que foram pesquisados. Reflete a qualidade do serviço de saúde bucal ofertado, para estes indivíduos, na Estratégia Saúde da Família de um município de grande porte (quinta capital do Brasil), e suas evidências poderão ser utilizadas na orientação de novas investigações com o intuito de melhorar a qualidade dessa atenção em circunstâncias semelhantes, sabendo-se do desafio que é ofertar bons serviços de saúde, respeitando-se o princípio da equidade do Sistema Único de Saúde. Sabe-se, também, que o conhecimento destes fatos é de extrema importância para auxiliar no adequado planejamento e condução de tratamentos direcionados aos pacientes com esquizofrenia, que vale lembrar, afeta cerca de 1% de toda a população mundial. É necessário, portanto, que haja uma reavaliação das práticas de saúde vigentes, no que tange ao atendimento de indivíduos com transtornos mentais, em especial ao paciente com esquizofrenia. Uma reorientação se faz necessária, no sentido de oferecer uma atenção integral, com base no “olhar ampliado” dos determinantes sociais de saúde e pautada em ações de promoção de saúde geral. Os dados apontam, pois, para necessidade de melhorias no acesso e resolutividade da atenção em saúde bucal de pacientes com esquizofrenia. Para tanto, as Equipes de Saúde Bucal precisam ser melhor capacitadas, com a garantia de insumos e equipamentos indispensáveis ao atendimento desta e de outras populações de risco.

 


Palavras-chave


Saúde Bucal; Esquizofrenia; Atenção Primária