Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Qualidade de Vida do Transplantado Renal – Uso do Kidney Disease Quality of Life – Short Form
Eliza Dayanne de Oliveira Cordeiro, Gilsirene Scantelbury de Almeida

Última alteração: 2018-01-02

Resumo


Apresentação: A Qualidade de Vida da população geral tem sido uma grande preocupação dos pesquisadores na área da saúde. Qualidade de vida é utilizada como auxílio na decisão por tratamentos, preditor de prognósticos, na mensuração de resultados de intervenções, entre outros. O transplante renal vem sendo reconhecido pela medicina moderna como um avanço no tratamento da Insuficiência Renal Crônica irreversível, propiciando aos pacientes mais anos de vida com alta qualidade. Medir essa qualidade de vida após transplante pode servir como estratégia de mensuração da eficácia do tratamento e apontar as dimensões afetadas que ainda precisam de atenção, evidenciando a melhoria da qualidade de vida em pessoas que puderam receber o transplante renal; pode ainda, estimular as autoridades políticas ao aumento do investimento em transplantes e concomitantemente a população geral a promover e maximizar a doação de órgãos. O objetivo desse trabalho foi fazer um levantamento na literatura científica das produções que utilizaram o questionário Kidney Disease Quality of Life Short Form em pacientes transplantados renais, sintetizando seus resultados, eficácia e contribuições relevantes. Desenvolvimento: Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura. Realizada no mês de outubro de 2017, essa revisão partiu da seguinte questão norteadora: “Quais a evidências científicas do uso do instrumento Kidney Disease Quality of Life Short Form em pacientes transplantados renais?”. Utilizamos o descritor controlado: transplante (transplantation) pertencente aos Descritores em Ciências das Saúde e ao Medical Subject Headings, a palavra-chave “KDQOL” e o operador booleano “AND nas seguintes bases de dados: PubMed, LILACS, CINAHL, SCOPUS, Web of Science e Medline. Resultados: Após critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 17 artigos científicos originais. Desses, 16 foram publicados em inglês e um em português. Os estudos foram organizados, sintetizados e comparados; ao todo foram definidas quatro categorias, demonstrando situações diversas em que o instrumento específico vem sendo utilizado em transplantados renais: “I -  Validação de instrumento”, “II- qualidade de vida em doadores e receptores”, “III- Comparação entre transplante e diálise” e “IV- qualidade de vida em transplantados”.

I – VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTO –foram incluídos dois (12%) estudos realizados para validar o instrumento em questão, incluindo a população de transplantados renais. Um desses estudos, após traduzir e adaptar o instrumento, testou-o em pacientes dialíticos e em transplantados para comparação, concluindo que o questionário específico é uma ferramenta confiável e válida para avaliar a qualidade de vida de pacientes transplantados renais e também para comparar a qualidade de vida entre diferentes populações de pacientes com insuficiência renal crônica. O segundo estudo determinou a validade e confiabilidade na versão chinesa cantonense do instrumento, também utilizando pacientes em diálise e transplantados. Apesar de concluir que o instrumento traduzido foi confiável, indicou testes adicionais para determinar a validade da escala de saúde física, com amostras maiores.

II – QUALIDADE DE VIDA EM DOADORES E RECEPTORES – Nessa categoria foram incluídos dois (12%) estudos que mensuravam a qualidade de vida através do Kidney Disease Quality of Life Short Form em doadores vivos e receptores de transplante renal. No primeiro estudo foram incluídos 30 receptores de rim e seus doadores-vivos. Após análise dos dados, todos os participantes apresentaram um escore maior de qualidade de vida pós-transplante comparado ao escore pré-transplante, sendo essa diferença maior nos receptores. Para os doadores, ver o sofrimento de um ente querido é traumático. Portanto, ser capaz de ajudá-lo a alcançar uma vida normal torna-se extremamente gratificante; devido a isso, o processo de transplante repercutiu de maneira positiva na sua qualidade de vida também. Já no segundo estudo, além dos receptores e doadores, também foram incluídos indivíduos saudáveis (grupo controle). Os escores de qualidade de vida tanto de doadores quanto de receptores foram semelhantes ao do grupo controle, superando-os em alguns domínios. Os resultados dos dois estudos, corroboram que o transplante renal é vantajoso para a qualidade de vida tanto de receptores quando de doadores familiares, estimulando a doação do órgão.

III – COMPARAÇÃO ENTRE TRANSPLANTE E DIÁLISE – Sete (41%) estudos utilizaram o questionário específico para comparar a qualidade de vida de pacientes transplantados renais com a qualidade de vida de pacientes em hemodiálise ou diálise peritoneal. Dois artigos dessa categoria representam resultados de um mesmo estudo de coorte realizado na Noruega, onde mais de 50% dos participantes morreram entre os 55 meses de seguimento, antes de alcançar o transplante, e 11,62% morreram após a realização do mesmo. Todos os estudos dessa categoria evidenciaram maior qualidade de vida em transplantados quando em comparação com dialíticos. Um dos estudos demonstrou que a qualidade de vida de doentes renais crônicos Indo-Asiáticos é pior que a de europeus brancos, mesmo após o transplante. Outro estudo demonstrou que pacientes em diálise peritoneal tem melhor qualidade de vida do que pacientes em hemodiálise, perdendo ambos para os pacientes transplantados. Um dos estudos indicou a diminuição do domínio “interação social” após transplante, e demonstrou a associação da qualidade de vida pré-transplante à sobrevida e à função do enxerto pós-transplante. Outro estudo não encontrou aproximação da qualidade de vida de transplantados com a da população em geral.

IV – QUALIDADE DE VIDA EM TRANSPLANTADOS – foram incluídos 7 (41%) estudos que mensuravam a qualidade de vida em transplantados renais demonstrando associação entre fatores diversos e alterações nos escores e dimensões do instrumento específico. Os artigos que compuseram essa categoria demonstraram: a associação de anemia com a qualidade de vida em transplantados renais; associação da qualidade de vida e resultados clínicos a longo prazo numa coorte prevalente de receptores de transplante renal; associação da qualidade de vida e a função do enxerto em transplantados renais; relação entre o estado nutricional e inflamatório e a qualidade de vida em receptores de transplante renal. Também compararam: a qualidade de vida de pacientes com Diabetes Mellitus e Insuficiência Renal Crônica submetidos ao transplante de rim isolado com pacientes submetidos ao transplante de pâncreas e rim simultâneo e impacto do protocolo de tolerância versus regimes imunossupressores tradicionais sobre a qualidade de vida de transplantados renais.

Considerações Finais: Após a leitura e síntese dos trabalhos encontrados, podemos observar uma crescente e variável utilização do instrumento Kidney Disease Quality of Life Short Form em pacientes transplantados renais, tanto isoladamente como em comparação com outros grupos de doentes renais crônicos, inclusive comparando-os com a população geral saudável. Observamos também que quando o transplante renal é proveniente de um doador vivo familiar, a melhora da qualidade de vida é experimentada tanto por doadores quanto receptores. Espera-se com isso que mais pessoas se sintam estimuladas a doar órgãos, que haja investimento em políticas públicas destinadas a esse grupo social, além da ampliação do credenciamento de centros e equipes transplantadoras para atender este público. Como pontos negativos nesta revisão, podemos destacar a carência de publicações nacionais na área de saúde renal e qualidade de vida. Deve-se buscar, através de novos estudos, os fatores relacionados a qualidade de vida antes e após o transplante renal, para que atenção seja dada aos aspectos relevantes e potencialmente capazes de elevar a qualidade de vida dessa clientela, igualando ou assemelhando-a à população geral saudável.


Palavras-chave


Transplante Renal; Qualidade de Vida