Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A ENFERMAGEM CUIDANDO DA PRESSÃO ARTERIAL DOS RIBEIRINHOS DA AMAZÔNIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
João Enivaldo Soares de Melo Junior, Andréia Pessoa da Cruz, Fábio Pereira Soares

Última alteração: 2017-12-21

Resumo


APRESENTAÇÃO

O referente trabalho consiste no relato da experiência vivenciada por acadêmicos do curso de enfermagem da Universidade Federal do Pará, juntos a docente e orientadora responsável pelo projeto de extensão “Rio Acima, Rio Abaixo: A Enfermagem Cuidando da Pressão Arterial dos Ribeirinhos da Amazônia”. Tal projeto tem o intuito de levar assistência de enfermagem e promover educação em saúde sobre a hipertensão arterial sistêmica, para as comunidades ribeirinhas da região amazônica. Essa doença crônica, ainda que mostre respostas eficientes ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso, permanece sendo um desafio para a saúde pública, haja vista a sua alta prevalência na população mundial e altos custos médicos e socioeconômicos. O projeto também busca coletar informações através de formulários aplicados durante as consultas de enfermagem para o levantamento de dados epidemiológicos da patologia.

As viagens ocorrem quinzenalmente e são organizadas pelo programa Luz na Amazônia, o qual possui parceria entre a UFPA e a SBB (Sociedade Bíblica Brasileira). Os trabalhos desenvolvidos no projeto são oferecidos no próprio barco-hospital, denominado Luz na Amazônia III, que oferece desde atendimentos de emergência até cirurgias de pequeno porte. Logo, a partir da vivencia dos extensionistas estes vem, por meio desse relato, ressaltar a importância do desenvolvimento de projetos que ofereçam qualidade de vida as comunidades em vulnerabilidade e precariedade, como os ribeirinhos. Ademais, evidenciar o motivo de utilizar a educação em saúde para a prevenção e tratamento de doenças crônicas como a HAS também é o foco desse relato, pois mesmo sendo assintomática, na maioria das vezes, é capaz de comprometer o organismo como um todo, levando indivíduos a adquirirem outras doenças ainda mais graves.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Os envolvidos no projeto de extensão que fazem parte dessa experiência, são 2 acadêmicos do curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem da Universidade Federal do Pará, do 3° e 9° período, sob orientação da docente da atividade curricular “Introdução à Enfermagem” e coordenadora do projeto citado. As viagens acontecem de 15 em 15 dias, na cidade de Belém do Pará, no rio Guamá e são realizadas em um barco-hospital que oferece estrutura completa para os mais diversos atendimentos de saúde, contemplando o trabalho da equipe multiprofissional de saúde, haja vista a presença de profissionais e acadêmicos de outros cursos como farmácia, medicina, nutrição, fisioterapia, entre outros.

O atendimento da equipe de enfermagem é dividido em três momentos, sendo respectivamente: apresentação dos discentes e da docente, a aplicação da dinâmica denominada “Quiz HIPERDIA” e a consulta de enfermagem junto com a aplicação do formulário da coleta de dados. No primeiro momento todos nós somos apresentados aos participantes cadastrados no programa Luz na Amazônia que foram admitidos ao barco para atendimento, falamos de forma geral o objetivo do projeto, bem como ele funciona. Em seguida, buscamos saber o conhecimento desses ribeirinhos em relação à hipertensão arterial sistêmica e o diabetes mellitus (geralmente associada à hipertensão) para instigar a participação de todos.

O segundo momento é definido pela aplicação do “Quiz HIPERDIA”, esse consiste em uma dinâmica com perguntas e respostas relacionadas aos conceitos, sinais e sintomas, tratamento e prevenção da hipertensão e diabetes. Para a o desenvolvimento da dinâmica são utilizadas tecnologias educativas, dentre elas está o quadro feito de cartaz contendo as perguntas do quiz e o dado gigante feito de papelão. Nós pedimos que alguém se manifeste para jogar o dado e ver qual número foi sorteado, em seguida retiramos a placa com o respectivo número que está cobrindo a pergunta do quadro e lemos em voz alta para todos os envolvidos. Posteriormente, solicitamos que alguém se manifeste para responder com seu conhecimento adquirido no cotidiano sobre a doença, independente de está correto ou não a sua resposta. Ao final de cada resposta ocorre a intervenção dos acadêmicos para acrescentar alguma informação pendente ou corrigir, se houver necessidade, com base no conhecimento científico utilizando uma linguagem acessível, clara e objetiva.

No terceiro momento acontecem as consultas de enfermagem conduzidas pelos acadêmicos. Primeiramente aplica-se um questionário baseado na anamnese em relação aos hábitos alimentares, exercícios físicos diários, histórico de doenças pessoais e familiares, etilismo e tabagismo. A partir das respostas dos usuários são dadas orientações voltadas para hábitos saudáveis que proporcionem qualidade de vida tanto aos que já possuem hipertensão ou diabetes, quanto aos que não possuem. Em seguida é realizada a aferição dos sinais vitais (pressão arterial, temperatura, pulso e respiração) e medidas antropométricas (peso, altura e índice de massa corpórea) para verificar se estão dentro dos padrões de normalidade ou não, sendo necessário fazer encaminhamentos para o atendimento médico nos casos de alteração. Por fim, perguntamos se há alguma queixa atual dos pacientes para então intervimos com a assistência dos cuidados de enfermagem, garantindo conforto e bem-estar, seja físico e/ou mental. Após isso, a família ribeirinha é encaminhada aos demais serviços oferecidos pelos outros cursos envolvidos no programa Luz na Amazônia.

RESULTADOS E/OU IMPACTOS

Foi evidente nos momentos da apresentação entre os acadêmicos e os ribeirinhos a proporção de um ambiente interativo e descontraído, bem como importante para adentrar na ação educativa propriamente dita, pois muitas vezes há um receio da comunidade ribeirinha em participar. Durante a dinâmica “Quiz HIPERDIA”, houve a participação ativa da maioria dos usuários independente da faixa etária, graças ao incentivo oferecido a eles em responderem as perguntas, independente de estarem acertando ou errando. Isso foi possível através da segurança que passamos em relação ao conhecimento empírico que todos eles já possuíam. Além disso, houve interesse de grande parte dos usuários em tirar dúvidas sobre o diabetes e a hipertensão no momento da intervenção acadêmica ao final de cada resposta. De forma geral conseguimos perceber o entendimento básico dos envolvidos sobre as patologias.

Na consulta de enfermagem, apresentamos um bom desempenho durante os procedimentos técnicos necessários para verificar os sinais vitais e na orientação dadas para adesão de hábitos saudáveis. Alguns usuários relataram sinais e sintomas característicos das referidas doenças, apresentado ou não alterações nos padrões de normalidade, precisando ser encaminhados para a consulta médica. Outros já eram diagnosticados como diabéticos ou hipertensos e seguiam corretamente com o tratamento, porém os que não seguiam foram orientados sobre a importância da adesão do tratamento. É válido ressaltar que mesmo os usuários sem alterações dos sinais vitais ou queixas clínicas recebiam orientações relacionadas a prevenção da hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo das viagens proporcionadas pelo projeto percebe-se o quanto é fundamental a construção de trabalhos como esses, haja vista a garantia da promoção da saúde por meio da educação em saúde e assistência de enfermagem às comunidades que se encontram em vulnerabilidade, nesse caso os ribeirinhos da região amazônica. Experiências como essas promovem o conhecimento teórico-prático necessário ao longo da jornada acadêmica dos alunos de enfermagem, para estes futuramente se tornarem profissionais capacitados no atendimento de populações que vivem em condições precárias, com poucos recursos financeiros e sem nenhum amparo à saúde. Portanto, a assistência humanizada da equipe multiprofissional possibilita transformar a realidade de muitas pessoas, basta haver envolvimento, dedicação e preparação de acadêmicos e profissionais da área da saúde.

Palavras-chave


Hipertensão; Promoção da Saúde; Enfermagem