Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A teoria transcultural e sua aplicação na educação permanente de ACS’s: Um relato de experiência.
Eliza Paixão da Silva, Alessandra de Cássia Lobato Dias, Geovana Brito Nascimento, Laina Carolina de Souza Araújo, Leilane Almeida de Morais, Nicole Pinheiro Lobato, Marcos José Risuenho Brito Silva, Lidiane Assunção de Vasconcelos

Última alteração: 2017-12-29

Resumo


APRESENTAÇÃO: A Teoria da Diversidade e a Universalidade do Cuidado Cultural de Madeleine Leininger, comumente chamada “Teoria transcultural” trata dos cuidados de enfermagem proporcionados aos pacientes de acordo com cada uma de suas especificidades culturais. Fundamentada em conhecimentos de enfermagem e preceitos de antropologia, inclui manifestações do cuidado, de crenças e valores, objetivando um cuidado de enfermagem efetivo e satisfatório. Para que ocorra esta efetividade no cuidado, é necessário que os profissionais estejam preparados e sendo o Agente Comunitário de Saúde (ACS) o principal elo entre a Unidade Básica de Saúde (UBS) e a comunidade, o mesmo necessita de constantes capacitações. Utiliza-se na Atenção Básica a estratégia da Educação Permanente, para possibilitar o desenvolvimento constante da equipe da UBS e de suas competências como equipe generalista, sendo que esta educação permanente ocorre por meio dos profissionais da unidade, para os outros profissionais que também a compõe. Este estudo objetivou relatar a experiência de acadêmicas de enfermagem no campo da educação permanente de ACS’s, para aplicação da teoria transcultural utilizando-se de metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Foi utilizada a metodologia da problematização, proposta por Berbel por meio do Arco de Maguerez, que se constitui em cinco etapas. A primeira etapa - observação da realidade: O grupo de acadêmicas visitou uma UBS da Região Metropolitana de Belém no momento da realização de uma ação do Programa Hiper-dia com os moradores daquele território, na qual ocorreu uma roda de conversa com os mesmos enquanto aguardavam o atendimento. A segunda etapa – Levantamento de pontos-chave: A partir dos relatos dos usuários o grupo percebeu que elementos culturais relacionados ao tratamento de Diabetes Mellitus (DM) tipo II e de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) eram muito frequentes naquela comunidade, além disso, demonstraram uma falta de informação relacionada a aspectos das doenças, por exemplo, como elas evoluem dentro do organismo e os agravos que poderiam ser causados. A terceira etapa – Teorização: Utilizando-se dos pontos encontrados, o grupo buscou um referencial teórico acerca da Teoria Transcultural, da organização da Atenção Básica, do programa hiper-dia e dos modelos de educação e a partir disso constatou-se que a falta de orientação dos pacientes poderia ser advinda de vários fatores, destacando-se dois: 1) A possibilidade de os ACS’s daquela comunidade não estarem repassando as orientações necessárias aos usuários, por falta de planejamento da UBS e/ou de Educação Permanente aos mesmos; 2) Os ACS’s estarem repassando as informações, no entanto, os usuários não estarem dando importância a elas, pelas dificuldades de seguir algumas orientações ou por elas interferirem diretamente nos seus preceitos culturais. A quarta etapa – Hipóteses de Solução: Munidos desse referencial teórico, o grupo elaborou um questionário aberto contendo sete perguntas, as quais perpassavam em aspectos como a orientação aos pacientes, que foi repassado para as ACS’s da UBS, para uma investigação dos pontos encontrados na teorização e a partir dela elaborar uma proposta de intervenção eficaz. A quinta etapa – Retorno a realidade: Foi organizada uma ação de intervenção baseada na proposta de educação permanente com os ACS’s da UBS, composta por uma roda de conversa acerca das dificuldades de orientação aos usuários do programa hiper-dia, além de uma dinâmica intitulada “Árvore dos problemas” na qual colamos a figura de uma árvore na parede e os problemas encontrados durante a roda de conversa foram colocados como as raízes da árvore, a partir disso começamos a buscar soluções para esse problema, as quais foram colocadas como os galhos da árvore. RESULTADOS E IMPACTOS: Na roda de conversa juntamente com a dinâmica “árvore dos problemas” identificam-se problemáticas e se propõe soluções para as mesmas. Foram identificados como problemas a falta de autocuidado, o sedentarismo, a má alimentação, a baixa adesão ao tratamento, o etilismo, o tabagismo e as relações familiares instáveis e como propostas de solução a divulgação dos serviços de saúde, mais abordagens criativas, realização de ações preventivas contra o tabagismo e o etilismo, o apoio da gestão e a realização de ações sociais para a comunidade. As abordagens criativas citadas se constituem em metodologias que poderiam facilitar a orientação aos pacientes, de forma que eles possam compreender melhor as informações passadas, além da utilização da troca de experiências como em rodas de conversa, visto que, as práticas culturais da população podem ser de grande contribuição para o atendimento efetivo dos profissionais ACS’s. A utilização da roda de conversa se mostrou uma estratégia eficiente, pois todos os ACS’s tiveram oportunidade de participar e expor suas vivências, bem como as acadêmicas participantes da roda, facilitando assim a troca de experiências, a qual se identifica como uma metodologia eficaz, visto que as vivências das ACS’s ajudam na formação das acadêmicas e as vivências das acadêmicas contribuem para o trabalho das ACS’s. CONSIDERAÇÃOES FINAIS: Este estudo teve grande relevância, pois, por meio dele, pôde-se refletir o quanto é árduo promover mudanças, além de ressaltar que sempre há a influência de hábitos e culturas que não podem ser modificados radicalmente, seja referente à educação, a opinião, a hábitos, a pontos de vistas, etc. Esta mudança de estilo de vida deve ser um trabalho lento e gradual, com mudanças que tenham a possibilidade de serem realizadas. Ademais, cada tipo de cultura possui um tipo diferente de conceito de saúde e cuidado, cabendo aos profissionais conseguir se adequar aos conceitos das culturas em que estão inseridos, o que pode ocorrer por meio da busca ativa por informações, da utilização da educação permanente e da separação entre os conceitos próprios e os conceitos dos usuários, conseguindo compreender que não existe cultura mais correta que a outra, tendo cada uma suas próprias peculiaridades. Outrossim, a realização dessas atividades contribuiu para a formação das acadêmicas, que como futuras enfermeiras poderão trabalhar na estruturação e planejamento de educação permanente nas UBS’s, utilizando-se de propostas criativas e que possam promover mudanças validas e produtivas tanto na unidade, quanto no território adscrito. O fortalecimento de tais competências estimula um olhar diferenciado para os usuários, os quais são seres humanos, que possuem particularidades, individualidades, culturas, que devem ser respeitadas e compreendidas para que passem a ter um atendimento de saúde integral, universal e equânime.


Palavras-chave


Educação Permanente; Atenção Básica; Agente Comunitário de Saúde; Enfermagem Transcultural