Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Arte para construção da identidade: experiência no Estado do Ceará
Lidiane Nogueira Rebouças, Alessandra Pimentel de Sousa, Aline Bezerra Oliveira Câncio, Natália Alexandre Ferreira, John Wesley Delfino Lima, Ana Paula Costa da Silva, Francisca Ozanira Torres Pinto de Aquino, Fabiane do Amaral Gubert

Última alteração: 2017-12-29

Resumo


Apresentação: Estratégias realizadas com intuito horizontal, com momentos de diálogos em que todos aprendem e ensinam, devem ser reforçadas e incentivadas nas políticas públicas. O círculo de cultura promove o ensino e a aprendizagem com debate sobre questões centrais do cotidiano como trabalho, cidadania, alimentação, saúde, liberdade, felicidade, valores éticos, política, economia, direitos sociais, espiritualidade, cultura, entre outros. Este é um exercício pedagógico proposto por Paulo Freire e ocorre através de formação em círculo porque todos se olham e se vêem, não havendo um professor mas um animador/facilitador das discussões proporcionando permanente incentivo a momentos de diálogo. Essa estratégia pode ser aplicada em qualquer tipo de promoção coletiva que incentive processos educativos, assumidamente, com postura de vida participativa, bem como em qualquer ambiente (escola, empresa, cursos, grupos, etc). Neste contexto, a educação biocêntrica se assemelha com essa proposta porque tem como objetivo semear o processo de formação humana desenvolvendo potenciais criativos, liberdade intelectual e singularidade das aptidões, tendo como fundamento o respeito a todas as formas de vida e transformação social. Torna-se importante que as pessoas não fortaleçam contextos de violência e de valores alienados, mas sim o reforço de atitudes positivas, como partilhas, companheirismo, respeito ao próximo e à natureza. Assim, tem-se como objetivo apresentar uma das ações realizadas pelo Projeto Corre pra Vida voltadas ao fortalecimento dos indivíduos quanto a valores, criatividade, construção de vínculos, reflexões, afetividade, trocas de experiências, entre outros e como a arte pode contribuir para uma melhor compreensão dos processos da construção da identidade. Desenvolvimento do trabalho: Rodas de conversa com círculo de cultura baseado na educação biocêntrica acontecem quinzenalmente no Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua - Centro POP, localizado no Centro de Fortaleza/CE. Os profissionais do Projeto Corre pra Vida, que busca favorecer o cuidado à saúde, o autocuidado, o resgate à cidadania, a promoção de direitos e a reinserção social das pessoas em situação de rua ou em outros contextos de vulnerabilidade social que faz uso de drogas, realizam estas rodas de conversa para trabalhar o potencial de vida do público. O círculo inicia com a tematização, escolhida pelo próprio usuário, que podem ser abordadas questões referentes à prática social para o exercício da cidadania, na perspectiva da participação política, buscando soluções para problemas do mundo. Já foram realizadas abordagens sobre: potenciais de vida, solidariedade, preconceito, prostituição, corrupção, etc. Torna-se importante não impor um método pronto e idealizado, sendo fundamental que as propostas surjam da realidade enfrentada no dia a dia e sejam construídas singularmente, em conjunto. Dessa forma, as propostas tornam-se mais adequadas e sólidas. Após a escolha do tema, o facilitador poderá fazer uso de vídeo, música, gravuras, para fazer relação com a temática, enfatizando também a redução de riscos para a sua saúde e vida. Ao final do encontro é feita uma obra síntese (imagem) e encerra com roda de integração e apresentação da síntese criativa e escolha do tema para o próximo encontro. Tais atividades tornam-se importantes por fugirem da educação tradicional com padronização de pessoas, valores competitivos, poder, auto-suficiência, dicotomias culturais, etc. Elas buscam reforçar a liberdade do ser criativo, proporcionar a integração, a solidariedade, a construção coletiva, evitar a fragmentação; possibilitando à população uma reaprendizagem do cuidado a ter com a vida, em todas as suas manifestações, estimulando a proteção e cuidado com a natureza, valorizando a inteligência afetiva, as sensações corporais, a expressão. Foram realizados até o momento, quatro círculos de cultura envolvendo aproximadamente 40 pessoas em situação de rua. Os participantes tiveram oportunidade de vivenciar experiência que despertaram neles conceitos sobre arte e suas vivências, com base no respeito a individualidade de cada um e na percepção que produzem da diversidade, na busca da interação e coletividade. É uma forma de entrar em contato consigo mesmo e com o grupo do qual todos fazem parte, abrindo espaço para uma reflexão crítica. O prazer dos participantes em realizar as atividades é observado nas expressões agradáveis, especialmente quando a abordagem é sobre algo novo proporcionando aprendizado para acréscimo às suas vivências. A valorização do resultado por meio de exposição e discussão sobre a produção é essencial para o processo, isso reforça a positividade da autoestima. Atividades de arte e educação são emancipatórias e inclusivas. A equipe multiprofissional que realiza essa atividade busca a compreensão e valorização das potencialidades e particularidades dos indivíduos envolvidos, dar suporte e orientação para os mesmos, fortalecendo assim o indivíduo para superação das suas dificuldades, bem como reduzir seus danos quanto ao uso de drogas. Cabe ao profissional da equipe valorizar o repertório e identidade de cada indivíduo, criando situações que convoquem a sua participação ativa e a construção da autonomia dos sujeitos envolvidos. A arte é uma ferramenta que busca aproximar e valorizar diferentes indivíduos, grupos e culturas, ou seja, um meio que promove a expressão e troca de saberes, experiências de vida e pontos de vista. O trabalho com arte pode aproximar as pessoas ao valorizar a sensibilidade, a memória e o lúdico, torna-se possível lançar um olhar mais cuidadoso para o cotidiano, ressignificar a própria experiência e a do outro, dar espaço para o criativo, surpreendente e diferente, resgatar modos de pensar, agir e se relacionar. A arte é uma área que se interliga com outras áreas do conhecimento, podendo render bons frutos com a interdisciplinaridade. Considerações Finais: Ações como as realizadas pelo Projeto Corre pra Arte levam o usuário a construir, experimentar, externalizar e refletir, buscando alternativas de convivência, troca de experiências, cultura e lazer. Envolvem características imprescindíveis ao desenvolvimento do indivíduo e valorizam sua emoção, razão, afetividade, cognição, intuição e racionalidade, apostando nas potencialidades individuais e coletivas, favorecendo o processo de ressocialização do usuário. Com as ações percebe-se que os participantes alcançam um maior refinamento em sua autopercepção e na concepção de arte, bem como em suas expressões, proporcionando uma reflexão mínima sobre sua condição de ser/estar no mundo e uma percepção da relação com o que o cerca. O ser humano precisa conhecer a si próprio, para conviver bem em grupo, dominar suas emoções, manter-se em equilíbrio e lidar com a diversidade. Então ações voltadas a arte buscam envolver a todos do grupo, dando-lhes a oportunidade de desvendar suas características próprias e aprender a se valorizar.

Palavras-chave


acolhimento; drogas; arte