Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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MÉTODO CANGURU COMO INICIATIVA DE PROMOÇÃO E ASSISTÊNCIA À SAÚDE NO CUIDADO MATERNO INFANTIL
Andressa Freire Salviano, Daniela Vasconcelos de Azevedo, Paulo César de Almeida

Última alteração: 2018-01-21

Resumo


APRESENTAÇÃO

O Método Canguru (MC), inicialmente idealizado na Colômbia e trazido para o Brasil na década de 90, é indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um modelo de assistência perinatal voltado para o cuidado humanizado do recém-nascido (RN) prematuro e de baixo peso como alternativa ao cuidado convencional, promovendo benefícios à criança, à família e aos serviços de saúde.

O MC é realizado em três etapas. A primeira tem início durante o pré-natal da gestação de alto risco e segue com a internação do RN na Unidade de Terapia Neonatal (UTIN). A segunda etapa consiste na internação do RN junto à mãe na Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal Canguru (UCINCa). Por fim, a terceira etapa se dá pelo acompanhamento criterioso do bebê em nível ambulatorial após alta hospitalar.

Desde sua implantação no Brasil e em outros países, este método tem demonstrado benefícios em vários aspectos, como: aumento do vínculo afetivo entre mãe e filho, maiores taxas de ganho de peso e de aleitamento materno, melhor regulação da temperatura corporal do RN, maior alívio do estresse e da dor no neonato, segurança da mãe e da família nos cuidados com o bebê, principalmente em casa, melhor desenvolvimento neuropsicomotor do bebê, melhor relacionamento da família com a equipe de saúde, menor tempo de internação, com consequente redução do risco de infecções e redução dos custos hospitalares.

Nesse contexto, este trabalho pretende relatar a experiência do acompanhamento de RN e suas respectivas mães assistidas pelo MC em um hospital de referência obstétrica e neonatal do Ceará.

 

DESENVOLVIMENTO

O estudo foi realizado no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), instituição terciária de alta complexidade, no período de janeiro a julho de 2017. O hospital é referência no Ceará para atendimento materno-infantil, dentre outras especialidades e foi um dos primeiros centros de referência que participou ativamente no processo de implantação e implementação do MC no Brasil.

Este trabalho faz parte de um projeto maior que resultou na dissertação de mestrado da pesquisadora principal. Durante a coleta de dados foi possível observar as potencialidades e fragilidades da execução do MC na instituição através do diálogo com os profissionais de saúde e com as mães e familiares dos RN.

RESULTADOS

O HGCC possui uma UTIN com 20 leitos, duas Unidades de Cuidados Intermediários Neonatal Convencional (UCINCo) com 15 leitos cada e uma UCINCa contendo 10 leitos. O MC é efetuado em suas três etapas no hospital, como recomendado pelo MS. A primeira fase é realizada na UTIN, onde os pais têm livre acesso, são esclarecidos sobre o método e incentivados a permanecerem com seus filhos. A segunda fase é realizada na UCINCa onde o RN é internado junto a mãe para receberem os cuidados e orientações da equipe multiprofissional e praticarem o contato pele a pele por maior tempo possível e desejado pela mãe. A terceira fase acontece no ambulatório da UCINCa, onde após a alta hospitalar da segunda fase o RN é acompanhado até ganho de peso satisfatório e garantia de segurança da mãe e da família em relação aos cuidados com o bebê. Após alta da terceira fase e encerramento do MC, o RN é encaminhado para o ambulatório de Follow up que o próprio HGCC oferece ou para a Atenção Básica, ficando a escolha a critério da mãe.

A partir do diálogo com os profissionais, mães e familiares dos RN, percebeu-se que há um acolhimento diferenciado e humanizado para esse público neonatal. De uma forma geral, as mães reconhecem a importância do MC para recuperação dos seus filhos, apontando como aspectos positivos poder estar mais perto do filho e a participação integral nos cuidados diários do neonato, o que as torna mais seguras após a alta hospitalar.

Outro aspecto positivo apontado pelos profissionais de saúde do MC é a promoção do aleitamento materno, importante estratégia de promoção da saúde e segurança alimentar e nutricional. O aleitamento materno é uma prática que deve ser incentivada constantemente pelos profissionais de saúde. Além de capacitados, eles devem estar sensibilizados para apoiar e orientar as nutrizes, principalmente quando em contextos de saúde mais complexos, como na assistência à RN prematuros e de baixo peso.

Durante a primeira fase do MC, enquanto os RN estão na UTIN, eles acabam alimentando-se por via enteral em grande parte dos casos. Quando eles chegam na UCINCa, segunda fase do MC, a maior aproximação e vínculo entre mãe e filho favorece o processo de amamentação e a recuperação do RN favorece a transição para alimentação oral ao seio. A terceira etapa do MC, a qual se dá ao nível ambulatorial, continua sendo um nó crítico para a assistência a esse público. Embora as taxas de aleitamento materno exclusivo permaneçam maiores comparados aos bebês que não são assistidos pelo MC, percebe-se que esse primeiro distanciamento do serviço repercute na continuidade da amamentação. A rede de apoio dos profissionais, serviços de saúde e familiares à díade mãe-filho tem um importante papel na manutenção do aleitamento materno em casa.

Corroborando esse decréscimo nas taxas de AME tem a inserção de práticas inadequadas para o RN como uso de chupetas e mamadeiras, introdução de fórmulas infantis e alimentos. No entanto, a maior fragilidade encontrada no serviço é a continuidade após o encerramento do MC. Embora a instituição conte com o suporte de um ambulatório de Follow up, a adesão para continuação do acompanhamento ainda é pequena. Além disso, percebeu-se que o incentivo ao aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida não é fortalecido neste ambulatório, o que repercute na queda da taxa de amamentação ao longo dos meses.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo possibilitou uma maior reflexão sobre este método de assistência perinatal, sendo possível identificar os vários benefícios do MC para a saúde do RN. Além disso, a partir das fragilidades observadas no manejo e principalmente na assistência à longo prazo desse público, foi possível voltar a atenção dos profissionais para a necessidade de criação de novas estratégias de apoio às mães e RN, potencializando assim os cuidados do MC no serviço.

O MC, dentre as várias estratégias voltadas para o cuidado materno infantil, constitui-se como uma metodologia viável, econômica e humanizada de promoção e assistência à saúde para RN prematuros e de baixo peso.

 


Palavras-chave


Método Canguru; recém-nascido; cuidado em saúde