Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: EXPERIÊNCIAS INOVADORAS EM SAÚDE MENTAL INSERIDAS NO CUIDADO DA ATENÇÃO BÁSICA
Priscilla Regina Cordeiro, Flavia Liberman

Última alteração: 2018-01-24

Resumo


Representando um avanço significativo para a integralidade da assistência em saúde, a Reforma Psiquiátrica, busca potencializar os direitos e a proteção das pessoas em sofrimento psíquico, assegurando o acesso ao melhor tratamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, deve ser compreendida como um processo social em transformação permanente no país e que preconiza a implantação de uma Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de modo a articular ações entre os serviços que a compõem, expandindo o cuidado para além dos espaços substitutivos extra-hospitalares. Trata-se de uma estratégia que se caracteriza por práticas pautadas nos princípios da territorialização, corresponsabilidade e da ampliação das redes sociais. A Reabilitação Psicossocial é um conjunto de ações, singular, que consideram as expressividades do sofrimento, assim como a autonomia e a liberdade, como fatores essenciais para a condução do cuidado pensado pela via da reinserção na sociedade. Tal conceito envolve, de maneira horizontal, todos os atores protagonistas relacionados a esse cuidado, sejam eles usuários, familiares ou profissionais de saúde. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), se revela como um serviço de saúde fundamental, uma vez que busca promover a desinstitucionalização e tenta orientar e auxiliar a articulação com os serviços, em conjunto com os profissionais da Atenção Básica em Saúde (ABS), por meio da produção da singularidade, cidadania e das relações sociais, tendo em vista, melhorar as habilidades e potências dos usuários em sofrimento psíquico. Aproximar as ações de saúde mental nos espaços da ABS, é um dos propósitos que buscam possibilitar novas formas de convivência da sociedade com a loucura. Contudo, a inclusão destas ações na ABS ainda é um grande desafio, sendo fundamental a promoção de práticas que aproximem e promovam uma rede de cuidados tecida no processo da Reforma Psiquiátrica, convidando os profissionais de saúde a sustentarem as diferenças frente aos estigmas relacionados ao sofrimento psíquico. O Ministério da Saúde instituiu uma nova estratégia política para fortalecimento do SUS, denominada Educação Permanente em Saúde (EPS) que dispõe a repensar as práticas em saúde dos profissionais, buscando ações que modifiquem e transformem práticas tradicionais de saúde e da educação, através de metodologias ativas que promovem a interação entre ensino/serviço/comunidade. Considerando a RAPS junto a Atenção Básica à Saúde, este estudo apresenta uma proposta de Oficinas realizadas pela terapeuta ocupacional de um CAPS III, como um método inovador de Educação Permanente em Saúde, tendo como público alvo Agentes Comunitários de Saúde (ACS), inseridos em uma Unidade Saúde, que atua de acordo com a Estratégia Saúde de Família. Tal estudo apresentou entre os seus objetivos possibilitar a intervenção, implementação e avaliação com base nos pressupostos da EPS, além de buscar promover um espaço de trocas, de criação coletiva e transformação da prática no cotidiano de produção em saúde entre os Agentes Comunitários de Saúde e alguns usuários em sofrimento psíquico convidados, com vistas ao protagonismo de ambas as partes e à intensificação da articulação com os serviços pertencentes à RAPS. A opção por desenvolver a pesquisa com este público-alvo deve-se ao anseio da pesquisadora de privilegiar a voz destes atores sociais, como profissionais fundamentais no processo de territorialização, almejando potencializar e estimular a autonomia destes, de modo a incentivá-los a serem protagonistas no processo de trabalho, junto à equipe do CAPS, aprimorando e agregando em suas práticas diárias o cuidado em saúde mental, com vistas a se tornarem parceiros na defesa de direitos e do cuidado em saúde mental na Luta Antimanicomial. Optou-se por uma pesquisa-intervenção de abordagem qualitativa, apresentando como instrumento de coleta de dados, o registro da imagem, por meio de fotografias e Diário de Campo, realizado a cada encontro por todos os envolvidos (pesquisadora e público-alvo participante). Tais registros tiveram como objetivo preservar as vivências em seu caráter de expressão subjetiva, singular e coletiva. Para sua realização, foram propostas oficinas que pretendiam oportunizar espaços saudáveis e de criação coletiva, de trocas de experiências, de aprendizagem inventiva e de transformação da prática no cotidiano de produção em saúde. Resultados e/ou impactos: O desenvolvimento desta pesquisa promoveu encontros que permitiram o “construir juntos”, por meio da aprendizagem inventiva e através do compartilhamento de experiências frente aos problemas identificados no cotidiano de trabalho, mediante a atividades disparadoras de reflexão, estimulando este profissional a ser uma extensão do CAPS no território. Utilizar as oficinas como método de estudo permitiu a criação de possibilidades de ações criativas, construídas no coletivo, mas que mantiveram a singularidades de cada experiência, através de vivências realizadas com seus participantes, promovendo, pois, a aprendizagem com sentido e a construção coletiva a partir dos problemas já identificados. Em cada encontro, buscou-se pensar em estratégias que intensificassem o processo de articulação com os serviços da RAPS e, consequentemente, garantissem o acesso de qualidade a atenção integral à saúde do usuário em sofrimento psíquico.  Essas estratégias demandam ações que precisam ser pensadas, sobretudo no que tange à sua aplicabilidade, pois envolvem diversos desafios e barreiras, não somente institucionais, mas também relacionados às concepções de cuidado em saúde mental de cada profissional de saúde. Logo, os resultados esperados dependiam não só de mudanças do processo de trabalho, mas, também, de mudanças paradigmáticas que se relacionassem com as transformações individuais sobre o olhar dirigido a si e ao outro.  Neste viés, a participação em oficinas não pode ser passiva, já que o desejo e a vontade de se transformar internamente é que dão sentido a todo o grupo. Realizar uma pesquisa tendo a EPS como estratégia norteadora de suas técnicas – neste caso, as oficinas – possibilitou que a construção se tornasse a coletiva do início ao fim do estudo. Foi possível perceber, através desta prática investigativa, que a participação dos ACS em cada oficina, a troca de conhecimentos e experiências intensificou a aprendizagem, sobretudo mediante à identificação dos problemas identificados e à conjectura de soluções, buscando, a todo momento, fazer sentido e provocar (auto-)reflexões e mudanças internas e externas. Entendeu-se que, quando as relações afetivas são permitidas entre o grupo, torna-se possível aprender ao mesmo tempo em que se ensina. Durante as vivências, foi possível exercitar a valorização da escuta, colocar-se no lugar do outro, identificar as potências e valorizar o protagonismo. O escopo desta prática investigativa foi esclarecer aos profissionais de saúde, particularmente aos ACS, os avanços significativos da Reforma Psiquiátrica na Rede de Saúde deste município e em todo o país, assim como desvelar o cuidado integral à saúde, repensando as práticas e organizações dos serviços de saúde para além dos espaços institucionalizados, de modo a redefinir o lugar da diferença do usuário em sofrimento psíquico na sociedade. É possível entender, diante do aludido, que não são, necessariamente, as oficinas aqui propostas que irão mudar a forma como cada ACS pensa o cuidado em saúde mental, mas, sim, as relações afetivas, as trocas de experiências, as vivências, o conhecimento dos serviços da RAPS e, até mesmo, as histórias de vida de cada usuário. Espera-se que os caminhos traçados por aquele grupo, nesta pesquisa, mantenham-se vivos e que sejam um estímulo para que mais ações e pesquisas utilizem da estratégia da construção conjunta, de modo a promover trocas afetivas que auxiliem os ACS e demais profissionais de saúde a sustentarem as diferenças, tornando-se parceiros no cuidado e na Luta Antimanicomial.


Palavras-chave


Educação Permanente em Saúde; Saúde Mental; Atenção Básica em Saúde; Agente Comunitário em Saúde