Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO ENSINO-SERVIÇO-SOCIEDADE (PIESS): possibilidades para uma nova formação em medicina
Katia Cordeiro Antas, Márlon Vinícius Gama Almeida

Última alteração: 2018-01-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: A medicina é uma profissão milenar, cuja prática tem sido revisitada inúmeras vezes, em busca de novas configurações, muitas vezes motivadas pela busca por uma ampliação da compreensão do corpo humano e, no último século, pelo avanço das tecnologias de um modo geral. Neste contexto, recentemente, com o intuito de aprimorar ainda mais a formação médica e na tentativa de sanar algumas pendências na atuação profissional, sobretudo no que tange à produção do cuidado e trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Educação (MEC) publicou uma nova versão das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em Medicina (DCN) em 2014. Dentre as várias e importantes propostas das DCN, destaca-se a que se refere à inserção do estudante de medicina na comunidade desde o início do curso, para que o mesmo seja sensibilizado para compreensões sobre os aspectos socioeconômicos e culturais do processo saúde-doença-cuidado. Assim, o presente estudo tem como objetivo relatar a experiência de um grupo de professores na edificação de uma atividade que esteja de acordo com a inserção na comunidade à luz das novas DCN em uma universidade federal no interior baiano. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: No curso de medicina da Universidade Federal do Vale do São Francisco, do Campus de Paulo Afonso/BA, a atividade que visa integrar o estudante o mais precocemente possível à comunidade recebeu o nome de Práticas de Integração Ensino, Serviço e Sociedade (PIESS) e está presente do primeiro ao oitavo períodos, com uma carga horária de 60 horas semestrais. Neste cenário, ao mesmo tempo em que utiliza o campo de prática para aprendizagem, o estudante produz conhecimento e serviço de saúde para a população. RESULTADOS: Em PIESS os discentes têm contato com inúmeros conteúdos e discussões acerca da formação para o SUS, suas políticas e elementos constitutivos, elementos diversos da Saúde Coletiva, com ênfase para a epidemiologia e planejamento em saúde, estratégias de educação permanente, práticas de cuidado e racionalidades médicas, entre outros, que os fazem avançar significativamente na sua compreensão sobre o contexto de fazer saúde além da clínica tradicional. A partir desta atividade, o estudante de medicina obtém inúmeras vantagens em seu processo de formação, em relação à formação profissional comum. Uma primeira e muito importante delas, refere-se ao contato com as distintas realidades, em espaços extramuros à universidade, que os levam a pensar o usuário para além do consultório, da relação estritamente cartesiana entre médico e paciente, passando a compreendê-lo como sujeito inserido numa gama de determinantes sociais e condicionantes da saúde. Ou seja, desenvolve-se uma perspectiva na contramão da vertente individualizante e biologista, do sujeito e da sua doença. Outro desdobramento positivo em relação a esta atividade é a provocação de uma sensibilização para situações outras que muitas vezes não constam nos manuais da saúde, através de uma maior aproximação com realidades diversas e atravessadas por vários fatores de cunho social, político, econômico, geográfico, culturais e financeiros, que permitem outras e diferentes compreensões acerca da produção de adoecimentos e melhorias na qualidade de vida. Pode-se afirmar que a presença desta atividade proporciona o contato e a discussão de temas paralelos e transversais à formação médica que possibilitam ou devem possibilitar uma maior compreensão e, consequentemente, um melhor exercício profissional que se mostre mais sensível em relação aos modos de prevenir doenças e agravos e promover saúde. Todavia, este processo de mudanças e ampliação da formação médica, por sua vez, apresenta-se também com uma série de entraves e desafios, que vão desde questões sobre uma certa resistência a este novo modo de se pensar e praticar o exercício da medicina, seja por limitações das instituições e/ou dos profissionais, seja por uma não concordância com este modelo, por parte dos envolvidos. A formação acadêmica é uma primeira grande dificuldade. Muitos docentes e discentes se surpreendem ao ingressar no curso e se deparar com esta atividade. Alguns não se identificam com esta discussão, outros a consideram muito distante da sua formação (no caso dos docentes) ou não compreende como necessário (como no caso dos discentes). Uma dificuldade que tem sido encontrada, ao menos no curso de medicina no campus de Paulo Afonso/BA da UNIVASF, é a contratação de profissionais médicos especialistas em Medicina da Família e Comunidade, sobretudo por seu diálogo afim com as questões aqui apontadas e sua importância na edificação de um projeto pedagógico pioneiro e mais próximo da população. Também tem sido presenciado algumas pequenas interferências no que concerne ao acesso à rede de serviços em saúde, como resultado de uma compreensão incompleta sobre a existência e/ou a importância de uma faculdade de saúde na região. Este é um processo em construção, onde ambas as partes, universidade e rede de serviços, precisam dialogar e encontrar o ponto de equilíbrio de modo que as duas possam se beneficiar desta relação. É um desafio, também, a pouca ou nenhuma sensibilização para a importância e contribuições da atividade de PIESS no contexto acadêmico e comunitário. Tanto da parte de docentes como de discentes, há uma compreensão equivocada e reduzida do que de fato é proposto nesta atividade e, mais fundamental, o motivo pelo qual ela é ofertada. Este tem se configurado com o maior empecilho no exercício desta atividade, uma vez que o curso supracitado dispõe de poucos docentes disponíveis a contribuir com esta discussão, sobretudo, por parte dos docentes médicos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Entretanto, pode-se afirmar que tais elementos têm sido o grande diferenciador no processo de formação médica, sobretudo, quando comparado a cursos anteriores às novas DCN. Oferecer ao discente a oportunidade de ser inserido na comunidade na qual faz a sua formação e conhecer os seus modos de produção de saúde-doença-cuidado, é de uma riqueza ímpar! De fato, acredita-se que esta é uma contribuição muito significativa e que pode, realmente, ser determinante no processo de formação de um profissional da medicina, que atenda, aimda assim, ao que é preconizado no art. 3º das DCN, quando menciona que “o graduado em medicina terá formação geral, humanista, crítica, reflexiva e ética, com capacidade para atuar nos diferentes níveis de atenção à saúde”[A]. Por fim, acredita-se que a atividade de PIESS pode sim, ser uma aliada nesta busca para formar profissionais com uma visão mais ampliada e completa sobre o processo saúde-doença-cuidado e, mais do que isso, com uma melhor compreensão do que realmente significa ser um profissional médico neste país com todas as particularidades e desigualdades., e que, ainda assim, é dono de um dos mais admirados e completos sistemas públicos de saúde.

Palavras-chave


Saúde; Medicina; Diretrizes curriculares; Formação.