Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PREVALÊNCIA, ASPECTOS SOCIODEMOGRÁFICOS E CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICOS DA COINFECÇÃO TUBERCULOSE/HIV EM IMPERATRIZ-MA
Paula dos Santos Brito, Daianne Santos de Souza, Janiel Conceição da Silva, Floriacy Stabnow Santos, Francisca Jacinta Feitoza de Oliveira, Ana Cristina Pereira de Jesus Costa, Ariadne Araújo Siqueira Gordon, Marcelino Santos Neto

Última alteração: 2018-01-21

Resumo


Introdução: A coinfecção Tuberculose (TB)/Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é elencada como uma comorbidade, e importante fator de mau prognóstico, impondo condições clínicas mais graves, de maior dificuldade diagnóstica e tratamento. Desse modo, a associação da TB com o HIV retrata um novo desafio em escala mundial. O Brasil é um dos 22 países que representam 80% da carga mundial da TB, prevalecendo à alta carga de TB e a de coinfecção TB/HIV sendo definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como prioritário para o controle da TB no mundo.  Nos países endêmicos para TB, o advento da epidemia de HIV/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids) tem acarretado aumento significativo dos casos de TB, ocasionando piores desfechos (abandono e óbito). No Brasil, o risco da pessoa vivendo com HIV/aids (PVHA) adquirir TB é 28 vezes maior quando comparada a população sem HIV/aids. A taxa de mortalidade entre os pacientes com coinfecção TB/HIV agrava-se principalmente pelo diagnóstico tardio da TB. Entre as ações recomendadas pelo Programa Nacional de Controle da TB (PNCT) para controle da coinfecção TB/HIV, orienta-se a testagem oportuna para HIV por meio do teste rápido para todos os diagnosticados com TB. Como diretriz nacional é recomendado o diagnóstico da TB o mais breve possível, assim como o início do tratamento da TB ativa, da infecção latente e o início da terapia antirretroviral quando indicado. É preconizado ainda, que a rede de atenção á saúde seja organizada de forma que possa garantir a atenção integral aos coinfectados, tendo como os Serviços de Atenção Especializada (SAE) como local preferencial para acompanhamento ás pessoas que vivem com HIV/aids. Por ser considerado um problema social, pesquisas relacionadas à coinfecção TB/HIV vêm sendo estimuladas por serem importantes instrumentos para detecção dos perfis sociodemográfico, clínico e epidemiológico dos indivíduos que foram acometidos por essa coinfecção. Objetivo: Diante disso, o estudo teve como objetivo determinar a prevalência dos casos notificados de coinfecção TB/HIV, bem como caracterizá-los segundo variáveis de contextos sociodemográfico e clínico-epidemiológico no município de Imperatriz-MA. Metodologia: Estudo epidemiológico descritivo, retrospectivo com abordagem quantitativa, realizado em um dos municípios do nordeste brasileiro considerado prioritário para o controle de TB e baseado em dados secundários das fichas individuais de TB do Sistema Nacional de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período compreendido entre 2006 e 2015. A coleta de dados ocorreu em novembro de 2017. A prevalência da coinfecção TB/HIV na população foi determinada mediante a realização de sorologia para o HIV e liberação de resultados, excetuando os testes em andamento. As variáveis analisadas relativas à caracterização sociodemográfica foram sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade e zona de residência. Já os dados de investigação clínico-epidemiológica foram tipo de entrada, forma clínica, realização de baciloscopia, prova tuberculínica (PT), cultura, realização de tratamento supervisionado e desfecho de tratamento. A análise exploratória dos dados foi realizada mediante a estatística descritiva, na qual para variável idade foram expressas medidas de tendência central e para as demais variáveis investigadas foram expressos valores absolutos e relativos. Resultados e discussões: Foram notificados 800 casos de TB no período sob investigação. Dos pacientes testados para HIV (363; 45,5%), excetuando os que apresentaram exame em andamento (53; 6,6%), 68 eram coinfectados, equivalendo a uma prevalência de 19%. Observa-se, nessa casuística, que a prevalência de coinfecção no município investigado apresenta-se subnotificada e associada à incipiente demanda do teste sorológico para HIV, uma vez que parcela significativa dos pacientes não realizou o teste anti-HIV, recomendado pelo PNCT. Dos coinfectados, a maioria dos casos era do sexo masculino (53; 77,09%), com idade mínima de 05 anos de idade e máxima de 73 anos, a média de idade foi de 37 anos, desvio padrão de 16 anos e mediana de 34 anos, raça/cor parda (40; 58,08%) com predomínio de escolaridade ensino fundamental incompleto com destaque para a 1° - 4° série incompleta (14; 20,05%) e residentes na zona urbana (65; 95,06%). Sobre as características clínicas e epidemiológicas, predominaram os casos novos (56; 82,3%) como tipo de entrada, sendo a maioria forma clínica pulmonar (58; 85,03%), com destaque para baciloscopia de escarro positiva (31; 45,05%), cultura de escarro não realizada (59; 86,08%), raio-x torácico suspeitos para TB (57; 83,08%), teste tuberculínico não realizado (52; 76,04%). Realizado o tratamento supervisionado em uma pequena parcela dos casos notificados (45; 66,02%), fator esse que pode deixar de contribuir para o sucesso do tratamento, uma vez que, o tratamento diretamente observado proporciona uma melhor atenção ao paciente por meio do acolhimento quando humanizado, possibilitando a adesão ao tratamento, garantindo a cura para a TB e diminui significativamente a taxa de bacilos multirresistentes, reduzindo a mortalidade e o sofrimento humano. Permite ainda, realizar ações de educação em saúde mais efetivas voltada para a orientação do paciente, família e comunidade. No que se refere aos desfechos de tratamento no período que compreende este estudo, observou-se um baixo percentual de cura (57; 86,36%) e um alto percentual de encerramento como óbito por outras causas (10; 14,7%) e óbito por TB (1; 1,5%). É importante destacar que de acordo com as normativas internacionais para definição da causa do óbito, todos os pacientes com coinfecção TB/HIV que foram a óbito devem ser encerramentos no SINAN-TB como “óbito por outras causas”. Nesse mesmo período, foram identificados 10 casos de recidiva para coinfecção TB/HIV entre os 68 casos notificados (10; 14,7%). Algumas medidas já são realizadas para a redução dos desfechos desfavoráveis de tratamento entre pessoas com a coinfecção TB/HIV, entre elas, destaca-se a realização da terapia antirretroviral (TARV). Apesar disso, no Brasil, os resultados da utilização da TARV ainda não é o ideal, tanto para os casos novos quanto para retratamentos. É importante compreender que há ainda maior dificuldade para o diagnóstico de TB entre PVHA, em razão da possibilidade de exames falso-negativos como baciloscopia, cultura e imagens radiológicas pulmonares atípicas. Outro agravante na adesão do tratamento medicamentoso é uma maior quantidade de comprimidos a serem ingeridos, limitações de antirretrovirais disponíveis sem interação medicamentosa com os medicamentos da TB, ainda a apresentação de mais efeitos adversos e uma maior toxicidade mediante utilização das múltiplas medicações. Considerações Finais: A coinfecção, em si, já indica uma situação de vulnerabilidade da doença pelo HIV/aids, deixando o paciente em maior risco para demais infecções oportunistas e risco de morte. A notável relação que a TB possui com as condições sociais e determinantes de saúde demandam formas de abordagem e vigilância dos casos notificados em diversos cenários para a quebra do ciclo de transmissão e progressão da doença.  A análise revelou um perfil epidemiológico e situacional de saúde em termos de morbimortalidade da população atingida por coinfecção TB/HIV no município de Imperatriz-MA, apresentando aspectos importantes, e avaliações a serem consideradas e realizadas pelos gestores dos Programas de Controle de TB das três esferas de gestão, que podem contribuir para a identificação de entraves na melhoria da atenção às pessoas com TB/HIV e para a implementação de soluções, buscando estratégias para superar esses desafios, amparando o fortalecimento das ações de saúde e na redução dos casos registrados.


Palavras-chave


Coinfecção TB/HIV; Prevalência; Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Aspectos clínico-epidemiológicos.