Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-21
Resumo
Introdução: A coinfecção Tuberculose (TB)/Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é elencada como uma comorbidade, e importante fator de mau prognóstico, impondo condições clínicas mais graves, de maior dificuldade diagnóstica e tratamento. Desse modo, a associação da TB com o HIV retrata um novo desafio em escala mundial. O Brasil é um dos 22 países que representam 80% da carga mundial da TB, prevalecendo à alta carga de TB e a de coinfecção TB/HIV sendo definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como prioritário para o controle da TB no mundo. Nos países endêmicos para TB, o advento da epidemia de HIV/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids) tem acarretado aumento significativo dos casos de TB, ocasionando piores desfechos (abandono e óbito). No Brasil, o risco da pessoa vivendo com HIV/aids (PVHA) adquirir TB é 28 vezes maior quando comparada a população sem HIV/aids. A taxa de mortalidade entre os pacientes com coinfecção TB/HIV agrava-se principalmente pelo diagnóstico tardio da TB. Entre as ações recomendadas pelo Programa Nacional de Controle da TB (PNCT) para controle da coinfecção TB/HIV, orienta-se a testagem oportuna para HIV por meio do teste rápido para todos os diagnosticados com TB. Como diretriz nacional é recomendado o diagnóstico da TB o mais breve possível, assim como o início do tratamento da TB ativa, da infecção latente e o início da terapia antirretroviral quando indicado. É preconizado ainda, que a rede de atenção á saúde seja organizada de forma que possa garantir a atenção integral aos coinfectados, tendo como os Serviços de Atenção Especializada (SAE) como local preferencial para acompanhamento ás pessoas que vivem com HIV/aids. Por ser considerado um problema social, pesquisas relacionadas à coinfecção TB/HIV vêm sendo estimuladas por serem importantes instrumentos para detecção dos perfis sociodemográfico, clínico e epidemiológico dos indivíduos que foram acometidos por essa coinfecção. Objetivo: Diante disso, o estudo teve como objetivo determinar a prevalência dos casos notificados de coinfecção TB/HIV, bem como caracterizá-los segundo variáveis de contextos sociodemográfico e clínico-epidemiológico no município de Imperatriz-MA. Metodologia: Estudo epidemiológico descritivo, retrospectivo com abordagem quantitativa, realizado em um dos municípios do nordeste brasileiro considerado prioritário para o controle de TB e baseado em dados secundários das fichas individuais de TB do Sistema Nacional de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período compreendido entre 2006 e 2015. A coleta de dados ocorreu em novembro de 2017. A prevalência da coinfecção TB/HIV na população foi determinada mediante a realização de sorologia para o HIV e liberação de resultados, excetuando os testes em andamento. As variáveis analisadas relativas à caracterização sociodemográfica foram sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade e zona de residência. Já os dados de investigação clínico-epidemiológica foram tipo de entrada, forma clínica, realização de baciloscopia, prova tuberculínica (PT), cultura, realização de tratamento supervisionado e desfecho de tratamento. A análise exploratória dos dados foi realizada mediante a estatística descritiva, na qual para variável idade foram expressas medidas de tendência central e para as demais variáveis investigadas foram expressos valores absolutos e relativos. Resultados e discussões: Foram notificados 800 casos de TB no período sob investigação. Dos pacientes testados para HIV (363; 45,5%), excetuando os que apresentaram exame em andamento (53; 6,6%), 68 eram coinfectados, equivalendo a uma prevalência de 19%. Observa-se, nessa casuística, que a prevalência de coinfecção no município investigado apresenta-se subnotificada e associada à incipiente demanda do teste sorológico para HIV, uma vez que parcela significativa dos pacientes não realizou o teste anti-HIV, recomendado pelo PNCT. Dos coinfectados, a maioria dos casos era do sexo masculino (53; 77,09%), com idade mínima de 05 anos de idade e máxima de 73 anos, a média de idade foi de 37 anos, desvio padrão de 16 anos e mediana de 34 anos, raça/cor parda (40; 58,08%) com predomínio de escolaridade ensino fundamental incompleto com destaque para a 1° - 4° série incompleta (14; 20,05%) e residentes na zona urbana (65; 95,06%). Sobre as características clínicas e epidemiológicas, predominaram os casos novos (56; 82,3%) como tipo de entrada, sendo a maioria forma clínica pulmonar (58; 85,03%), com destaque para baciloscopia de escarro positiva (31; 45,05%), cultura de escarro não realizada (59; 86,08%), raio-x torácico suspeitos para TB (57; 83,08%), teste tuberculínico não realizado (52; 76,04%). Realizado o tratamento supervisionado em uma pequena parcela dos casos notificados (45; 66,02%), fator esse que pode deixar de contribuir para o sucesso do tratamento, uma vez que, o tratamento diretamente observado proporciona uma melhor atenção ao paciente por meio do acolhimento quando humanizado, possibilitando a adesão ao tratamento, garantindo a cura para a TB e diminui significativamente a taxa de bacilos multirresistentes, reduzindo a mortalidade e o sofrimento humano. Permite ainda, realizar ações de educação em saúde mais efetivas voltada para a orientação do paciente, família e comunidade. No que se refere aos desfechos de tratamento no período que compreende este estudo, observou-se um baixo percentual de cura (57; 86,36%) e um alto percentual de encerramento como óbito por outras causas (10; 14,7%) e óbito por TB (1; 1,5%). É importante destacar que de acordo com as normativas internacionais para definição da causa do óbito, todos os pacientes com coinfecção TB/HIV que foram a óbito devem ser encerramentos no SINAN-TB como “óbito por outras causas”. Nesse mesmo período, foram identificados 10 casos de recidiva para coinfecção TB/HIV entre os 68 casos notificados (10; 14,7%). Algumas medidas já são realizadas para a redução dos desfechos desfavoráveis de tratamento entre pessoas com a coinfecção TB/HIV, entre elas, destaca-se a realização da terapia antirretroviral (TARV). Apesar disso, no Brasil, os resultados da utilização da TARV ainda não é o ideal, tanto para os casos novos quanto para retratamentos. É importante compreender que há ainda maior dificuldade para o diagnóstico de TB entre PVHA, em razão da possibilidade de exames falso-negativos como baciloscopia, cultura e imagens radiológicas pulmonares atípicas. Outro agravante na adesão do tratamento medicamentoso é uma maior quantidade de comprimidos a serem ingeridos, limitações de antirretrovirais disponíveis sem interação medicamentosa com os medicamentos da TB, ainda a apresentação de mais efeitos adversos e uma maior toxicidade mediante utilização das múltiplas medicações. Considerações Finais: A coinfecção, em si, já indica uma situação de vulnerabilidade da doença pelo HIV/aids, deixando o paciente em maior risco para demais infecções oportunistas e risco de morte. A notável relação que a TB possui com as condições sociais e determinantes de saúde demandam formas de abordagem e vigilância dos casos notificados em diversos cenários para a quebra do ciclo de transmissão e progressão da doença. A análise revelou um perfil epidemiológico e situacional de saúde em termos de morbimortalidade da população atingida por coinfecção TB/HIV no município de Imperatriz-MA, apresentando aspectos importantes, e avaliações a serem consideradas e realizadas pelos gestores dos Programas de Controle de TB das três esferas de gestão, que podem contribuir para a identificação de entraves na melhoria da atenção às pessoas com TB/HIV e para a implementação de soluções, buscando estratégias para superar esses desafios, amparando o fortalecimento das ações de saúde e na redução dos casos registrados.