Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A atuação interprofissional no atendimento a usuários em situação de violência: relato de experiência sob a óptica de enfermagem
Brenda jamille Costa Dias, Euriane Castro Costa, Adria Vanessa da Silva, Raine Marques da Costa, Victor Assis Pereira da Paixão, Ana Carolina Mata dos Santos, Vera Lúcia de Azevedo Lima, Luanna Tomaz de Souza

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação

A temática violência contra mulher tem recebido amplo espaço na mídia e na opinião pública fazendo-se indispensável refletir sobre o conceito e suas formas de manifestação, do qual é socialmente construído, cujo possui dimensão histórica e cultural. O fenômeno da violência contra a mulher é uma demanda de saúde pública e violação dos direitos humanos. Intervir em situações de violência não é de ordem exclusiva das esferas jurídica, policial, psicossocial, assim como da área de saúde, pois há sofrimentos e adoecimentos que acometem as vítimas de violência, alterando sua saúde.  Na concepção ampliada do processo saúde-doença como aspecto social, referindo-se a qualquer agravo a vida, condições de trabalho e relações interpessoais. Nesse contexto, destaca-se a necessidade de uma formação com enfoque transversal, interdisciplinar e interprofissional. As Diretrizes curriculares Nacionais (DCNs) dos cursos de graduação em saúde traçam o perfil de um formando egresso/profissional com formação “generalista, humanista, critica e reflexiva”. As DCNs consideram não só a formação técnica e tecnológica para formação, mas os aspectos psicossociais para o desenvolvimento pleno dos futuros profissionais. Sendo importante investir em práticas de ensino que criem condições de desenvolvimento de alunos que aprendam sobre sua área de formação especifica, mas ao mesmo tempo, conheçam a realidade das demais profissões. É no contexto da formação interprofissional que surge a Clínica de Atenção a Violência (CAV) na qual é um projeto interdisciplinar que visa o enfrentamento de diversas formas de violências que se manifestam na Amazônia e atende pessoas em situação de violência que buscam apoio jurídico e social, além de cuidados na área de saúde.  A clínica está vinculada à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA), ao Programa de Atendimento a Vítimas de Violência e se desenvolve em parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisas “Direito Penal e Democracia” e o Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Violência na Amazônia (NEIVA), e Programa de Empoderamento e Fortalecimento da Mulher Amazônica frente à violência doméstica e familiar da Faculdade de Enfermagem da UFPA. Como forma de incentivar uma reflexão crítica para o enfrentamento ao problema, ampliando a gama de serviços disponíveis, pode-se contribuir também para uma melhor formação dos estudantes e dos profissionais que atuam nos serviços. Buscou-se por objetivo relatar a experiência de acadêmicos e mostrar a importância da formação interdisciplinar no contexto da formação interprofissional.

Descrição da experiência

A CAV funciona as sextas-feiras, pela manhã, no Núcleo de Praticas Jurídicas NPJ/UFPA, atende pessoas em situação de violência, promove palestras e ações educativas junto à comunidade. Através das redes sociais divulga informações sobre as violências abrangidas nos atendimentos do projeto, notícias e divulgação das ações educativas. A clínica proporciona atendimento às seguintes formas de Violência: Violência contra Mulher, Violência contra Criança e Adolescente, Violência contra Idoso, Violência LGBTFóbica Violência Policial, Violência Racial. Estes são realizados pelos acadêmicos bolsistas e voluntários e por profissionais tais como Enfermeira, Advogadas e Assistente Social sob a supervisão da professora coordenadora. Buscando desenvolver um espaço interdisciplinar de atendimento, o projeto integra ações com os demais cursos da universidade como Enfermagem, Odontologia, Psicologia, Pedagogia, Serviço Social e Ciências Sociais como forma de oferecer atendimento integral às vítimas de violência através de uma dinâmica restaurativa, além disso, mantém contato com demais instituições da rede apoio ao atendimento a delegacia especializada a atendimento a mulheres- DEAM, e o Juizado do Idoso. O atendimento aos assistidos começa ao serem recepcionados e encaminhados às cabines individuais para ouvir sua demanda. Nesse primeiro momento a assistente social serviço social recepcionam e fazem o acolhimento inicial a esse cliente. Dependendo do que se apresente, entra em atuação o jurídico e também a área da saúde, mas especificamente estudantes Enfermagem e Odontologia. Além da devida assistência jurídica a cada processo e atendimento gera uma pasta arquivo específica que mensalmente são avaliadas, sendo emitidos relatórios semestrais, reuniões para discussão dos casos e oficinas de capacitação, os casos são arquivados e separado no NPJ para consulta e orientação. O atendimento de Enfermagem feito por alunos e Enfermeiras visa atender as necessidades humanas básicas do usuário. Onde é realizado acolhimento, por meio da escuta ativa e qualificada, orientações de Enfermagem e encaminhamento quando necessário. São utilizados impressos elaborados pela equipe de saúde, onde destacamos a situações de saúde, histórico, exame físico e a situação da violência ocorrida. Dos atendimentos realizados os números de mulheres que procuram o serviço é maior que 90%, há o predomínio dos casos de violência doméstica, tendo a violência física e psicologia mais relatadas. A Enfermagem tem importante papel nesse contexto, pois a visibilidade da violência, bem como o aumento da demanda de casos desta natureza nos serviços de saúde, exige, de forma crescente, conhecimento e preparo dos profissionais.

Resultados

O atendimento a vítimas de violência no Núcleo de Praticas Juridicas /UFPa por meio da CAV é ressignificar a atuação deste voltando-o para serviço de real interesse da comunidade, contribuindo para a formação dos discentes fazendo com que estas demandas ganhem o cenário público. Além disto, por introduzir a experiência das práticas restaurativas, possibilitando que o Núcleo tenha um atendimento voltado à pacificação de conflitos do que a mera resolução de processos judiciais. Visando capacitar alunos e professores para o atendimento a pessoas que sofrem violência e para compreender a realidade de certas formas de violência, bem como os mecanismos de enfrentamento, promovendo o diálogo entre o curso de Direito da UFPA e a rede de atendimentos existentes, em especial com os demais cursos de graduação da universidade. A experiência do projeto trouxe enriquecimento teórico e vivência partilhada sobre a temática, colaborando para o exercício de ensino e práticas transformadoras, parcerias na constituição de projetos e exercício permanente do diálogo aberto critico e reflexivo. Construindo uma linha, intrinsecamente interdisciplinar, e atuando nos módulos que exige ponderar ângulos ainda não descortinados e/ou valorizados, revisitar o já experimentado e abrir-se para caminhos novos, além de estimular a produção científica da área da saúde e interprofissional contribuindo para que possam identificar apoiar e empoderar pessoas frente à violência.

Considerações finais

A Educação interprofissional mostrar-se atualmente como fundamental estratégia para formar profissionais capazes para o desenvolvimento de trabalho em equipe, essa pratica é imprescindível para a integralidade na assistência nos serviços de saúde.  Assim, também é novo para o docente emergir da zona de conforto do seu curso de origem e interagir, dialogar com profissionais procedentes de outras áreas de assistência, relativizando suas certezas e acreditando ser plausível e indispensável (re) conhecer as construções dinâmicas do conhecimento, tecnologias e saberes.

Palavras-chave


Enfermagem; Violência contra Mulher; Educação