Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O PROCESSO DE IMPLANTACAO DE UM CURSO MÉDICO E A IMPLICACAO NECESSARIA COM A ORGANIZAÇÃO DAS REDES DE ATENÇAO À SAÚDE
Jose Santos Pedrosa

Última alteração: 2018-01-24

Resumo


Apresentação

Identificam-se os efeitos da Lei 12.871 de 22/10/2013 que institucionaliza o Programa Mais Médicos para o Brasil, particularmente um de seus pilares, qual seja, a reordenação da formação médica o que inclui a abertura de cursos em regiões consideradas estratégicas para a preenchimento dos vazios assistenciais e estratégias para a fixação desses profissionais.  A implantação dos cursos era monitorada por um documento/guia compreendendo a imagem objetivo esperada de quatro dimensões consideradas essenciais para cumprir seus objetivos: infraestrutura, corpo docente, projeto pedagógico e articulação ensino e serviço, acompanhados por visitas in loco de membros da Comissão de Acompanhamento da Implantação das Escolas Médicas. O curso de Medicina da UFPI no Campus Ministro Reis Velloso na cidade de Parnaíba foi sendo construído com base nas imagens objetivas apontadas no instrumento de monitoramento. Nesta pesquisa são identificados e analisados os efeitos do compartilhamento entre o curso e os serviços de saúde para a construção de Redes de Atenção a Saúde que fossem consideradas cenários de ensino/aprendizagem

Objetivo Geral: analisar os efeitos da articulação entre os serviços de saúde, gestão dos municípios da Região e o Curso de Medicina na construção das Redes de Atenção à Saúde

Objetivos Específicos: a) identificar elementos da reorganização dos serviços voltados para a articulação ensino/serviço; b) analisar os movimentos autônomos e institucionais desencadeados no processo.

Metodologia

Por meio da pesquisa documental realizadas em documentos oficiais e relatórios de atividades, além das anotações da percepção do pesquisador, sujeito ativo e implicado no processo foram identificados movimentos, sujeitos e espaços que se envolveram no processo de articular o ensino com o trabalho em saúde:

Resultados:

Foram identificados 2 tipos de movimentos: institucionais que envolvem as gestões municipais e estadual e formalizações de parcerias e termos de cooperação e movimentos autônomos que emergiram da ação dos sujeitos envolvidos

1.Movimentos institucionais:

a)      Mobilização para a constituição do Comitê Gestor do Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (HEDA) que tem contribuído com a reorganização da porta de entrada do Hospital e a adequação do HEDA como hospital de ensino, resultado da articulação entre os cursos da área da saúde de instituições públicas e privadas e a Secretaria Estadual de Saúde (SESAPI)

b)      Criação de 2 Programas de Residência Médica (Clinica Médica e Cirurgia) e concessão para abertura de 3 programas (Pediatria, Ginecologia e Medicina da Família e Comunidade) em parceria com instituições públicas o o Curso de Medicina de uma instituição privada

c)      Participação na concepção e cogestão do Centro Integrado de Especialidades Médicas em parceria com a SESAPI e a Fundação Estadual de Apoio à Pesquisa (FAPEPI) que oferecerá à comunidade da Região consultas e procedimentos em 11 especialidades médicas articulando as Residências e o Internato

d)     Assinatura do Contrato de Ação Pública para Articulação Ensino/Serviço (COAPES) com a Secretaria Municipal de Saúde de Parnaíba e mobilização dos cursos de saúde das IES privadas na construção do Plano de Trabalho, onde observou-se uma demanda anual de 2000 alunos que devem frequentar os serviços de saúde.

e)      Participação ativa na Comissão Intergestora Regional e na Comissão de Integração Ensino Serviço no sentido de articular os 11 municípios que compõem o Território da Planicie Litorânea, espaço de responsabilidade social do Curso de Medicina da UFPI em Parnaíba. Este espaço tem se mostrado como ponto de comunicação entre a Escola Médica e os gestores municipais e as equipes gestoras.

f)       Participação no processo de Planificação da Microrregião que compreende 2 Territórios de Desenvolvimento (Planicie Litorânea e Cocais) com o objetivo de organizar as RAS para o cuidado integral às condições crônicas, na perspectiva de integrar a agenda de educação permanente a ser desenvolvida nas Unidades de Saúde e o planejamento pedagógico.

2. Movimentos autônomos

a) Agraciamento no Premio INOVASUS que proporcionou a realização de Oficina de formação docente em metodologias ativas e Fóruns de Atenção Primária em Saúde reunindo discentes, docentes e comunidades

b) Criação da Comissão do Internato no sentido de adequá-lo às orientações das DCN de 2010, incluindo Atenção Primária, Urgencia e Emergencia e Saúde Mental na perspectiva de internato/vivência em outros municipios da Região

c) Constituição de Ligas Acadêmicas que desenvolvem atividades diretamente com as comunidades por meio de ações como Saúde na Praça, Ciências nas Escolas, Formação de professores de escolas públicas sobre primeiros socorros

d) Construção de projetos de pesquisa participante para a construção de sustentabilidade para modos de viver mais saudáveis com uma comunidade

e) Mobilização e participação nas Conferencias Municipais de Vigilância em Saúde e Saúde da Mulher

f) Utilização e articulação com outros serviços de saúde

g) Mobilização dos estudantes em atividades científicas, esportivas, comunitárias e intercâmbio de experiências

Conclusões

A análise da implicação é importante dispositivo para refletir e orientar decisões em processos de institucionalização que exigem movimentos na esfera técnico-científica, política e organizacional.

A participação da Escola Médica na organização dos serviços de saúde é fundamental para que a integração entre ensino e serviço se torne estratégia eficaz na formação do perfil médico preconizado pelas DCN de 2010.

As mudanças e a dinâmica dos serviços acontecem em tempo diferente das adequações necessárias ao Projeto Pedagógico gerando conflitos entre os objetivos de aprendizagem formalizados e os contextos nos quais as práticas ocorrem.

A territorialização da Escola Médica requer que os problemas detectados no território sejam os problemas a serem analisados nos projetos de iniciação científica.

Existem dificuldades de movimentos autônomos em direção à comunidade e aos movimentos sociais em face um imaginário fortemente instituído sobre o saber e o médico.

Existem maiores possibilidades de articulação ensino e serviço quando o docente atua nas redes de atenção à saúde

Existem barreiras burocráticas às inovações preconizadas em virtude de um sistema de gestão acadêmica que não apresenta flexibilidade para incorporar as inovações vivenciadas como práticas docentes formais.

A cultura organizacional tanto nos serviços quanto na Escola Médica impõe ao trabalho em saúde por parte do profissional médico individualismo, produtivismo, hierarquização da liderança e fragmentação do processo de trabalho.

Romper os muros da Universidade e fazer a ponte dialógica com os serviços e a comunidade é um desafio permanente.


Palavras-chave


Educação e Saúde; Educação Médica; Integração ensino e serviço