Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Experienciação de Monitoria em Saúde Mental Coletiva no Curso de Psicologia
Cristina Machado Gomes, Rafael Wolski de Oliveira, Maria de Fátima Bueno Fischer

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação

A monitoria é, em muitas universidades, um apoio pedagógico oferecido aos alunos para aprofundar seus conhecimentos em determinados conteúdos e, principalmente, como forma de auxiliar às dificuldades de aprendizado dos conteúdos trabalhados em aula. Essa ferramenta, complementar às atividades de sala de aula, tem valor singular no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que oferece ao aluno uma visão do conteúdo em uma linguagem de pares, alunos e monitor (colega de curso), a qual proporciona uma aproximação das necessidades do aluno e com as expectativas do professor.

De maneira geral, as atividades da monitoria compreendem o auxílio ao professor, nas tarefas didáticas, na preparação de aulas e elaboração de trabalhos, atenção aos alunos quanto as suas dúvidas e dificuldades, individualmente ou em grupos, em sala de aula ou em horários definidos. Neste fazer existe a possibilidade de uma ampla faixa de atividades como realização de estudos dirigidos, trabalhos práticos e experimentais compatíveis com seu grau de conhecimento e experiência na disciplina. Outrossim, aplicação de seus conhecimentos práticos adquiridos através de vivências em outras atividades, estágios e outras disciplinas, dessa forma facilitando o relacionamento entre alunos e professor no desenvolvimento das atividades acadêmicas.

A aplicação dessas metodologias complementares permite também avaliar o andamento da atividade de ensino do ponto de vista do aluno, oferecendo ao professor orientador uma rica fonte de sugestões e melhorias, tornando dinâmica a elaboração do planejamento didático da disciplina, num compartilhamento de saberes/fazeres numa relação horizontalizada.

O objetivo deste trabalho é relatar uma experiência de monitoria na disciplina de Saúde Mental Coletiva do curso de Graduação em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Importante destacar que foi o primeiro curso no RS a incluir no currículo a referida disciplina alicerçada nos ideários da reforma psiquiátrica, anterior até das aprovações das leis Estadual e Nacional. A atividade acadêmica tem como conteúdo programático: A história da loucura; Reforma Psiquiátrica no Brasil e outros modelos internacionais; Desinstitucionalização da loucura; Luta Antimanicomial; Sistema Único de Saúde - SUS, conceitos e diretrizes; Controle Social e a importância do protagonismo dos usuários na construção da política; Política de Saúde Mental brasileira e outras experiências internacionais; Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e especificidades da atenção nos diferentes dispositivos. Além do conteúdo teórico, a disciplina prevê saídas de campo, bem como a participação de usuários, gestores, residentes e trabalhadores dos serviços de saúde mental no compartilhamento de experiências através de palestras, eventos e rodas de conversa.

Desenvolvimento do trabalho

O processo de experiência no trabalho de monitoria se deu através do acompanhamento das aulas, auxílio nas dúvidas dos alunos quanto ao conteúdo programático e participação em saídas de campo, especificamente no Mental Tchê - Encontro dos mentaleiros (usuários, trabalhadores, estudantes, familiares e simpatizantes da luta antimanicomial), em São Lourenço do Sul/RS; na Parada do Orgulho Louco, em Alegrete/RS (eventos gaúchos protagonizados pela militância da luta antimanicomial) e no encontro do Movimento de Luta Antimanicomial, em Bauru/SP.

Na disciplina de Saúde Mental Coletiva as monitorias foram realizadas em duas turmas, associando atividades de participação em sala de aula, estudos dirigidos, atendimentos extraclasse e saídas de campo. Na Unisinos, grande parte dos alunos trabalham além de estudar, o que traz alguns pontos positivos, como o enriquecimento das aulas com experiências de vida, mas também, em algumas ocasiões, gera dificuldades para o aprendizado devido ao cansaço e acúmulo de tarefas dos estudantes. Outro aspecto importante diz respeito as próprias concepções sobre a loucura que os alunos trazem, muitas vezes pautadas no senso comum que não difere da construção histórico/social. Nesses aspectos a monitoria contribui ativamente, uma vez que permite levantar, tanto nas aulas como nos acompanhamentos, as dúvidas e questões dos alunos que muitas vezes ficam para depois, com o receio de ser uma questão muito simples, ou que possa atrapalhar a aula. Também se destaca a mediação do professor e monitor no contato dos alunos com a rede de serviços de atenção Psicossocial e usuários dos serviços. As vivências do monitor também contribuem para essa troca de informação e para a motivação em relação a aprendizagem, pois permite demonstrar que as atividades práticas relacionadas com a disciplina não estão distantes da realidade do mundo trabalho.

Resultados

As atividades em sala de aula iniciaram com a observação da turma e posteriormente foram alternando com acompanhamentos nas aulas e atendimentos extraclasse. Nesses atendimentos foram tratadas dúvidas pontuais referentes ao conteúdo ou algum reforço ou revisão referente a explicação dada em aula.

A partir dessas experiências em sala e extraclasse, a observação dos alunos e o acompanhamento das atividades possibilitou o desenvolvimento de estudo dirigido, em especial nos períodos próximos às avaliações, quando as dúvidas dos alunos e a procura pela monitoria eram mais frequentes.

O acompanhamento e a participação em eventos, como o Mental Tchê e o encontro do Movimento de Luta Antimanicomial em Bauru demonstram oportunidades que podem ser vivenciadas pelos alunos desde os semestres iniciais. A participação da monitoria nesses eventos permite o compartilhamento das informações com os alunos, com uma visão e linguagem próximas dessa forma contribuindo para o debate em aula sobre o tema e facilitando a articulação entre a experiência, prática e a fala do professor sobre o conteúdo relacionado. É praticamente uma vivencia de extensão da sala de aula. Estes eventos, necessitam da mobilização dos alunos para a organização e participação. A articulação da monitoria nesse aspecto é de fundamental importância para identificar o interesse junto aos estudantes, a associação dos temas, a interface com o professor ou ainda o vínculo com outras disciplinas relacionadas. Esse envolvimento fortalece a participação dos alunos nos movimentos de luta essenciais para formação, ultrapassando os espaços institucionais da academia.

Considerações finais

A vivência desta experiência evidencia a importância da monitoria em compartilhar as experiências entre os pares, reconhecendo e identificando necessidades dos alunos da disciplina. Além disso, expande-se para cenários de prática onde o aluno pode visualizar o contexto do trabalho em saúde mental, assim como em relação aos movimentos sociais, possibilitando a ampliação do acadêmico de psicologia relacionando teoria com a prática e assim, oportunizando e viabilizando outras formas de conhecimento para além das práticas institucionais. Fazer assim a educação em ato.

Percebeu-se que a participação em eventos de saúde mental se apresenta como potencializadora para o processo de monitoria, possibilitando a construção da relação entre teoria e prática, bem como o reconhecimento e a importância desses espaços na formação e na luta pela defesa e garantia dos direitos sociais, numa psicologia ética, implicada e com compromisso social.

Palavras-chave


Monitoria; Saúde Mental Coletiva; Vivência