Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CONSEQUÊNCIAS APÓS O ABUSO SEXUAL INFANTIL E AS INTERVENÇÕES COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS NO SETING TERAPÊUTICO
Ally Kercia Rodrigues dos Santos, Daniel Cerdeira de Souza

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


O abuso/violência sexual contra crianças e adolescentes se configura como um grave problema de ordem social. O objetivo desta pesquisa é verificar as consequências  e as devidas práticas interventivas no atendimento clínico a partir da Terapia Cognitivo Comportamental com crianças e adolescentes que passaram pela experiência da abuso/violência sexual. A violência sexual contra crianças e adolescentes é definida como o envolvimento dos mesmos em atividades sexuais com um adulto, ou qualquer outra pessoa com idade superior, havendo assim, uma diferença de idade, tamanho e poder. A criança é usada como objeto sexual para gratificação das necessidades ou desejos do adulto, sendo ela incapaz de dar um consentimento consciente por conta do desiquilíbrio no poder ou de qualquer incapacidade mental ou física, tal violência ocorre por meio da coerção física ou através de artimanhaas psicológicas como a sedução, ameaças e é composta também por uma teia de segredos que coloca a vítima em constante situação de medo. Dentre as diversas formas de violência, o abuso sexual é uma das formas mais graves, recorrentes e geradoras de efeitos negativos para o desenvolvimento das vítimas. Constitui-se como um fenômeno universal, que atinge todas as idades, níveis sociais e econômicos, etnias, religiões e culturas. Geralmente, o autor da violência é alguém próximo a vítima, uma figura cuidadora que estaria longe das suspeitas. A pesquida é de natureza bibliográfica de revisão narrativa com abordagem qualitativa de investigação, tendo como fonte artigos indexados e livros voltados a atuação do Psicólogo na clínica individual a qual busca entender quais as implicações psicologicas de uma criança após ser abusada sexualmente e como a terapia cognitivo-comportamental pode ajudar clinicamente, pois as sequelas sofridos pela vítima podem afetar o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social de diferentes formas e intensidade. É justamente na percepção das consequências da violência sexual  que se encontra a relevância deste trabalho, visando contribuir para capacitação profissional de Psicólogos que trabalham com esta demanda. A importäncia do atendimento psicológico também justifica-se na reparação de traumas adquiridos e na prevenção de novas situações de violência sexual. É indiscutível que a TCC permite aos psicólogos recursos necessários para o conhecimento do universo infantil, oferecendo também à criança a oportunidade de interação com o outro, contribuindo dessa forma para o desenvolvimento apropriado de sua personalidade. Através deste estudo é possivel constatar a complexidade do abuso sexual que pode causar diversas consequências em crianças, as experiências de violência ocorridas na infância poderão interferir de modo significativo no desenvolvimento futuro, apresentando dificuldades emocionais, comportamentais, psicológicas e até transtornos mentais graves. As consequências do abuso sexual para crianças ou adolescentes podem incluir o desenvolvimento de transtornos psicológicos do humor, de ansiedade, alimentares, enurese, encoprese, transtornos dissociativos, hiperatividade, déficit de atenção e transtorno de estresse pós-traumático. Entretanto, o transtorno de estresse pós-traumatico (TEPT) é a psicopatologia mais citada como decorrente do abuso sexual e é estimado que 50% das crianças e adolescentes que foram vítimas desta forma de violência desenvolvem sintomas. Crianças e adolescentes podem, ainda, apresentar ideações ou tentativa de suicídio devido a autoimagem negativa e desesperança em relação ao futuro. Algumas podem desenvolver comportamentos autodestrutivos, e os sentimentos mais comuns são tristeza, raiva solidão, culpa e desesperança. Além de transtornos psicológicos, crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual podem apresentar alterações comportamentais, cognitivas e emocionais. Entre as alterações comportamentais destacam-se: conduta hipersexualizada, abuso de substâncias, fugas do lar, furtos, isolamento social, agressividade para consigo e para com o ambiente e para com os demais, mudanças nos padrões de sono e alimentação, automutilação e tentativas de suícidio. As alterações cognitivas incluem: baixa concentração e atenção, dissociação, refúgio na fantasia, baixo rendimento escolar e crenças distorcidas, tais como de que é culpada pelo abuso, diferença em relação aos pares, desconfiança e percepçao de inferioridade e inadequação, além de crenças nucleares de desamparo, desvalor e desamor. As alterações emocionais referem-se a sentimentos de medo, vergonha, culpa, ansiedade, tristeza, raiva e irritabilidade. A Terapia Cognitivo Comportamental tem sido aplicada no tratamento de crianças e adolescente vítimas de abuso sexual. Os programas de tratamento priorizam: psicoeducação sobre o abuso sexual, estratégias para manejo das emoções, pensamentos e comportamentos decorrentes do abuso, exposição e processamento de memórias relativas ao abuso através do desenvolvimento de narrativas sobre o abuso, e medidas de proteção para evitar revitimizações. As intervenções tem como alvos, principalmente sintomas de TEPT (revivência do evento traumático com pensamentos ou flashbacks, esquiva de lembranças e excitação aumentada).  A ansiedade e esquiva são trabalhadas com exposição gradual e dessensibilização sistemática, inoculação do estresse, treino de relaxamento e interrupção substituição de pensamentos perturbadores por outros que recuperem o controle das emoções. Sintomas de depressão são trabalhados com treinos de habilidades de coping e reestruturação de cognições distocidas. Problemas comportamentais são trabalhados com técnicas de modificação de comportamento, como o role play. Além disso, a Terapia Cognitivo Comportamental trabalha na prevenção de futuras revitimizações. Considerando as consequências negativas do abuso sexual para o desenvolvimento psicológico das vítimas, bem como os resultados positivos da terapia cognitivo-comportamental para a redução de sintomas e reestruturação da memória traumática. O processo terapêutico com a criança vitíma de abuso sexual, pode ser estruturado em 20 sessões e dividido em quatro etapas, sendo a preparação, que consiste em dessensibilizar para facilitar a auto-exposição, promovendo um clima de confiança que é o pré-requisito para a revelação do abuso sexual, revelação e exposição de sentimentos, ou seja, descrever o abuso sexual, falando, desenhando, jogando, mostrando e quaisquer outra forma para descrever com detalhes, da mesma forma para os sentimentos, que objetiva também dessensibilizar o relato sobre o abuso sexual e de sentimentos ligados a ele; aceitação, o qual visa aceitar a experiência de abuso e seu lugar na história de vida da criança, pois experiencias dificeis não podem ser totalmente esquecidas, mas devem ser assimiladas e transformadas, passando de algo insuportavelmente vergonhoso a uma triste lembrança; prevenção, para facilitar a aprendizagem de comportametos que visam autoproteção e impeçam a revitimização. Conclui-se que para o atendimento em situações de abuso sexual, é de fundamental importância o vínculo terapêutico, a interdisciplinaridade e o envolvimento familiar no tratamento, visando mudanças, de acordo com cada paciente.


Palavras-chave


Abuso sexual; Violência sexual; Consequências; Terapia cognitivo comportamental, Intervenção.