Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO E ARTICULAÇÃO DA REDE DE SAUDE: REFLEXÕES A PARTIR DOS PROFISSIONAIS NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Danielly Maia de Queiroz, Delane Felinto Pitombeira, Márcia Andréia Barros Mourá Fé, Lúcia Conde de Oliveira

Última alteração: 2018-01-21

Resumo


INTRODUÇÃO: Integralidade é um termo polissêmico, que pode ser compreendido por conjuntos de atributos, tais como propôs Mattos (2009): atributos das práticas dos profissionais de saúde, denominadas pelo autor como “boas práticas”; atributos da organização dos serviços; e ainda respostas do governo aos problemas de saúde. Em qualquer dos eixos que se trabalhe, o autor aponta a importância de se opor a reducionismos e à objetivação dos sujeitos, buscando voltar-se ao diálogo, à compreensão das necessidades dos sujeitos, e à melhor forma de atender a essas necessidades. Com vistas a garantir as condições de possibilidade para efetivação da integralidade, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido organizado em redes de atenção, tendo a atenção primária à saúde (APS) como ponto de partida da dimensão sistêmica do cuidado em rede, processo que implica a proposição de arranjos regulatórios e a coordenação e gestão do cuidado, possibilitando a articulação e a interlocução entre os diversos serviços. Cecílio (2009) nomeia o processo de “integralidade ampliada” como a capacidade de articulação em rede dos diversos serviços de saúde e ainda as ações intersetoriais. Concretizar tais processos no cotidiano dos serviços é desafiador, pois a literatura já aponta a adversidade dos incipientes mecanismos de referência e contrarreferência, dos ruídos de comunicação entre os diversos serviços e até mesmo a dificuldade de efetivação do acompanhamento longitudinal dos usuários. Feuerwerker (2011) considera que a “cadeia de cuidado em saúde” envolve arranjos que articulam acesso, vínculo e continuidade do cuidado, norteando-se pela integralidade e pelas necessidades de saúde. A autora afirma que mesmo diante da possibilidade de desencontros de expectativas e de relações nem sempre simétricas, a gestão do cuidado se propõe a superar: as insuficiências de conhecimento sobre a situação de vida das pessoas, a pobreza dos vínculos, a referência sem responsabilização, a contrarreferência não efetivada e os protocolos construídos unilateralmente que acabam não sendo adotados. OBJETIVO: Partindo dessa compreensão, o presente trabalho tem como objetivo apresentar as percepções de profissionais de duas unidades de saúde sobre a articulação da APS junto à rede de atenção, tendo como cenário o município de Fortaleza. METODOLOGIA: Para tanto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 22 profissionais (sendo 12 de nível médio e 10 de nível superior), as quais foram gravadas e transcritas, no período de julho 2015 a agosto de 2016. O material produzido foi analisado a partir de categorias temáticas. Ressalta-se que esse estudo faz parte da pesquisa “Organização das Redes de Atenção à Saúde no Ceará: desafios da universalidade do acesso e da integralidade da atenção”, desenvolvida pelo Laboratório de Seguridade Social e Serviço Social (LASSOSS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), e obedeceu às normas que regem a pesquisa com seres humanos, conforme resolução N° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UECE, CAAE n° 36453414.0.3002.5684. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Pode-se perceber que a integralidade do cuidado constitui um grande desafio a ser enfrentado pelo sistema, uma vez que os entrevistados apontaram dificuldades tanto no acesso aos serviços, quanto fragilidades na comunicação entre eles. Embora se reconheça a APS como porta de entrada, verifica-se uma deficiência na articulação com os outros pontos da rede. Ainda se percebe uma distância entre os diferentes níveis da atenção, fato que compromete a dimensão integral dos cuidados em saúde, além da função da APS como coordenadora da rede. A demora em conseguir realizar procedimentos (consultas e/ou exames) com alguns especialistas é mencionada pelos profissionais como dificultador do cuidado, uma vez que não se observou ampliação significativa da rede de serviços. O acesso a redes de outras linhas de cuidado, a exemplo da atenção psicossocial, também foi aspecto relevante, principalmente por nem sempre a rede dispor de haver profissionais que atendam às necessidades dos usuários. Em relação a isso, considera-se importante ressaltar a existência de poucas equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município, as quais seriam fundamentais para ampliar as ações da APS, inclusive no incremento das ações de promoção e prevenção à saúde, tornando-a mais resolutiva. Esse é um fator considerado importante, uma vez que parece haver um incremento de ações mais alinhadas com o âmbito individual dentro da perspectiva curativa, fragilizando a dimensão coletiva e dialógica necessária à compreensão integral da saúde, bem como à formação de equipes interprofissionais e interdisciplinares. Além disso, a observação da fragilização do controle social e da participação da população na conquista (e garantia) de direitos tem suscitado questionamentos, uma vez que fortalece uma postura menos ativa da sociedade, distanciando a dimensão política dos processos de cuidado e assistência. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante disso, considera-se que a articulação e a coordenação dos processos de cuidado em rede pela APS representa um grande desafio para a integralidade do cuidado, tanto no sentido do atendimento às necessidades da população, quanto na perspectiva de sua função dentro do sistema de saúde brasileiro. Mesmo com os avanços evidenciados por pesquisas e pela literatura, vive-se um profundo tensionamento fruto da apresentação da nova política lançada no ano de 2017. A Estratégia Saúde da Família se encontra ameaçada enquanto modelo fundamental e prioritário na organização da APS, colocando em xeque toda a construção e o reconhecimento da importância da mesma como mais alinhada à perspectiva integral, tomando por base o acolhimento e o vínculo entre profissional/equipe e usuário/comunidade.  Sua função como ordenadora da rede e coordenadora do cuidado, embora fragilizada em muitos contextos, necessita, antes de tudo, de mais investimentos para que se possa cumprir a função que lhe foi atribuída. As dificuldades que foram encontradas na pesquisa realizada fazem refletir sobre a forma de organização e resolução para o cuidado dentro da rede de atenção, mas, em nenhum momento, negam a relevância da APS dentro do sistema. Em oposição a isto, reconhece-se a complexidade e os desafios que são postos cotidianamente ao SUS, e mais especificamente à APS, reafirmando a importância de uma APS ampliada, integrada e participativa, para que cada vez mais se garanta o cuidado integral à população e se fortaleça os princípios de uma saúde pública e de qualidade.

Palavras-chave


Atenção primária à saúde; Redes de atenção à saúde; Processo de Trabalho.