Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Cuidando de quem cuida: ações multiprofissionais de promoção em saúde num hospital de urgência e emergência
Audenir Tavares Xavier Moreira, Jordana Rodrigues Moreira, Lucas Queiroz dos Santos

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Este trabalho trata-se de um relato de experiência vivenciado no Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza – CE. Hospital da rede de saúde pública, de nível terciário, 100% custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de urgência e emergência, referência Norte e Nordeste no socorro às vítimas de traumas de alta complexidade, com fraturas múltiplas, lesões vasculares e neurológicas graves, queimaduras e intoxicação exógena. Conhecido popularmente como hospital de grandes traumas, o IJF recebe diariamente pacientes vítimas de acidentes automobilísticos e por perfuração de projétil de arma de fogo (PAF) e de perfuração por arma branca (PAB). Como profissionais residentes da IV turma em urgência e emergência pela Escola de Saúde Pública do Ceará no período (2017 – 2019) pudemos, articular atividades de educação em saúde no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ). Este funciona no 7º andar e os pacientes, na sua grande maioria têm direito a acompanhantes e ficam internados por um longo período de tempo; sendo assim, pacientes de longa permanência. Nós, residentes em saúde, obedecemos a uma escala de rodízio, e no período que estivemos no CTQ procuramos desenvolver o projeto: Cuidando de quem cuida, porque percebemos as reais demandas e necessidades desses acompanhantes que vivem, nesse momento, em prol dos pacientes. É como se eles se doassem completamente para o outro e esquecem-se do seu autocuidado. Nesse contexto de dor, doação e sofrimento, pois o CTQ é uma unidade de alta complexidade, porque nela observamos desde pequenas queimaduras até grandes queimados, E esses pacientes passam por um tratamento chamado balneoterapia ou comumente conhecido nessa unidade como “banho anestésico”. A balneoterapia é um procedimento realizado em mesa de aço inoxidável normalmente com o paciente em jejum desde a noite anterior. A balneoterapia também chamado de banho anestésico é a limpeza das feridas, realizada pelo enfermeiro, sob supervisão da equipe médica. Antes da administração de drogas anestésicas, observa-se o estado geral do paciente, emprega-se a aplicação de soluções antissépticas e é feita a escovação de todo o corpo do paciente, não se restringido, portanto, as áreas queimadas. São realizados pequenos desbridamentos pelos cirurgiões. Dessa forma, a balneoterapia é um procedimento bastante delicado, pois envolve escarotomias, coleta de material para exames, trocas de acesso, enxertos, condutas que são potencialmente dolorosas para o paciente e refletem diretamente no cuidado desse pelo acompanhante. O objetivo desse projeto: despertar práticas do autocuidado para os acompanhantes de pacientes internados no CTQ, visto que este é um lugar restrito, uma unidade fechada, onde os acompanhantes têm contato direto com a dor de outro ser humano, que  muitas vezes trata-se de um familiar, um amigo ou conhecido. Desenvolvimento do trabalho: Nessa unidade de saúde e cuidado conhecida como CTQ, fizemos algumas intervenções por meio do grupo intitulado: Cuidado de quem cuida. Ele funcionava sempre às quintas-feiras, nos dois turnos: manhã e tarde, sendo que no horário da tarde fazíamos as reuniões com os acompanhantes sempre após o horário da visita para que não houvesse nenhum empecilho. O projeto funcionava na sala da Fisioterapia por ser um lugar espaçoso, onde poderíamos reunir os acompanhantes para o trabalho de cuidado em saúde. Fazíamos um dia de planejamento entre nós, residente, para vermos as temáticas interessantes. Começávamos com dinâmicas de “quebra gelo”, exercícios de alongamentos e depois discutíamos com os acompanhantes, temáticas como: hipertensão, diabetes, alimentação saudável, direitos previdenciários, higiene bucal, higiene corporal, higiene das mãos, equipamentos de proteção individual, normas da unidade, direitos e deveres do acompanhante, dentre outras. Para fazer o convite para os acompanhantes comparecerem, saíamos dois profissionais residentes em cada enfermaria, avisando o horário e o local da reunião. A maioria se mostrava receptiva, com exceção dos acompanhantes de alguns pacientes que estavam mais dependentes, devido os banhos anestésicos e sequelas mais graves. Quando terminávamos e voltávamos à sala da Fisioterapia, os acompanhantes já iam começando a chegar. Esperávamos, então, pelos que ficaram de comparecer para darmos início a atividade. Resultados: Nos encontros com os acompanhantes, percebemos o quanto esse momento de autocuidado era importante para eles. Nos encontros notávamos que muitos desabavam as suas lamúrias, falavam um pouco de si, e até choravam, como forma de alívio.     Os únicos acompanhantes que não participam eram os que ficavam com crianças por não terem com quem deixa-las. Nos dias dos encontros iam cerca de 10 a 18 acompanhantes e procurávamos colocar as cadeiras em forma de círculo para que todos pudessem ser ouvidos e percebidos. O autocuidado parte do interior é uma motivação que precisa ser despertada pela própria pessoa. Não podemos quantificar esse cuidado em saúde; mas podemos qualificar como um bem-estar, um protagonismo do sujeito que se sente emponderado, que se sente partícipe e capaz de expressar suas emoções, seus enfrentamentos, e acima de tudo compartilhar o cuidado, sem abrir mão de seu autocuidado. Essa vivência no CTQ foi exitosa, pois ampliou a visão de saúde como condicionantes e determinantes sociais. Trouxe os atores do cuidado para o cenário e os colocou debaixo do holofote de uma equipe de Residência Multiprofissional formada por enfermeiro, dentista, assistente social, nutricionista, psicóloga, fisioterapeuta, farmacêutica. O Cuidando de quem cuida foi um fazer saúde de forma humanizada, acessível e igualitária, onde todos os que cuidavam também  precisam ser cuidados. É uma forma de promover saúde e prevenir doenças num hospital de grande porte e terciário, onde o cuidador ou acompanhante não é o paciente e por isso não é acolhido e tratado pelos profissionais de saúde. Considerações finais: O projeto apresentado foi um marco inovador do cuidado em saúde no IJF, na unidade de queimados, Pudemos compreender e perceber a grandeza que uma equipe de residentes em saúde pode e deve promover no cuidado em saúde no ambiente hospitalar; sendo assim, apesar dos entraves que impediram o prosseguimento desse projeto. Este mostrou a sua motivação, cuidar de quem cuida. As vezes que esse projeto aconteceu foram suficientes para enxergarmos o outro, que é acompanhante, como pessoa digna do cuidado em saúde. A saúde foi promovida de forma multiprofissional no CTQ do IJF. Vivenciamos os princípios do SUS: universalidade, igualdade, equidade, integralidade. A promoção da saúde também acontece no nível terciário, em hospital de grandes traumas de urgência e emergência.    

 

 

 

 

 

 


Palavras-chave


Cuidado; Cuidador; Educação em Saúde