Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SAÚDE E MIGRAÇÃO INDÍGENA: A EXPERIÊNCIA DA EQUIPE DE CONSULTÓRIO NA RUA COM OS ÍNDIOS WARAO DA VENEZUELA
Rosiane Pinheiro Palheta

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação: do que trata o trabalho e o objetivo:A Equipe de Consultório na Rua (CnaR) é uma estratégia de saúde adotada em 2014 na cidade de Manaus, que visa a abordagem e atendimento integral á saúde das pessoas em situação de rua. O principal objetivo é ampliar o acesso aos serviços da rede de saúde Perpassando o tripé: atenção básica, saúde mental e redução de danos. Com a onda de migração de indígenas venezuelanos da etnia Warao para a cidade entre 2016 e 2017, mais de 500 indígenas estavam na cidade em condições insalubres e de risco pessoal e social, o que levou o poder local e organizações sociais a elaborar em conjunto, estratégias de acompanhamento e cuidado dessa população para minimizar a situação de vulnerabilidade.  O CnaR foi a equipe de saúde estratégica para o enfrentamento dessa situação, tendo como objetivo principal identificar os problemas e garantir atendimento aos Warao bem como o acompanhamento dos casos a partir de uma metodologia de atendimento que incluiu o posicionamento da equipe dentro do espaço onde havia concentração de maior número de indígenas, no caso, o terminal rodoviário de Manaus e as casas improvisadas ocupadas pelos migrantes. Desenvolvimento do trabalho: descrição da experiência ou método do estudo:A Equipe iniciou um trabalho com os índios venezuelanos a partir de incursões ao território para conhecimento da realidade e para estabelecimento de vínculo. Foi constatado, inicialmente, um número de 180 indígenas vivendo em condições insalubres, sobretudo crianças e idosos, que se encontravam, em sua maioria, com varicela.A equipe estabeleceu uma agenda prévia para realizar as consultas médicas in loco duas vezes por semana acompanhada pela equipe. As consultas eram realizadas a partir de uma mobilização prévia e triagem pela equipe para averiguar a existência de casos de urgência e emergência e as necessidades mais prementes de atendimento.A equipe realizava diversas ações como: viabilização e administração de medicação disponível, orientação na continuidade do tratamento, consulta de enfermagem (orientação do cuidado, aferição de pressão, peso, altura, perímetro cefálico, teste de glicemia dentre outras), orientação psicossocial, mobilização indígena, busca ativa, acompanhamento às consultas e exames e visitas e acompanhamento de casos complexos.O quadro abaixo sintetiza o número de atendimentos por ação durante as consultas médicas no período. QUADRO IIATENDIMENTOS E ATIVIDADES COM OS INDIGENAS 
ITEM ATENDIMENTOS E ATIVIDADES REALIZADAS TOTAL 1 ATENDIMENTO MÉDICO 5672 ENFERMAGEM 6893 PSICOLOGIA 5624 SERVIÇO SOCIAL 4025 DOMICILIAR 2316 AFERIÇÃO DE PRESSÃO ARTERIAL 3667 PESO 5678 ALTURA 5679 PERÍMENTRO CEFÁLICO 18610 TESTE DE GLICEMIA 7411 RECEITA DISPENSADAS 72412 DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS 1306613 MOBILIZAÇÃO DE INDÍGENA 7514 BUSCA ATIVA 7915 VISITAS AOS INTERNADOS 3316 IDOSOS 2017 PUERPERIO 3818 PUERICULTURA 7319 GRÁVIDAS 2520 NEBULIZAÇÃO 421 REUNIÃO DA EQUIPE 722 REUNIÃO INTERSETORIAL 723 AÇÃO INTERSETORIAL 724 ORIENTAÇÃO EM SAÚDE 7025 ADM DE MEDICAMENTO SUPERVISIONADO 197  TOTAL 18636Fonte: Equipe de Consultório na Rua- CNAR, Manaus, 2017.Os atendimentos médicos são realizados em conjunto com a equipe e todas as consultas são acompanhadas de orientação psicossocial, de enfermagem, atividades técnicas da equipe de técnicos em enfermagem, mobilização e busca ativa e produção e registros e relatórios técnicos. O registro da equipe é importante para ter um perfil mínimo epidemiológico dessa população. Dessa forma, Dentre os dados encontrados, percebe-se um alto índice de indígenas com parasitose intestinal, pediculose, gastrointerite, infecções das vias aéreas superiores, cefaléia e doenças de pele.QUADRO IIIATENDIMENTOS E ATIVIDADES COM OS INDIGENAS ITEM AGRAVOS/PROBLEMAS/SITUAÇÃO ADULTO CRIANÇA TOTAL1 CEFALEIA 47 5 522 IVAS 28 89 1173 DERMATITE 10 22 324 ESCABIOSE 4 19 235 PIODERMITE 3 9 126 PEDICULOSE 9 57 667 HIPERTENSÃO 20 0 208 ITU 6 0 69 MASTITE 3 310 ABSCESSO 3 4 711 GASTROENTERITE 17 49 6612 MICOSE 13 18 3113 PARASITOSE INTESTINAL 46 73 11914 ALGIA  TORÁCICA 4 0 415 VARICELA 1 3 416 ODONTO 7 2 917 ANEMIA 8 2 1018 DOR MUSCULAR 12 1219 HIPERPLASIA DA PRÓSTATA 1 120 DEFICIENTE 1 122 COLESTEROL ALTO 3 323 DESNUTRIÇÃO 2 175 17724 SUSPEITA DE DENGUE 1 125 SUSPEITA DE TB 2 226 GRIPE 5 10 1527 DOR ARTICULAR 2 2  TOTAL 258 537 795Fonte: Equipe de Consultório na Rua- Cnar, Manaus, 2017.Os problemas encontrados têm sido tratados levando medicação e administrando in loco durante as consultas bem como durante as visitas feitas pela equipe e que necessitam de continuidade. Ressalta-se que os casos de pneumonia e tuberculose não aparecem no perfil dos agravos de saúde, pois necessita de encaminhamento à alta complexidade, sendo necessária a busca ativa dos comunicantes para realização de exames para prevenção de casos novos. Esse acompanhamento também foi feito pela equipe bem como a realização de consultas e exames, atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde e nos Prontos Socorros. Em se tratando dos imigrantes o acompanhamento tem sido mais efetivo por tratar-se de indígenas que em sua maioria, ainda preserva exclusivamente, a língua nativa.O acompanhamento é contínuo da equipe aos indígenas de forma que também seja garantida a promoção e prevenção da saúde e não apenas a alta complexidade. Resultados e/ou impactos: os efeitos percebidos decorrentes da experiência:Um dos principais entraves para o trabalho da equipe foi a barreira lingüística uma vez que a maioria dessa população só fala a língua materna e alguns que conseguem compreender o espanhol, tem dificuldade no momento das orientações em saúde e na adesão ao tratamento.Outra situação delicada diz respeito ao acompanhamento na alta complexidade, onde diversas situações de internações eram necessárias e havia resistência da parte dos indígenas, sobretudo, quando envolviam os filhos. Houve alguns casos de evasões porque os indígenas não se adaptavam à alimentação e aos cuidados dispensados. O choque cultural é algo esperado e, levando em conta que são indígenas de outro país, as diferenças culturais são mais exacerbadas e exigiu da equipe maior flexibilidade nas ações.Um aspecto positivo se refere à maior adesão aos cuidados dispensados pela equipe e aos tratamentos oferecidos. Essa adesão ocorreu após reunião feita com os xamãs e pajés sobre as dificuldades nesse processo. Após esse diálogo, houve maior adesão aos cuidados propostos pela equipe.09- Considerações finais:O trabalho tem gerado bons resultados com um volume considerável de insumos e trabalho humano na frente saúde para esta população. Vale destacar que a intersetorialidade é um ponto muito positivo que tem apenas somado para o sucesso da ação. As limitações e entraves têm sido superados não apenas com compromisso da equipe, mas sobretudo com sensibilidade onde o valor humano é a diretriz principal que rege as ações da equipe. Muitos casos foram encaminhados, acompanhados e lograram êxito com a total recuperação da saúde e proteção social dessa população.



Palavras-chave


Indígena, Migração, Saúde