Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O CUIDADO DE ENFERMAGEM AOS RIBEIRINHOS DA AMAZÔNIA PARA A PREVENÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
João Enivaldo Soares de Melo Junior, Andréia Pessoa Da Cruz, Fábio Pereira Soares

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


APRESENTAÇÃO

O referente trabalho consiste no relato da experiência em uma viagem vivenciada por acadêmicos do curso de enfermagem da Universidade Federal do Pará, juntos a docente e orientadora responsável pelo projeto de extensão “Rio Acima, Rio Abaixo: A Enfermagem Cuidando da Pressão Arterial dos Ribeirinhos da Amazônia”. Tal projeto tem o intuito de levar assistência de enfermagem e promover educação em saúde sobre a hipertensão arterial sistêmica, para as comunidades ribeirinhas da região amazônica. Essa doença crônica, ainda que mostre respostas eficientes ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso, permanece sendo um desafio para a saúde pública, haja vista a sua alta prevalência na população mundial e altos custos médicos e socioeconômicos. O projeto também busca coletar informações através de formulários aplicados durante entrevistas semiestruturadas para o levantamento de dados epidemiológicos na região.

As viagens ocorrem quinzenalmente e são organizadas pelo programa Luz na Amazônia, o qual possui parceria entre a UFPA e a SBB (Sociedade Bíblica Brasileira). Os trabalhos desenvolvidos no projeto são oferecidos no próprio barco-hospital que oferece desde atendimentos de emergência até cirurgias de pequeno porte. Logo, buscamos ressaltar a importância do desenvolvimento de projetos que ofereçam qualidade de vida as comunidades em vulnerabilidade e precariedade, como os ribeirinhos. Ademais, evidenciar a eficiência da educação em saúde através de ferramentas educativas, como o “Quiz Hiperdia”, pois proporciona a autonomia dos usuários na qualidade de vida e prevenção de doenças crônicas como a hipertensão que, mesmo sendo assintomática, é capaz de comprometer o organismo como um todo levando a sérias complicações.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Os envolvidos na experiência são 2 acadêmicos do curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem da Universidade Federal do Pará, do 3° e 9° período sob orientação da docente da atividade curricular “Introdução à Enfermagem” e coordenadora do projeto citado. As viagens acontecem de 15 em 15 dias, na cidade de Belém do Pará, no rio Guamá e são realizadas em um barco-hospital que oferece estrutura completa para os mais diversos atendimentos de saúde, contemplando o trabalho da equipe multiprofissional de saúde, haja vista a presença de profissionais e acadêmicos de outros cursos como farmácia, medicina, nutrição, fisioterapia, entre outros.

O atendimento da equipe de enfermagem é dividido em três momentos, sendo respectivamente: apresentação dos discentes e da docente, a aplicação da dinâmica denominada “Quiz HIPERDIA” e a entrevista semiestruturada com aplicação do formulário, anamnese, orientações e assistências de enfermagem (análise de sinais vitais, dados antropométricos e teste de glicemia). No primeiro momento todos nós fomos apresentados aos participantes cadastrados no programa que foram admitidos ao barco para atendimento, falamos de forma geral o objetivo do projeto, bem como o seu funcionamento. Em seguida, buscamos saber o conhecimento prévio da comunidade em relação à hipertensão arterial sistêmica e o diabetes mellitus (geralmente associada à hipertensão) para instigar a participação de todos.

No segundo momento aplicou-se o “Quiz HIPERDIA”, esse consiste em uma dinâmica com perguntas e respostas relacionadas aos conceitos, sinais e sintomas, tratamento e prevenção da hipertensão e diabetes. Para o desenvolvimento da dinâmica foram utilizadas duas tecnologias educativas: um quadro com as perguntas do quiz e um dado em tamanho aumentado. Nós pedimos que alguém se manifeste para jogar o dado e ver qual número foi sorteado, em seguida retiramos a placa com o respectivo número que está cobrindo a pergunta do quadro e lemos em voz alta para todos os participantes. Solicitamos uma pessoa para responder a pergunta sorteada, independente de está acertando ou errando. Se houvesse necessidade, nós intervimos ao final de cada resposta acrescentando alguma informação pendente ou corrigindo as respostas baseando-se nas literaturas e utilizando uma linguagem ilustrativa, acessível e objetiva com exemplos relacionados à realidade da comunidade.

No terceiro momento realizamos a entrevista semiestruturada na qual buscamos esclarecer duvidas ainda presentes sobre as doenças, analisar os seus hábitos de vida e orientá-los para a adesão de comportamentos que proporcionam qualidade de vida. Os ribeirinhos já diagnosticados com hipertensão e/ou diabetes também foram orientados sobre a importância do tratamento medicamentoso associado aos hábitos do cotidiano. Em seguida prestamos serviços básicos de enfermagem como aferição dos sinais vitais (pressão arterial, temperatura, pulso e respiração), medidas antropométricas (peso, altura e índice de massa corpórea) e teste de índice glicêmico para comparar aos padrões de normalidade e, caso houvesse necessidade, solicitávamos à docente um encaminhamento para o atendimento médico. É valido ressaltar que a presença de queixas durante o atendimento resultou em intervenções mais específicas através da assistência de enfermagem garantindo conforto e bem-estar físico e mental.

RESULTADOS E/OU IMPACTOS

Durante a apresentação, quando falamos sobre o nosso intuito em ajudar a comunidade, conseguimos iniciar a construção de um ambiente interativo e descontraído, fundamental para o início da dinâmica propriamente dita.  Ao aplicarmos o “Quiz HIPERDIA”, houve participação ativa dos usuários, graças à segurança que foi passada a eles para exporem os seus conhecimentos adquiridos ao longo da vida. A complementação feita por nós após cada resposta também demonstrou ser benéfica para a interação, pois reafirmava a necessidade de ouvirmos para então intervirmos. Surgiram algumas dúvidas sobre as doenças ao final da dinâmica que claramente foram sanadas. Portanto, percebemos um entendimento básico sobre o conceito, sinais e sintomas, tratamentos e prevenções da hipertensão e diabetes.

No decorrer das entrevistas semiestruturadas observamos uma alta incidência de comportamentos, principalmente alimentares, que prejudicam a saúde dos ribeirinhos. A farinha de mandioca e de tapioca, o açaí, o peixe frito e o frango com pele são alguns dos alimentos presentes diariamente nas refeições que nos despertou preocupação em relação à prevenção de doenças crônicas e agravo das mesmas. Alguns usuários relataram sinais e sintomas característicos das referidas doenças, apresentado alterações nos padrões de normalidade durante a aferição de sinais vitais, dados antropométricos e teste de glicemia. Outros já eram diagnosticados como portadores de diabetes e hipertensão e estavam em tratamento medicamentoso. Logo, receberam orientações relacionadas aos hábitos alimentares, práticas de exercícios físicos e importância de seguir corretamente o tratamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dessa experiência na viagem proporcionada pelo projeto percebe-se o quanto é fundamental a construção de trabalhos como esses, haja vista a garantia da promoção da saúde por meio da educação em saúde e assistência de enfermagem às comunidades que se encontram em vulnerabilidade, como os ribeirinhos da região amazônica. Tais experiências também são benéficas para os acadêmicos da área da saúde, haja vista garantir a práxis, ou seja, o conhecimento teórico-prático necessário para a formação de profissionais capacitados no atendimento de populações em condições precárias, com poucos recursos financeiros e sem nenhum amparo à saúde. Por fim destaca-se o papel da enfermagem como fundamental, pois o olhar holístico é capaz moldar a assistência de enfermagem ao público envolvido bem como despertar interesse nestes em assumirem autonomia na própria saúde e qualidade de vida.

Palavras-chave


Hipertensão; Promoção da Saúde; Enfermagem