Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Ação Social em Comunidade Ribeirinha: uma Parceria entre Projeto Alfa e Cruz Vermelha
LÁZARA GABRIELA OLIVEIRA SILVA, Juliana Nascimento Viana, Amanda Hossaka Barbosa, Natasha Fujimoto, Adriano Pessoa Picanço Junior

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O extenso território brasileiro propicia o surgimento de populações variadas que não somente aquelas residentes em áreas urbanas e rurais. Dentro desse contexto, é possível encontrar as comunidades ribeirinhas. O termo ribeirinho refere-se aos indivíduos que vivem as margens dos rios, sendo um grupo comum na região norte, sobretudo no estado do Amazonas. Essas comunidades vivem distantes dos centros urbanos onde a cultura, arte, educação e serviços públicos como saneamento e saúde estão concentrados. Devido a isto e a dificuldade de acesso, comunidades ribeirinhas no interior do Amazonas acabam sendo negligenciadas pelo poder público, causando uma enorme dificuldade para os indivíduos ali residentes conseguirem de dispor de serviços públicos, sobretudo de saúde. Embora já existam iniciativas para levar atendimento de atenção primária à essas populações, o acesso à serviços de urgência e emergência ainda é muito complicado e quase impossível de ser realizado dentro dos Dez Minutos de Platina preconizados pelos protocolos internacionalmente validados que norteiam o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para que a vítima de um acidente sobreviva com o mínimo de sequelas. Isto é preocupante, pois comunidades ribeirinhas contam com pessoas de todos os tipos e idades, que estão expostas aos mais diversos riscos, desde trauma e lesões não intencionais a doenças cardiovasculares degenerativas como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico. Sabendo deste fato, a Cruz Vermelha do Amazonas convidou o Projeto Alfa – Manaus, vinculado a Pró Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e com sede na Faculdade de Medicina (FM), para participar de uma ação social realizada em uma comunidade, promovendo um dia de palestras sobre primeiros socorros e prevenção de acidentes com o objetivo de difundir conhecimentos sobre primeiros socorros e atendimento pré-hospitalar e assim fazer o máximo esforço possível para capacitar os ribeirinhos a atuar de modo a aumentar a sobrevida de indivíduos vítimas de traumas.

DESENVOLVIMENTO: A ação social foi realizada em uma comunidade satélite à cidade de Manacupuru, um município localizado na Região Metropolitana da cidade de Manaus, no estado do Amazonas. Para chegar até o local, foi necessário percorrer aproximadamente 90 KM de distância da capital de carro. Os acadêmicos de medicina ficaram no pátio de uma escola municipal na qual a Cruz Vermelha montou acampamento, onde os ribeirinhos esperavam atendimento médico e odontológico. Ao longo do dia, os alunos ensinaram aos moradores quais atitudes tomar para intervir em casos de acidentes como afogamentos; obstruções de vias aéreas em adultos, crianças e recém- nascidos; paradas cardio-respiratória (PCR); convulsão; acidente vascular encefálico (AVC); fraturas; queimaduras de primeiro, segundo e terceiro grau; entre outros. Para tanto, fizeram uso de manequins de demonstração que simulavam um ser humano e permitiam a prática de técnicas como a ressuscitação cardiopulmonar (RCP), e também de trabalho em equipe, sempre convidando aqueles que encontravam-se no local aguardando as consultas para participar e treinar as técnicas demonstradas uns nos outros, fazendo assim com que os ribeirinhos assumissem um papel ativo no processo educacional de que participavam, aumentando as chances daquelas informações não serem esquecidas tão facilmente. A maior parte das pessoas participantes eram do sexo feminino que estavam ali acompanhadas dos filhos, buscando atendimento para eles. Também houve grande volume de adolescentes, de ambos os sexos, que chegaram ao local atraídos pelas atividades oferecidas ou foram enviados até lá por parentes que desejavam que os jovens buscassem atendimento médico e odontológico. Inicialmente, os acadêmicos de medicina encontraram um pouco de dificuldade em se comunicar em linguagem acessível que prendesse a atenção dos ribeirinhos nas palestras e ao mesmo tempo traduzisse os aspectos importantes das técnicas de socorro ensinadas. Além disso, houve uma resistência inicial por parte dos moradores em participar das atividades. Felizmente, os alunos conseguiram transpor este obstáculo, encontrando palavras simples, porém, eficazes para se expressar e assim conseguiram convencer os indivíduos que num primeiro momento estavam tímidos e retraídos a saírem das suas zonas de conforto e experimentar praticar as técnicas de primeiros socorros nos manequins e uns nos outros. Ao fim da atividade, os ribeirinhos sentiam-se totalmente à vontade para fazer perguntas, tirar dúvidas e contar situações que eles próprios ou conhecidos tenham passado que se assemelhavam as situações esplanadas ali e de como não souberam como reagir.

RESULTADOS: Ao fim do dia, foram atendidos 189 moradores, em sua maioria mães que relataram já ter vivido muitos daqueles cenários, sobretudo com seus bebês. Os acadêmicos puderam perceber que aquela comunidade não detinha conhecimentos básicos sobre primeiros socorros e prevenção de acidentes que seriam de muita utilidade em seu dia a dia, uma vez que a comunidade está afastada da capital e que o município o qual está mais próxima não conta com serviço de atendimento pré- hospitalar suficiente para atender todos os agrupamentos em seu entorno. Fazer promoção de saúde na área de primeiros socorros pode significar uma diminuição das mortes e das sequelas causadas por trauma que não seriam evitadas de nenhuma maneira, haja vista que os ribeirinhos daquele local não possuíam conhecimentos básicos que poderiam salvar suas vidas.

CONCLUSÕES: Esta experiência proporcionou o conhecimento das dificuldades enfrentadas pelos ribeirinhos, além de vivenciar a importância dos primeiros socorros em um local que o atendimento especializado demora para chegar. É importante salientar que a troca de informações tornou-se mais proveitosa conforme os acadêmicos de medicina conseguiram realizar uma educação em saúde baseada nos conhecimentos prévios da comunidade, seu ambiente de trabalho, lazer e convivência, as atividades diárias que cada grupo participante desempenhava e seus interesses, respeitando os valores do morador e permitindo que ele se sentisse a vontade e motivado a participar, tendo em vista que o assunto discutido deixou de ser aquilo que os alunos queriam ensinar para tornar-se uma construção de possíveis soluções para problemas diários da vida ribeirinha. Deste modo, houve muita preocupação em respeitar as posições da comunidade quanto ao modo como eles cuidavam de sua saúde e das estratégias que adquiriram para evitar acidentes, ouvindo aqueles que ali surgiam e se sentiam dispostos a aprender  sobre primeiros socorros. A comunidade visitada expressou compreensão do que lhes foi exposto, bem como gratidão pela assistência prestada. Os alfistas obtiveram êxito, principalmente como agente de cuidados, levando a saúde mais próxima destas pessoas que são tão carentes nesse aspecto.

Palavras-chave


extensão; ação social; comunidades ribeirinhas