Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PLANTAS MEDICINAIS NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DE MEDICINA: VISIBILIZANDO A POLÍTICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
Daniele Vasconcelos Fernandes Vieira, Aluísio Kennedy De Sousa Filho, Ákilla Jerônimo Guimarães, Quincas Chavez Moreira Maia, Raul Guilherme Oliveira Pinheiro, Maria das Graças Barbosa Peixoto, Yêrêcê Athaíde Pimentel, Márcia Oliveira Coelho Campos

Última alteração: 2018-01-24

Resumo


Apresentação: Objetivou-se relatar o início do processo de implantação da cultura de uso das plantas medicinais e de fitoterápicos para potencialização dos tratamentos de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT), em caráter integrativo e complementar aos alopáticos por estudantes de medicina em uma Unidade de Atenção Primária em Saúde. Descrição da Experiência: A experiência de implantação da cultura de uso das plantas medicinais e dos fitoterápicos por estudantes do primeiro semestre do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (UECE) em uma Unidade de Atenção Primária em Saúde do município de Fortaleza, localizada na área de abrangência da Coordenadoria de Saúde da Regional IV (CORES – IV), foi pensada no contexto das Visitas Técnicas planejadas e realizadas pela Disciplina de Introdução à Saúde Coletiva, por meio da qual os 40 estudantes passaram os últimos 05 dias de aula, no período de 07/11, 14/11, 21/11, 28/11, 05/12/17, no horário de 07h às 11h30, divididos em grupos, imersos no território das UAPS e do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), entrando em contato com o SUS, identificando no campo das relações entre profissional-usuários-gestão, das interações no serviço, da organização, dos fluxos, das ações, atividades e dos programas ofertados, os princípios doutrinários e organizacionais do SUS expostos e dialogados nas aulas teóricas no transcorrer do semestre, bem como alicerçando em suas observações as diretrizes preconizadas pela Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), apontando desafios, valores, superações. Esta experiência relatada foi vivenciada por um grupo de 04 acadêmicos, sob a supervisão de uma professora, em parceria, negociação e participação constante da gestão, funcionários, trabalhadores e usuários do serviço. No primeiro dia de imersão no território, os estudantes com o estímulo da professora supervisora, buscaram sentir as necessidades, as singularidades, as potencialidades do território, realizando, para esse fim, uma observação sistemática, direcionados por um roteiro elaborado pelo corpo docente da disciplina, apreendendo as informações necessárias para construção de seus relatórios como produto final das visitas técnicas e, posterior, compartilhamento e discussão em sala de aula, na ocasião do encerramento do semestre. Contudo, considerando a flexibilidade estrutural do relatório, transpuseram os direcionamentos estabelecidos e traçaram novas rotas. Partiu de uma inquietação do grupo de estudantes, junto com a professora, elencar informações sobre o uso ostensivo de medicamentos alopáticos para o controle da Hipertensão, Diabetes Mellitus e Ansiedade. Com base na escuta realizada com as enfermeiras, com os médicos, com os Agentes Comunitários de saúde (ACS) e com o Auxiliar de Farmácia, montou-se uma oficina de plantas medicinais e fitoterápicos com a finalidade de dialogar sobre o potencial terapêutico das plantas em caráter integrativo e complementar ao tratamento de Hipertensão, Diabetes e, também de Ansiedade, a qual, embora não seja uma DCNT, foi solicitada sua inclusão pela enfermeira do serviço, tendo em vista a ampla demanda por ansiolíticos na Unidade. Como segundo momento do planejamento da oficina, os estudantes realizaram uma leitura aprofundada nos manuais, guias e livros sobre o Programa Farmácias Viva, sobre a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, atentando para os benefícios, indicações, contraindicações, modos de cultivo, preparo, consumo, fornecimento de Fitoterápicos, articulando a presença fundamental dos profissionais de saúde no acompanhamento e monitoramento desse uso, evitando a prática indiscriminada e prevenindo os riscos, de modo que o saber acadêmico científico possa somar ao saber popular, sem causar rupturas com os hábitos pré-existentes na população, mas, pelo contrário, reconfigurando uma forma de potencialização dos tratamentos. No terceiro momento, obteve-se as mudas de Plantas Medicinais e as Bulas de Fitoterápicos produzidas pelo Horto Medicinal Professor Francisco José de Abreu Matos da Universidade federal do Ceará (UFC), quais sejam, a planta de colônia para a hipertensão, a erva-cidreira, o capim-santo para ansiedade e hipertensão; e a pata-de-vaca para diabetes mellitus. No quarto momento, produziu-se um material educativo, no formato de banner, o qual foi exposto na UAPS, contendo fotos e informações acessíveis para melhor identificação das plantas pelos usuários, próximo ao local onde as mudas foram plantadas. Concluído o planejamento, atribuiu-se o nome de “Oficina de Saberes sobre Plantas Medicinais e Fitoterápicos”, realizada no mesmo espaço do Acolhimento, no último dia da Visita Técnica, com participação dos usuários, profissionais da Unidade, estudantes de outros cursos da área da saúde e de diferentes Instituições de Ensino Superior (IES), que se encontravam em estágio supervisionado e internato. Realizou-se a oficina concomitante à distribuição de chás, com tempo de duração total de 1h40min, tendo em vista a alta dinamicidade da movimentação dos usuários, em decorrência de suas próprias agendas da manhã. Foi possível congregar neste espaço um total de 30 participantes. Resultados: Durante a oficina, os usuários e profissionais, teceram perguntas, comentários, relataram sobre como utilizam as plantas e para quais os fins; relataram os resultados positivos em seus lares e ambientes frequentados pelos mesmos referente ao uso de chás medicinais; contextualizaram também os casos que não tem efeitos, segundo suas perspectivas, ocasião em que os estudantes puderam explicar os motivos pelos quais não conseguiram resultados favoráveis; perguntaram sobre a possibilidade de utilização desses chás mesmo sob o efeito de medicações alopáticas. Os profissionais, por sua vez, compartilharam sobre seu desconhecimento a respeito dessas plantas e sobre as formas de interação com os alopáticos; apontaram ainda os receios de prescrição e indicação sem uma formação adequada para essa prática; Assegurados nas discussões que emergiram, idealizou-se um curso de capacitação para o cuidado com plantas medicinais e fitoterápicos na Atenção Primária em Saúde, como fruto da parceria entre o Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará, intermediado pelo Campo da Saúde Coletiva, tendo como ponto de partida a Disciplina de Introdução à Saúde Coletiva, a Unidade de Atenção Primária em Saúde (UAPS) participante da Oficina, o Conselho Local de Saúde e o Programa Farmácia-Vivas da Universidade Federal do Ceará (UFC). Para finalização, os estudantes, inspirados na metodologia da Formação Holística de Base (FHB), incentivada pela professora supervisora, fecharam a experiência com uma “Obra Prima”, ou seja, com sua contribuição para o Planeta e para a Humanidade, onde plantaram junto com a professora os usuários, crianças, adultos, idosos e demais participantes, as novas mudas, compartilhando com a comunidade os pilares da Consciência Ecológica Pessoal e Social, da Vida Sustentável, do Contato com a Natureza para o bem-estar e promoção da saúde. Considerações Finais: A oportunidade de conhecer o território de produção do cuidado em nosso Sistema Único de Saúde, sob a referência da porta de entrada, ainda no primeiro semestre, possibilitou-nos apurar a visão na prática de como se faz girar a roda de cuidado, no sentido do fortalecimento e da visibilidade das Políticas fundamentais como a das Plantas Medicinais e Fitoterápicos em nossa rede, por meio da percepção das necessidades e das potencialidades do Território. O processo de planejamento da Oficina reforçou a relação de corresponsabilidade formativa entre o Ensino e o Serviço na implantação de novas estratégias referente ao tratamento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis e da Ansiedade, através da Cultura de uso das Plantas Medicinais, abrindo espaços para que a Política seja implementada efetivamente, com o envolvimento dos diferentes atores sociais em todas as suas fases. Espera-se que se torne uma cultura permanente e com impactos positivos na dinâmica de cuidado da população, havendo ativa participação dos profissionais de saúde no monitoramento e na avaliação contínuos da experiência.


Palavras-chave


Formação Médica; Plantas Medicinais; Atenção Primária