Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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TERRITÓRIOS E REDES VIVAS DE SAÚDE NUMA COMUNIDADE QUILOMBOLA DA AMAZÔNIA.
Joana Freitas, Júlio Cesar Schweickardt

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação: Este trabalho trata- se de pesquisa de mestrado em andamento, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia- PPGCASA da Universidade Federal do Amazonas-UFAM, cujo objetivo geral é analisar as redes de saúde da comunidade Quilombola Santa Tereza do Matupiri, na relação com o território. A referida comunidade foi reconhecida no ano de 2013 como remanescente dos quilombos, juntamente com outras 04 (quatro) da mesma região, sendo localizada à margem direita do Rio Andirá, município de Barreirinha, região do Baixo Amazonas, local onde inicialmente aportaram os primeiros quilombolas no final do século XIX.

Desenvolvimento: A escravidão marcou a história do Brasil, época que reflete até os dias atuais, exclusão, desigualdades e racismo institucionalizado. Nesse período triste da história brasileira, surgiram os quilombos, inicialmente lugar de refúgio de escravos fugitivos, imagem que segundo Freitas, et. al.(2011), é diversamente reconstruída a cada novo momento, para reafirmar a luta de uma minoria étnica.

A partir de 1988 o Estado brasileiro reconhece oficialmente as comunidades quilombolas e afirma seus direitos territoriais por meio do Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).

Para Moura (2012) os territórios onde vivem esses afro-brasileiros significam mais que simples espaços, a terra além de garantir a subsistência do grupo, tem importância histórica e cultural, pois é onde acontecem as transmissões dos valores éticos e morais, dos conhecimentos definidos pelas manifestações, pelas tradições e pelo respeito à ancestralidade.

Espaços geográficos, embora aparentemente estáticos, são palcos de grandes movimentações que vão muito além de um limite territorial.

A construção do cotidiano dos indivíduos se materializa no entorno de coisas que apresentam valor simbólico, e neste sentido, os territórios revelam o que os indivíduos são enquanto seres pertencentes a uma sociedade (SARAIVA, CARRIERI E SOARES, 2014).

Em se tratando da Amazônia, pode- se dizer que sua principal singularidade é o ciclo das águas, caracterizando-a como território líquido. Anualmente, enchente e vazante influenciam e determinam os modos de vida das populações de terra firme e de várzea, principalmente desta última. A terra firme não é afetada diretamente pela enchente dos rios, mas a várzea, por outro lado, é alagada todos os anos (SCHWEICKARDT et all, 2016).  Essa característica de território líquido faz com que a saúde na Amazônia necessite de um sistema apropriado, pois o ciclo das águas modifica tanto os caminhos quanto as pessoas e molda tanto o acesso móvel quanto os próprios profissionais de saúde. O espaço onde se projeta o trabalho, é fruto de uma construção social, lugar em que se constrói a territorialidade, se constituindo como um espaço de prática e de produção de vida. A territorialidade está relacionada ao modo como as pessoas se apropriam, organizam e dão significado ao lugar.

Este estudo visa compreender o uso do território e sua relação com o ambiente na produção do cuidado em saúde, bem como mapear as redes de relações dos quilombolas quanto a saúde e a organização social, e também entender o acesso e a utilização da rede formal de saúde pelos comunitários. Investigar as redes existenciais dos quilombolas da comunidade Santa Tereza do Matupiri nos permitirá compreender a noção de territorialidade, identidade social e práticas de cuidado em saúde, tanto pelos recursos tradicionais quanto pelos recursos formais disponíveis no sistema público de saúde. Na ideia de redes existenciais do sanitarista Emerson Merhy (2014), os sujeitos são redes vivas, que estão o tempo inteiro produzindo movimentos, elaborando saberes, construindo e partilhando cuidados. A noção de rede viva tem a ver com
as conexões existentes entre indivíduos e coletivos, nos diferentes contextos e modos de viver.

A metodologia que utilizaremos buscará construir coletivamente um mapa do território considerando os usos sociais dos comunitários; mapeamento das relações dos moradores quanto a sua organização social, por meio da  formulação de um roteiro de entrevista e registro em diário de campo para obtenção de informações quanto a composição e estrutura familiar, histórico da localidade, meios de subsistência, processos e relações de trabalho, religiosidade, formas de entretenimento e outros, a serem complementadas com pesquisa documental em diferentes fontes, tais como atas da associação dos moradores, fichas da Estratégia Saúde da Família – ESF, além de fontes orais por meio do relato de pessoas- chave da localidade, como diretor e professores de escola, líderes religiosos, liderança comunitária e Agente Comunitário de Saúde. Por fim, para melhor entendimento sobre o uso da rede formal de saúde pelos comunitários, vamos utilizar a metodologia de usuário-guia, processo que compreende o relato da produção do cuidado por meio do acompanhamento a um usuário no serviço de saúde, no qual o cuidado não se limita à realização de procedimentos técnicos, mas sim na relação entre o usuário e o profissional da saúde. “Trata-se de uma narrativa produzida que tem como referencial o usuário; é, portanto, uma descrição usuário centrada” (EPS EM MOVIMENTO, 2014).

Resultados/Impactos: A pesquisa está no levantamento bibliográfico sobre o tema, as características e o modo de vida dos residentes da comunidade quilombola Santa Tereza do Matupiri. Ao mesmo tempo, estamos discutindo e nos apropriando das categorias de redes vivas, território líquido e territorialidade, saúde ribeirinha e políticas públicas de saúde na Amazônia, especialmente a atenção básica em saúde. Explorar e descrever o modo de vida dos residentes da referida comunidade, possibilitará conhecer este grupo social dentro da sua especificidade e contribuirá para a geração de informações relevantes sobre os diferentes atores sociais da região amazônica e suas formas de promover saúde, uma vez que grande parte dos estudos acerca de quilombolas trata da luta desse grupo social pelo reconhecimento e demarcação de territórios, o que parece ter se tornado sua principal marca, perfeitamente compreensível, considerando o contexto histórico de seu surgimento.

Considerações Finais: Considerando a diversidade da Amazônia com as suas distintas características geográficas, culturais, sociais e históricas, sendo evidentes a necessidade e a importância de se conhecer os diferentes territórios amazônicos e suas redes existenciais, buscamos com os resultados desta pesquisa, contribuir para a discussão das políticas públicas na Amazônia, bem como para a melhoria das condições de vida da população quilombola.


Palavras-chave


Território; Redes Vivas; Saúde na Amazônia