Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CARACTERIZAÇÃO DOS DETERMINANTES SOCIAIS E ECONÔMICOS DAS GRÁVIDAS ACOMPANHADAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA SOB A ÓTICA DE GRADUANDOS DE SAÚDE EM MANAUS.
Andrezza Mendes Franco, Mirelly Tavares Feitosa Pereira, Rafael Esdras Brito Garganta da Silva, José Fernando Marques Barcellos, Celsa da Silva Moura Souza, Maria Regina Torloni, Suany Serudo Meirelis

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação: Diversos quesitos influenciam a condição de saúde dos indivíduos, especialmente nos âmbitos social e econômico. O conceito de “determinantes sociais da saúde”, usado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a partir de 2011, define bem os parâmetros e as influências desses fatores no processo saúde-doença. Para este trabalho dar-se-á ênfase em pontos que desencadeiam a estratificação social, no que concerne a questões como a distribuição de renda, estrutura das classes sociais e a educação como provedora de conhecimento necessário para a manutenção de uma saúde de qualidade. Tem como finalidade caracterizar os determinantes sociais e econômicos das gestantes acompanhadas na atenção primária sob a ótica de graduandos de saúde. Desenvolvimento: Quanto ao método, foi realizado um estudo transversal em 10 Unidades Básicas de Saúde (UBS’s) situadas em 4 zonas distritais de saúde em Manaus – Amazonas. Entre 2014 e 2017, empregaram-se técnicas de coleta que incluíram questionário com questões fechadas referentes às questões socioeconômicas, tais como: escolaridade, estado civil, idade e classe econômica, que serão contempladas neste trabalho. No que se refere à classe econômica foram utilizados os critérios da ABEP (Associação Brasileira de Empresas e Pesquisa) e a escolaridade levando-se em consideração a quantidade de anos de estudo de cada entrevistada. As informações eram captadas por meio de entrevistas com as gestantes e informações contidas na Caderneta da Gestante. Ambas as informações tiveram prévia autorização das usuárias por meio da assinatura de Termo de Livre Esclarecido, aplicados por graduandos das seguintes áreas: medicina, enfermagem, nutrição e educação física oriundos da Universidade Federal do Amazonas, UFAM. Ao final, confeccionaram-se planilhas e gráficos para uma melhor interpretação dos dados coletados. Além disso, foram feitas atividades educativas com o intuito de auxiliar essas mulheres a superar os obstáculos impostos pelos determinantes sociais de saúde e alcançar tanto uma gestação quanto uma vida saudável para elas e seus bebês, sendo efetuadas uma vez a cada mês, sendo ministradas pelos próprios graduandos ou por outros profissionais especializados na área da saúde das gestantes. O conteúdo dessas apresentações abordava temas relevantes para esse público como amamentação, prática de exercícios físicos, prevenção de pré-eclampsia, violência obstétrica, alimentação saudável, entre outros. A pesquisa foi aprovada no CEP 528759/2013 UFAM/ AM. As analises foram realizadas por meio do programa estatístico, STATA 1.6.  O projeto financiado pela FAPEAM/PPSUS/AM. Resultados e/ou impactos: A pesquisa contou com uma amostra 977 mulheres que realizavam o pré-natal nas 4 zonas distritais da capital amazonense. Os resultados obtidos com base no exame das planilhas foram colocados na forma de números brutos e porcentagens, aqui abordaremos as porcentagens. No quesito faixa etária, 23,4% das usuárias entrevistadas tinham menos de 20 anos de idade; 66,22% tinham entre 20 e 34 anos; e 10,33% 35 anos ou mais. Quanto ao estado civil, 51,1% relatavam união estável; 24,15% eram casadas; 23,02% estavam solteiras; e 1,74% outros. Com relação à escolaridade, 27,94% haviam estudado entre 0 e 8 anos; 24,36% entre 9 e 11 anos; e 47,69% estudaram por 12 anos ou mais. Já no que se refere à classe econômica, 0,61% enquadravam-se na classe A; 0,92% na classe B1; 7,88% na B2; 22,5% na C1; 44,52% na C2; e 23,23% pertenciam a classe DE. Diante desse panorama, constata-se que a maioria das gestantes tem entre 20 e 34 anos, uma faixa etária que compreende grande parte da população economicamente ativa, mas que devido à gravidez muitas delas param de trabalhar ou até mesmo não procuram um emprego – tendo em vista que a condição de gestante inclui uma série de limitações (como o fato de não poder se esforçar tanto quanto fazia anteriormente, os quadros recorrentes de náuseas, cuidados redobrados, e outros), apesar de que não seja considerada um empecilho para que a mulher possa exercer uma atividade remunerada –, essa questão trabalhista reflete também na situação econômica, pois as classes que agruparam um maior quantitativo de mulheres grávidas foram C1, C2 e DE, que correspondem àquelas com menores rendas. A escolaridade, por outro lado, demonstrou que muitas delas possuíam um grau de instrução bom, mas a parcela que tem uma menor escolaridade também possui um número significativo. Analisando esse quadro mais profundamente, percebe-se o quanto fatores socioeconômicos, que não estão diretamente relacionados com o setor de saúde, impactam nas condições de saúde das gestantes, visto que a partir do momento em que elas estejam inseridas em um contexto de iniquidades sociais, a capacidade de sustentar uma vida saudável fica comprometida. Como um impacto encontrado de acordo com os relatos, uma situação que se repete bastante dentre as usuárias que participaram da pesquisa é o da futura mãe que não completou o ensino médio, que não trabalha, possui uma família grande e uma fonte de renda pequena e cuja gravidez não foi planejada. Essa mulher enfrenta dificuldades para ter uma alimentação saudável – até porque, muitas das vezes, pensam que devido o baixo poder aquisitivo não é possível adquirir determinados alimentos e ter uma dieta balanceada –, para praticar exercícios, comparecer aos postos de saúde e realizar exames necessários no pré-natal – geralmente em locais distantes de sua residência e para chegar lá faz uso de um transporte público em sua maioria precário –, além de que provavelmente não possui acesso a saneamento básico, o que a deixa mais propensa a contrair doenças. Sendo assim, é crucial a cooperação de diversas entidades com o intuito de reduzir as disparidades representadas pelos determinantes sociais de saúde e assim garantir o acesso a uma saúde de qualidade tanto para esse público, quanto para a população em geral. As atividades educativas, por sua vez, mostraram-se como uma forma de atenuar essas barreiras, tendo em vista que as orientações dadas acarretam um grande impacto positivo, comprovado nos relatos de melhora no andamento das gestações por parte das gestantes quando retornam aos encontros mensais e também pelo bom prognóstico que recebemos das maternidades. Considerações finais: Com base na análise dos dados coletados, é possível visualizar que essas pessoas, em geral, estão mais vulneráveis a uma tripla carga de doenças (infecções e saúde reprodutiva; doenças crônicas; violência e causas externas), além de enfrentarem dificuldades para manter uma vida saudável e quando enfermas dificuldades também para receber um atendimento de qualidade, em um sistema de saúde público com déficits significativos. Diante disso, cabe à equipe de saúde, ciente de todo esse processo, trabalhar de modo a atender esse público da melhor maneira possível e elaborar ações a fim de que os tratamentos por eles designados efetivos, combatendo as desigualdades e assegurando o direito de acesso à saúde de qualidade, independente de religião, cor, condição social ou econômica. Além disso, existe a importância da interação entre o ensino, o serviço e a graduação, o que proporciona o aprendizado de dois fatores fundamentais para o trabalho do profissional de saúde em qualquer nível de assistência: o trabalho em equipe e a escuta profissional voltada ao reconhecimento das variáveis socioeconômicas e o efeito delas na qualidade do acesso a saúde direta ou indiretamente. Também é interessante evidenciar a educação em saúde como ferramenta eficaz para alcançar uma boa qualidade de vida tanto para as mães, quanto para seus filhos.


Palavras-chave


variáveis socioeconômicas; gestantes;unidade básica de saúde