Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Integração universidade - serviço de saúde - comunidade: formação em atenção farmacêutica para preceptores do curso de Farmácia da UFJF-GV
Larissa Nunes de Assis, Luisa Assis Sentinele, Mariana Cristina de Assis Ramos, Clarissa Campos Barbosa de Castro, Paulo Henrique Dias de Carvalho, Larissa de Freitas Bonomo, Tiago Marques dos Reis, Simone de Araújo Medina Mendonça

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Apresentação: É de responsabilidade do farmacêutico atender as necessidades farmacoterapêuticas dos pacientes por meio da resolução e prevenção de problemas relacionados ao uso de medicamentos (PRM). Essas ações podem ser concretizadas nos sistemas de saúde com a oferta dos serviços de Gerenciamento de Terapia Medicamentosa (GTM), os quais têm apresentado resultados clínicos, econômicos e humanísticos satisfatórios. Ao prover o serviço de GTM, o farmacêutico deve fazer uma avaliação integral do paciente, tanto em relação ao modo de utilização de medicamentos, como na identificação dos efeitos que estes causam na sua saúde. Deve elaborar planos de cuidado de forma compartilhada com o paciente, realizando intervenções que visam o sucesso da farmacoterapia, assim como monitorar os resultados alcançados pelo paciente. Uma das possibilidades de integrar serviços de GTM no Sistema Único de Saúde é a provisão deste serviço por farmacêuticos do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), uma vez que o Ministério da Saúde preconiza que os mesmos devem desenvolver atividades assistenciais em apoio às equipes da Estratégia Saúde da Família. O município de Governador Valadares – MG conta atualmente com oito farmacêuticos atuando no NASF, porém a prática clínica dos mesmos não está sistematizada, o que dificulta a avaliação de seu impacto na saúde da população. Visando contribuir com melhorias nessa situação, assim como qualificar os processos de trabalho de potenciais preceptores da graduação em Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora, campus Governador Valadares, uma equipe de docentes, técnicos e discentes propôs parceria com a secretaria de saúde para oferecer formação e apoio técnico-científico para a sistematização da prática clínica dos farmacêuticos do NASF, tendo o GTM como referência.

Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um projeto de extensão universitária em interface com pesquisa.

As ações de extensão estão em execução desde agosto de 2017, sendo estruturadas da seguinte forma:

* Curso teórico-prático em atenção farmacêutica: Para a formação inicial em atenção farmacêutica, docentes, técnicos administrativos em educação e estudantes de graduação em Farmácia organizaram casos clínicos como estratégia didática para a qualificação. Tais casos foram o ponto de partida para o ensino do processo racional de tomada de decisões em farmacoterapia, da saúde baseada em evidências e da prática centrada no paciente. Foram quatro encontros ao longo do segundo semestre de 2017, sendo um encontro por mês com duração de 4h. No intervalo entre os encontros, os participantes puderam ter acesso a materiais do curso, enviar atividades e ter contato com a equipe da universidade por meio de um ambiente virtual de aprendizagem. As estudantes do projeto de extensão foram responsáveis por administrar tal ambiente. As atividades do semestre foram encerradas com um evento em que tanto a equipe da universidade quanto os farmacêuticos do serviço de saúde puderam aprofundar os estudos teóricos sobre a prática, contando com a presença de docente de outra instituição, expert na área. O projeto terá continuidade em 2018, tendo como base a teoria da aprendizagem experiencial. Para isso, a equipe da universidade oferecerá apoio in loco aos farmacêuticos do NASF, exercendo funções assistenciais nos campos de prática, envolvendo-os de forma gradual e com responsabilidades crescentes no cuidado direto ao paciente. Paralelo às atividades práticas, serão desenvolvidos encontros na universidade para reflexão e conceituação abstrata sobre as vivências, com retorno à prática, de forma espiralada, no intuito de transformar a experiência clínica em conhecimento clínico. Simultaneamente, haverá a realização de simulações e treinamento de habilidades, conforme necessidades educacionais percebidas na prática.

* Grupo de Estudos em Gerenciamento da Terapia Medicamentosa: Também em 2018 está prevista a instituição de encontros quinzenais para discussões de casos clínicos, protocolos e diretrizes terapêuticas, além de textos que deem embasamento teórico para as atividades em desenvolvimento. A gestão dos serviços de GTM ofertados pelos farmacêuticos do NASF também será alvo de estudos neste grupo. Pretende-se formalizar, junto à Secretaria Municipal de Saúde de Governador Valadares, o caráter de programa de educação permanente do referido grupo, respaldando a contabilização do tempo de participação no mesmo como carga horária de trabalho dos farmacêuticos do NASF. Tal estratégia permitirá maior adesão dos profissionais à ação de extensão, possibilitando a plena efetivação da mesma. Vale ressaltar que a participação da equipe da universidade na rotina de trabalho do profissional está sendo planejada de forma conjunta, evitando interferir negativamente na mesma e preocupando-se em manter o máximo possível a organização da unidade de saúde onde as ações serão desenvolvidas.

As ações de pesquisa visam gerar conhecimentos sobre o processo de formação em atenção farmacêutica de profissionais já inseridos no sistema de saúde, como os farmacêuticos NASF, os quais não tiveram formação clínica em seus currículos de graduação. Logo, compreender como se dão processos educacionais que tenham potencial de gerar mudanças no exercício profissional em benefício de pacientes e do sistema de saúde é um tipo de conhecimento de grande relevância. Além disso pretende-se compreender o processo de definição de atribuições dos diferentes atores envolvidos na integração universidade - serviço de saúde - comunidade, estratégia ainda pouco explorada nas graduações em Farmácia no Brasil. Para atingir tais objetivos, está sendo utilizada a pesquisa qualitativa com emprego do método de observação participante durante os encontros presenciais do curso. Tal escolha se justifica pela potencialidade das análises qualitativas em compreender e interpretar de forma holística fenômenos como aqueles que são objeto dessa investigação. O mesmo será feito em 2018, nas atividades de apoio in loco e nos encontros na universidade. Serão ainda realizadas entrevistas semi-estruturadas e grupos focais com todos os participantes (farmacêuticos e equipe da universidade), com posterior análise temática dos dados. As ações de pesquisas serão financiadas com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), via edital Pesquisa Para o SUS (PPSUS).

Resultados e/ou impactos: Um dos principais resultados alcançados até o momento é o engajamento dos farmacêuticos do serviço de saúde nas atividades propostas, com nítido desenvolvimento das competências iniciais pretendidas. Outro resultado que já podemos observar é a melhor integração entre as equipes da universidade e do serviço de saúde, uma vez que os encontros têm permitido momentos não apenas de formação profissional, mas de estreitamento de laços e fortalecimento da noção de corresponsabilidade pelo sucesso do sistema de saúde. Esperamos que as ações previstas para 2018 promovam o avanço no desenvolvimento de competências clínicas pelos farmacêuticos, assim como incremente ainda mais a cooperação interinstitucional.

Considerações finais: Ao buscar a aproximação com o serviço de saúde e a comunidade, a equipe deste projeto pretendeu melhorar os processos de trabalho dos farmacêuticos do SUS, melhorando consequentemente a formação dos estudantes de Farmácia e gerando benefícios para os pacientes no presente e no futuro. Acreditamos que a missão da universidade é promover a formação de futuras gerações de profissionais, interferindo também nos processos educacionais dos atuais trabalhadores do sistema de saúde. Assim, completa-se um ciclo em que o aprendiz pode espelhar-se e almejar a carreira de excelentes profissionais da rede, e não somente de professores e outros profissionais da própria universidade. O que é ensinado na universidade deixa de ser utopia para se tornar algo palpável e factível no mundo real.


Palavras-chave


integração ensino-serviço de saúde-comunidade; preceptores; educação permanente; graduação em Farmácia