Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O Trabalho em “Ato Vivo” no CAPS Benjamim Matias Fernandes: vivenciando o cotidiano do cuidado às famílias a partir das visitas domiciliares e ações de Apoio Matricial no território.
Nayandra Stéphanie Souza Barbosa, Rejeane Melo Lima Barros, Silvia Batista Nery

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


Apresentação: O presente relato tem como objetivo explicitar as experiências de visitas domiciliares e ações de Apoio Matricial vivenciadas por profissionais do Centro de Atenção Psicossocial Benjamim Matias Fernandes (CAPS III), localizado na zona centro sul de Manaus, incluindo seu território de abrangência. Esse ponto de atenção à saúde caracteriza-se enquanto um serviço especializado em saúde mental da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Em funcionamento 24 h, a unidade conta com a atuação de uma equipe multiprofissional (psicólogos, assistente social, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionista, psiquiatras), realizando acompanhamentos aos usuários e suas famílias através de acolhimentos, oficinas terapêuticas (práticas expressivas, corporais, cidadania, etc.), grupos de psicoterapia com usuários, grupos de apoio ao familiar, plantão psicológico, acompanhamento nutricional, orientação social, consulta psiquiátrica, intervenções em rede (visitas institucionais, apoio matricial) e visitas domiciliares, sendo essas últimas as principais práticas interventivas que favoreceram a observação da dinâmica de articulação de rede no território. Para tanto, salientamos que o conceito de território é fundamental no contexto da saúde mental por se tratar não somente da definição de uma área geográfica de responsabilidade dos serviços, mas também pela proximidade dos contextos reais das pessoas, favorecendo seu acesso, além de propiciar o conhecimento e a interação com as dimensões da vida cotidiana dos sujeitos e de sua rede social. Dessa forma, trabalhar no território do sujeito requer conhecer e operar com os recursos e saberes das pessoas, das famílias, bem como das instituições públicas e sua comunidade. Assim, atendendo aos propósitos deste relato de experiência, apresentaremos algumas vivências de ações que estavam sendo ofertadas para além dos muros institucionais, enfatizando particularmente aquelas utilizadas pela equipe para a efetivação da assistência às famílias em âmbito domiciliar e em território, buscando observar os aspectos psicossociais em situação e refletir sobre a potência de práticas de trabalho em “Ato Vivo”.

Desenvolvimento do trabalho: As práticas de cuidado que visavam contemplar estas especificidades de demandas estavam sendo realizadas por uma equipe nomeada de Equipe de Apoio Matricial, composta por uma assistente social, uma psicóloga, uma psiquiatra, por meio de visitas domiciliares e ações de Apoio Matricial, sobretudo quando havia a necessidade do CAPS articular com os serviços da Atenção Básica de Saúde (ABS), a saber, Unidades Básicas de Saúde (UBS), Estratégias Saúde da Família (ESF ou UBSF) e Núcleos de Apoio à Família (NASF). Quanto à metodologia, as intervenções extramuros eram planejadas de acordo com as demandas que chegavam ao serviço, havendo uma agenda de marcação de visitas (domiciliares e institucionais), as quais eram realizadas as segundas e quartas-feiras, somente no horário matutino e quando tinham transporte disponível, geralmente cedido pela Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA). Assim, este relato traz algumas observações realizadas em um universo de seis visitas domiciliares distintas e quatro ações de Apoio Matricial, que possam contribuir na nossa discussão, favorecendo reflexões também sobre quais as demandas que levam à realização de ações de cuidados em âmbito familiar e quais os diálogos que emergem quando há a busca destes serviços em prol das famílias em foco.

Resultados e/ou impactos: A partir de nossas vivências, constatamos que ainda estar em construção esse processo de cuidado extramuros e que a pouca cobertura de serviços de saúde comunitária territorializados em Manaus dificulta essa continuidade de forma efetiva, havendo apenas um ou outro caso em que essa continuidade é garantida, sobretudo quando há a existência de UBS, ESF, NASF ou policlínicas no território do sujeito. E são estes casos que gostaríamos de apresentar, pois dentre as vivências que o trabalho no CAPS nos possibilitou, as experiências analisadas neste relato tomam uma significação especial por se tratar das ações de Apoio Matricial em sua essência, inéditas entre os serviços envolvidos, e tão igualmente enriquecedoras e essenciais a todos os sujeitos (usuários, familiares, trabalhadores, pesquisadores, comunidade) que compuseram estas cenas e as tornaram exemplos reais de Apoio Matricial em Manaus. Cabe destacar, que ao adentrar em cada um desses encontros, mantivemos nosso olhar atento ao cotidiano de cuidados nas famílias, buscando desta forma observar os aspectos psicossociais e fatores que emergiam nestas ações, que pudessem implicar em seus acompanhamentos de saúde. Por isso, consideramos pertinente caracterizar os casos de acordo com o “lugar” em que estas famílias apareceram no discurso, nas práticas e no imaginário dos sujeitos em cena. Assim, observamos três tipos de concepções distintas no que tange aos núcleos familiares visitados: como apoio, como problema e como necessidade. Nesse contexto, as duas primeiras concepções nos fazem pensar sobre como a “presença da família” tanto pode ser um fator protetivo, como pode ser um fator de risco no cuidado à saúde, em contrapartida, a terceira concepção nos leva a refletir que a “ausência da família” também é ponto de discussão, pois observamos que “não ter família”, por si só, era fator de preocupação para as equipes, dependendo da gravidade do caso. Tais observações nos fazem pensar que apesar dos inúmeros desafios que se apresentam aos profissionais para que consigam atuar de forma satisfatória e levar até os sujeitos melhorias nos processos de saúde-doença vivenciados, acreditamos que a atuação em território através das visitas domiciliares e, sobretudo, do Apoio Matricial em contato com a rede de cuidados do sujeito e sua família, mostrou-se uma potente maneira de minimizar as lacunas existentes no cuidado cotidiano às famílias, a partir do momento que se propõe o estabelecimento de um trabalho em conjunto, coletivo, compartilhado, possibilitando a construção de um novo olhar sobre os sujeitos e seus meios.

Considerações finais: Diante destas observações, consideramos que essas experiências podem servir como “casos exemplares” de que o matriciamento deu certo! Que é possível ele funcionar na nossa realidade manauara mesmo com um déficit de 16 CAPS para uma cobertura considerada ideal e com menos de 60% de cobertura de Atenção Básica, considerando nosso índice populacional. Para tanto, acreditamos que a melhor maneira de fortalecer essa esperança em tempos melhores na saúde mental e potencializar essa prática é compartilhando nossas vivências, sensibilizando outros profissionais e dando continuidade ao acompanhamento, à participação e às práticas de Trabalho em Ato Vivo na articulação de rede entre CAPS e ABS. Ressaltamos, portanto, que estas unidades da Atenção Básica, demonstraram um admirável trabalho, ao passo que quando há uma articulação de forma efetiva, a inserção da família – sujeito incluído – no seu território de abrangência é facilitada, na medida em que cria vínculos em toda a rede e que tanto os serviços da ABS, como os CAPS e outros pontos da rede intersetorial, corresponsabilizam-se pelo cuidado, beneficiando o acompanhamento dos sujeitos e sua circulação na rede, em consonância com as especificidades de seus cotidianos de cuidados familiares.


Palavras-chave


Palavras-chaves: Trabalho em Ato Vivo; CAPS; Visita Domiciliar; Apoio Matricial; Território.