Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Produção do Alumínio na Amazônia Brasileira: impactos no ambiente e na saúde dos trabalhadores.
Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira, Laura soares martins Nogueira, Elizabeth Moreira dos Santos, vania barroso carneiro

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


Introdução

A cadeia produtiva do alumínio primário no estado do Pará- Amazônia brasileira abrange três estágios: inicialmente o minério de bauxita é extraído em diversos municípios do estado, depois refinado em óxido de alumínio (alumina) e, finalmente, é fundido em lingotes de alumínio, essas duas etapas da empresa metalúrgica é realizada principalmente no município de Barcarena (PA).

O Projeto Brasil Sustentável e Democrático/FASE (2004), avaliou os riscos de degradação ambiental no processo de transformação da bauxita em alumínio,  possibilitando verificar: a degradação do solo pela extração da bauxita a céu aberto; a geração de toneladas de resíduos na extração; a produção de lama vermelha resultante da produção da alumina, contendo óxidos de ferro, titânio e silicatos de sódio e alumínio, potencialmente contaminantes de lençóis freáticos;  a emissão de particulados e gases das plantas de refino, além da emissão de particulados de fluoretos, fluoretos gasosos e gases CO² e SO², resultantes da combustão de coque e piche.

As indústrias de alumínio alegam ser dotadas de sistemas de controle com eficiência de 99% da retenção do material particulado. Entretanto, essa eficiência pontual não se reproduz quando se fala de emissões secundárias. Faz parte da tecnologia de controle da indústria do alumínio utilizar a própria alumina como fluído de adsorção para recuperação dos gases de fluoreto, pequenos vazamentos dessa fração de material particulado inalável (alumina), adsorvida com gases tóxicos (fluoreto e compostos orgânicos), representam um efeito aditivo na ação tóxica, representando grande ameaça ao meio ambiente e à saúde do trabalhador (SANTOS, 2009).

As populações tradicionais com o tempo passaram a sentir o impacto dos grandes projetos. Pode-se destacar, por exemplo, a destruição da cobertura vegetal da área dos Parakanã (grupo indígena do Tocantins) e alteração do ecossistema, com a inundação do lago resultante da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (fornecedora de energia elétrica para a produção do alumínio primário). Houve também desapropriação de famílias da região, em função da área alagada, com mudança das relações de trabalho, terceirização do setor, novos modelos de gestão da produção e da segurança e saúde ocupacional também se fizeram sentir. Saliente-se que tal cenário não é exclusivo de uma empresa específica, mas de outras empresas da cadeia do alumínio, que interferiram inclusive nas notificações de irregularidades relacionadas à saúde do trabalhador aos órgãos competentes, como afirma Nogueira (2011).

Metodologia

Trata-se de avaliação qualitativa em que foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas com trabalhadores e trabalhadores, familiares, representantes de organizações sindicais e gestores da empresa, com objetivo de discutir a organização do trabalho e saúde dos trabalhadores, em uma empresa de Alumínio na Amazônia Brasileira, sendo posteriormente organizadas em núcleos de sentido e eixos temáticos.

Discussão e Resultados

Os trabalhadores relataram que ao longo do tempo a redução no número de trabalhadores diretos gerou intensificação do trabalho, assim como, a cobrança por metas de produção originaram maior pressão exercida pelos gestores. Aspecto que atinge não só o modo como se faz a gestão da produção, mas como esta se relaciona a gestão da segurança e saúde dos trabalhadores.

Percebe-se a partir da fala dos empregados, uma discrepância entre o discurso sobre valorização da segurança apregoada pela empresa e a sua concretização no trabalho real. Muitas das vezes, as recomendações e normas de segurança são postas de lado pelos trabalhadores com a anuência velada de gestores, para atender a demanda por produção. Assim, a possibilidade de adoecimento ocasionada pelos riscos físicos, químicos e ergonômicos presentes no processo produtivo do alumínio, a organização do trabalho nessas empresas é fator potencialmente adoecedor.

Estudos realizados por Gomes (2002) e Nogueira (2011) em empresa de produção de alumínio no norte do Brasil, indicam que o calor é uma das principais queixas dos trabalhadores. Outros estudos buscam estabelecer a relação entre concentrações elevadas de alumínio no organismo e patologias como Alzheimer (Del Rio, 2004), sintomas de intoxicação por alumínio assemelham-se aos sintomas do Alzheimer, deste modo, destacam-se as alterações gastrointestinais, nervosismo extremo, dores de cabeça, anemia, alterações das funções hepáticas e renais, alterações de fala, déficits de memória, entre outros.

De acordo com Castro (2009), no âmbito do sistema músculo-esquelético, há associação entre a desmineralização óssea e a exposição ao alumínio; quanto ao sistema cardio-vascular, pode haver hipertrofia e arritmias cardíacas; além de colestases e degeneração de células hepáticas e alterações no sistema endocrinológico.

Subjetivamente, o adoecimento aparece para o trabalhador como tragédia, pois interrompe a trajetória da vida profissional e pessoal. De acordo com Nogueira (2011), para além do sofrimento gerado pelo próprio estigma do adoecimento, o sofrimento resulta de uma relação com a organização do trabalho adoecedora, posto que o adoecer é a dimensão do reconhecimento da empresa pela dedicação e engajamento do trabalhador que está em jogo, colocando em xeque o ser trabalhador, aquele que pelo trabalho dedicou-se e sonhou com uma vida melhor.

Por fim, a mais recente mudança no governo brasileiro marcada pela chegada de Temer à Presidência da República em 2016, revela o Estado brasileiro mais afinado aos interesses do capital transnacional e as reivindicações da elite nacional. Como consequência já se observa retrocessos no âmbito do trabalho e da questão ambiental com a Reforma Trabalhista (Lei nº13.467 de 13 de julho de 2017) e a proposta de alteração da legislação ambiental já aprovada pela Câmara de Deputados.

A Reforma Trabalhista anuncia um agravamento do processo de precarização do trabalho no Brasil com possíveis impactos no âmbito da segurança e saúde dos trabalhadores.

Considerações Finais

O cenário atual aponta para um aumento da exploração do trabalho no Brasil, que trará diversas consequências, com agravamento do quadro, já precário, da segurança e saúde dos trabalhadores, que mesmo os jovens Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PLANSAT) e Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST) não conseguiram mitigar. Da mesma forma, a precarização das relações de trabalho tornarão os trabalhadores mais vulneráveis à aceitação dos riscos presentes no processo produtivo das empresas, pelo medo de perder o trabalho. Tal contexto traz aos trabalhadores, sindicalistas e operadores da política de segurança e saúde do trabalhador o enorme desafio de encontrar estratégias de enfrentamento em um cenário tão adverso. Fato semelhante a ser enfrentado por todos aqueles que lutam por um meio ambiente saudável.

Referências Bibliográficas

DEL RÍO, H.E.S. El alumínio: su relación com la enfermedad de Alzheimer.2004.[Guadalajara]. Disponível em: <http://hector.solorzano.com.mx/articulos/ aluminio.html>. Acesso em: 5 ago. 2006.

FASE. Como o Brasil Exporta Natureza – Os impactos dos produtos eletrointensivos. Projeto Brasil Sustentável e Democrático / FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional). Rio de Janeiro, 2004.

GOMES, V. L.B. Novas estratégias empresariais e repercussões nas condições de trabalho: reflexões sobre o caso Albras. In: COUTO, R. C.; CASTRO, E. R.; MARIN, R. A. (Orgs.). Saúde, trabalho e meio ambiente: políticas públicas na Amazônia. Belém: NAEA, 2002. p. 260-289.

NOGUEIRA, Laura S.M. O Sofrimento Negado: Trabalho, Saúde/Doença, Prazer e Sofrimento dos Trabalhadores do Alumínio do Pará – Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (PDTU/NAEA/UFPa). 2011.

SANTOS, Elio L. Cadeia Produtiva do Alumínio: Processo Industrial e Fontes de Poluição. In: ALMEIDA, Rogério. Alumínio na Amazônia: saúde do trabalhador, meio ambiente e movimento social. São Luís: Fórum Carajás, 2009.


Palavras-chave


Saúde e Trabalho; Acidentes de Trabalho; Produção de Alumínio na Amazônia Brasileira