Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O legado acadêmico na Atenção Primária em Saúde: Oficina de caixas organizadoras de medicamentos com idosos em Unidade Básica de Saúde em Manaus, Amazonas
Bruno Vianei Real Antonio, Iuri Matias Oliveira Schreiner, Raquel Rodrigues Ferreira Rocha Alencar, Mauro Magaldi Lins, Lilian Cesar Salgado Boaventura, Sílvia Borges, Adelle Soares Gomes, Daniela de Jesus Pereira Segadilha

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


Apresentação: Relata-se a experiência de estudantes de medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) na promoção de saúde através da confecção artesanal, juntamente com um grupo de idosos, de caixinhas de medicamentos para maior adesão terapêutica, facilitação na tomada correta e regular, bem como para a prevenção do esquecimento ou uso incorreto de baixas ou excessivas doses farmacológicas. Objetiva-se descrever o processo de confecção das caixinhas no âmbito da Atenção Primária em Saúde (APS), sua importância para a população idosa, bem como suas percepções e expectativas.

Desenvolvimento do Trabalho: A experiência ocorreu na Unidade Básica de Saúde (UBS) Enfermeira Ivone Lima dos Santos, localizada na Zona Leste da cidade de Manaus, Amazonas, em maio e junho de 2017. Contou com a permissão e incentivo da coordenação da UBS e preceptores médicos especialistas em medicina de família e comunidade que lá trabalham. Utilizou-se o “Espaço Saúde”, uma sala ampla com mesas e cadeiras, destinada a atividades comunitárias e reuniões.

Através de parceria firmada com a equipe multiprofissional do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), surgiu a iniciativa da promoção de saúde, por meio da construção manual de pequenas caixas de medicamentos, uma metodologia ativa e participativa direcionada à população idosa.

A obtenção dos materiais contou com o apoio da farmácia da UBS, que gentilmente cedeu algumas dezenas de caixas vazias de medicamentos, do mesmo tamanho e formato. Utilizaram-se também fitas adesivas, pincel marcador permanente preto, emborrachados nas cores azul, amarelo e laranja, tesoura e cola quente.

O primeiro momento com o grupo de idosos foi marcado pela apresentação da ideia, checagem da aceitação e receptividade da mesma, escuta das opiniões e solicitação das receitas médicas de uso regular para planejamento do número de caixinhas e a disposição das figuras e prescrições.

Para facilitar a montagem, os emborrachados tiveram formatos de sol e lua desenhados e recortados previamente pelos estudantes. O segundo momento foi a realização da oficina de confecção das caixinhas organizadoras de medicamentos. Um total de 12 idosos participaram da montagem de suas caixinhas, colando-as umas às outras na lateral com cola quente. Optaram pelas cores de sua preferência, tamanho das letras e/ou figuras e disposição das mesmas.

Cada espaço da caixa organizadora era destinado a somente uma medicação. Eram coladas as figuras do sol ou da lua, desenhados relógios de parede com a hora da tomada da medicação ou em números extensos, escrito o nome da medicação em letras de forma legíveis e grandes, com a concentração do fármaco e número de comprimidos ou mililitros a serem tomados de acordo com as especificidades das receitas médicas e necessidades individuais.

Todos os participantes foram estimulados a montar suas caixas organizadoras com as próprias mãos. As medicações de uso em jejum ou aquelas em que estava prescrito somente metade de um comprimido tinham suas caixinhas adaptadas com o recorte e colagem de somente a metade do sol para simular o amanhecer e o desenho de um comprimido partido ao meio. Outras adaptações foram sugeridas e utilizadas pelos próprios participantes.

Ao término da oficina, foi organizada uma roda de conversa composta pelos idosos, acadêmicos de medicina, equipe multiprofissional do NASF e Agentes Comunitárias de Saúde (ACS). As críticas e expectativas dos idosos foram escutadas com qualidade e atenção. Criou-se espontaneamente um espaço de diálogo e proximidade entre o público alvo e os profissionais de saúde e graduandos. Fotografias da oficina foram feitas, com consentimento dos participantes, para registrar todo o processo de trabalho.

Resultados e/ou Impactos: Durante o estágio acadêmico na UBS Ivone Lima, os estudantes de medicina acompanharam o serviço das equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) em 2 ambientes distintos: nas dependências da UBS; e nas visitas domiciliares.

Nestes dois espaços uma grande percepção veio à tona em relação à população idosa: a elevada frequência do uso incorreto das medicações prescritas e, portanto, a recorrência de agravos em saúde ou precário autocontrole das doenças.

A inquietação dos acadêmicos perante à reversibilidade dessa situação em saúde motivou a criação de uma estratégia simples e prática: as caixinhas organizadoras de remédios como ferramenta facilitadora e útil para os idosos.

Atrelar a tomada correta dos medicamentos às caixinhas confeccionadas manualmente foi uma forma encontrada para os idosos atribuírem maior valor agregado e importância ao tratamento das suas enfermidades.

A autonomia em relação à própria saúde e autocontrole de doenças e padecimentos na população idosa é imprescindível para aumentar a expectativa e qualidade de vida. Tomar correta e regularmente medicações terapêuticas e profiláticas é essencial para a prevenção de agravos e manutenção da homeostase.

Dificuldades como analfabetismo, baixa escolaridade, amaurose ou outros distúrbios de acuidade visual, além de questões sociais envolvendo solidão, falta de cuidadores ou abandono familiar foram grandes agravantes da irregularidade terapêutica e autocontrole inadequado de doenças.

Atentou-se para as idiossincrasias, cultura, valores e dificuldades próprias de cada idoso. A especificidade e detalhamento da oficina resultaram em caixinhas organizadoras individualizadas, de fácil entendimento e utilização.

As expectativas dos idosos foram relatadas durante a roda de conversa. “Eu tomava meus remédios ao mesmo tempo. Agora entendi que tem hora pra cada pílula.” Foi uma percepção registrada. Outra impressão foi “Lá em casa os remédios ficavam todos na mesma tigela. Tinha hora que eu me perdia. Não sabia qual comprimido tomar.” Uma fala confirmatória importante foi “Vocês vão ajudar eu e meu velho (esposo) a tomar os remédios direito.”.

A repercussão da oficina com os idosos foi grande, de maneira a existir o pedido de nova oficina para a população. A equipe multiprofissional do NASF prestou todo apoio e auxílio para a realização deste momento. Posteriormente, foi realizada capacitação com as Agentes Comunitárias de Saúde, com o intuito de dar continuidade à essa modalidade de promoção e prevenção de saúde.

Os internos deixaram na farmácia um modelo da caixinha de medicamentos com a intenção de despertar curiosidade na população e difundir essa ideia de organização e cuidado com os medicamentos.

Considerações finais: A formação acadêmica em medicina ambientada no nível primário de assistência em saúde é um vasto campo de aprendizagem e percepções. A realização da “oficina de montagem das caixas organizadoras de remédios” foi um pequeno legado na atenção primária em saúde que acadêmicos de medicina deixaram durante sua produtiva passagem na UBS Ivone Lima.

Esperou-se contribuir para a continuidade do cuidado em saúde das pessoas, especialmente dos idosos neste caso. Além disso, desejou-se gerar mais autonomia e melhoria no processo de autocuidado e corresponsabilização pela saúde.


Palavras-chave


Atenção Primária em Saúde; Acadêmicos de Medicina, Caixa Organizadora de Medicamentos, Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)