Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CONSULTA MOTIVACIONAL DA ENFERMAGEM COM OBESOS: INTERAGIR E OLHAR PARA AS FORÇAS PROTAGONISTAS E TRANSFORMATIVAS DO SER
Daniele Vasconcelos Fernandes Vieira, Ana Flávia Lima Silva, Francisca Lara Ruth de Oliveira Lima

Última alteração: 2018-01-24

Resumo


Apresentação. Objetiva-se identificar em uma perspectiva humanista as ambivalências presentes no portador de obesidade, focando na compreensão de sua força para mudanças positivas. Diante da problemática da obesidade, a equipe multiprofissional na atenção primária em saúde tem um papel importantíssimo nas orientações preventivas, e essas abordagens incluem as orientações não apenas a reeducação alimentar e atividade física, mas ressaltando que a obesidade é uma epidemia e que o excesso de peso já aponta como um fator de risco para doenças como o diabetes mellitus, dislipidemias, hipertensão arterial, coronariopatias, insuficiência cardíaca, refluxo esofágico, colelitíase, gota, infertilidade, amenorreia, dismenorreia, maior risco de câncer de mama, reto, cólon, próstata, síndrome de ovário policístico, entre outros. Descrição da Experiência. Esta experiência tem como referência a disciplina de Enfermagem em Saúde do Adulto e do Idoso II, do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Vale do Jaguaribe, localizada no município de Aracati, estado do Ceará. No âmbito da Disciplina, foi incentivado aos alunos, em estágio na Atenção Básica, em um Posto de Saúde, a escolha de um usuário portador de uma doença crônica não transmissível. A partir dessa escolha, a etapa subsequente foi conhecer o histórico individual, histórico familiar, fatores de risco, e a realização do exame físico, identificando também os diagnósticos de enfermagem de acordo com a SAE – Sistematização de assistência de Enfermagem, sendo que a principal intervenção seria a escuta e o foco em ascender a motivação subjetiva. A experiência de realização da consulta motivacional ocorreu no mês outubro de 2017, constituindo-se de quatro encontros com cerca de 40 min cada, sendo que o primeiro e o último momento seriam divididos em exame físico e pergunta norteadora. E o segundo e terceiro momento conduzido apenas pela pergunta e escuta ativa. Resultados. Primeira consulta: momento iniciado com histórico da paciente, abordando o quadro clínico geral. Escutamos a história da usuária em relação à presença da obesidade em sua vida, desde a infância., identificando em sua fala, os fatores que estavam direta e indiretamente conectados ao seu processo de adoecimento devido á obesidade. Ao finalizarmos a coleta das informações da usuária, dos dados físico, sinais vitais, seguimos com a pergunta norteadora a qual se constitui em saber “Como a pessoa de quem cuidamos se sente diante do diagnóstico de obesidade”. Sentimos, nesse momento, o quanto esse diagnóstico assusta quando junto com ele a pessoa recebe uma série de informações sobre os riscos para sua saúde, trazendo a pressão externa para que emagreça, afetando a interação familiar e social de um modo geral. Abordamos sobre a importância da atividade física e ela afirmou que tinha dificuldades, mas que tentaria buscar algo que estivesse dentro de suas possibilidades, tendo como escolha a caminhada. Na nossa Segunda consulta, já iniciamos com a pergunta norteadora: “Como está sendo a experiência com a atividade física de sua escolha?”. Ela relatou que na primeira semana se sentiu incomodada e cansada, reduzindo a frequência para três dias da semana, mas que ainda sim havia percebido que a noite não sentiu desconforto para dormir e que na segunda semana já estava mais adaptada ao ritmo. A conversa abriu espaço para que a paciente falasse tudo o que sentisse necessário, foi como relatou que sentia vergonha porque achava que as pessoas a ficavam olhando de forma preconceituosa. Aproveitamos, essa abertura, e direcionamos a conversa para a autoestima apreendendo sobre a percepção que a mesma fazia de si mesma, o que nos levou a saber que a paciente já havia desistido de tentar emagrecer. Redarguimos então com a pergunta: “A sua busca está validada no que os outros podem pensar ou no que você acredita que consegue alcançar?” Com esta recondução, seu discurso mudou. Entendemos que foi o ponto chave de nossa interação. Com esta sinalização, iniciamos a modificação do processo, tornando possível identificar as ambivalências e as causas de seu comportamento de risco. Ressaltamos que a consulta motivacional não tem um papel prescritivo, mas sim evocativo, ou seja, através da fala, o próprio paciente irá se ouvir e se dispor ao caminho da mudança. Na Terceira consulta, partimos da seguinte pergunta: “O que te move interiormente?”. Ouvimos que acredita que um dia poderá emagrecer e melhorar sua convivência social. Redirecionamos novamente afirmando que sua percepção de si mesma pode ser muito maior do que a percepção do outro e que sua força interior tem alto valor. Com a Quarta e última consulta: realizamos, enfim o exame físico final. Solicitamos da paciente que compartilhasse sobre como ela estava se sentindo, o que ela acreditava ter mudado desde o primeiro encontro e qual o pensamento dela dali em diante. Ela relatou se sentir melhor, e verbalizou que não imaginava em uma consulta de enfermagem no posto pudesse receber ajuda nesse processo de mudança dos hábitos de vida. Vimos que se sentiu acolhida, afirmando que, às vezes, o que basta é um bom ouvido e alguém disposto a ajudar. Afirmou que seguiria em frente com todos os planos acordados durantes as consultas as quais focaram a atividade física, o equilíbrio alimentar, a busca por outros profissionais como um nutricionista e um psicólogo e que pudessem ajudá-la a permanecer roda da vida, girando – a de forma promissora para o alcance de seus reais objetivos para o peso ideal, restabelecendo seu quadro de saúde. Considerações Finais. Identificamos o quanto a obesidade tem se tornado um sério problema de saúde pública e diante disso foi observada a relevância e necessidade da capacitação e das boas práticas em saúde, de modo que venha a contribuir para uma assistência não apenas sistematizada, mas humanizada, levando em consideração as declarações do paciente como um instrumento evocativo de mudança. A consulta motivacional mostra-se como uma ferramenta eficaz que possibilita uma escuta ampliada capaz de identificar sentimentos e percepções que possam causar ambivalências e ao mesmo tempo destituí-las promovendo um aumento da motivação intrínseca do paciente ao invés de uma prescrição ou imposição de um tratamento. Este método permite reconhecer os aspectos chaves das falas norteadoras do paciente, eliciar e fortalecer as mudanças, lidar com as resistências, negociar um plano de ação e consolidar o compromisso de avanços. O que nos permite visualizar o ser em seu campo holístico, ou seja, compreender que cada pessoa é constituída de sentimentos, emoções, cultura e ambivalências. Deste modo, consideramos que a consulta motivacional aliada à consulta de enfermagem pode alcançar resultados positivos, visto que com esta abordagem se aplica uma qualidade de energia, de informações sutis com quem se está interagindo, com as quais forças salutares interiores são movidas no sujeito, ativando e mobilizando-o assumir, assim, seu papel protagonista na transformação de seu próprio estado de saúde, da imagem de si mesmo e de sua teia de relações sociais, ocupando o lugar que deseja de forma consciente e coerente com um propósito.


Palavras-chave


Consulta Motivacional; Enfermagem; Obesidade