Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA TUBERCULOSE EM IMPERATRIZ-MA, BRASIL.
Francisca Bárbara Gomes da Silva, Mônica Ribeiro Sousa, Paula dos Santos Brito, Janaína Miranda Bezerra, Floriacy Stabnow Santos, Lívia Fernanda Siqueira Santos, Menildes Paixão Ribeiro, Marcelino Santos Neto

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


APRESENTAÇÃO: A Tuberculose (TB) permanece ocupando mundialmente destaque dentre as principais doenças infectocontagiosas e tem infectado mais de dois bilhões de pessoas, correspondendo à um terço de infectados da população, dos quais, 10% irão desenvolver a doença durante seu curso de vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) a reconhece como a doença infecciosa de maior mortalidade no mundo, superando a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e a Malária juntas. O Brasil é um dos 22 países que representam 80% da carga mundial da TB, ocupando a 17a posição em número de casos e a 22a posição em relação ao coeficiente de incidência e mortalidade. Pesquisas relacionadas à morbimortalidade por TB vêm sendo estimuladas por serem consideradas como um importante instrumento para detecção de falhas dos sistemas de saúde, uma vez que a investigação desses objetos casos e óbitos, permite traçar o perfil da TB acompanhando o indivíduo em diferentes situações da doença, além de possibilitar análises adicionais sobre a vigilância dos casos e atendimento dos pacientes. Dentro da complexidade que envolve a conjuntura da TB, bem como a necessidade de implantação de estratégias e intervenções específicas que priorizem recursos aos grupos mais vulneráveis e demonstrem os perfis sociodemográfico e clínico-epidemiológico dos acometidos pela doença,  torna-se fundamental conhecer a situação epidemiológica da TB nas diversas localidades do país, sobretudo nos municípios considerados prioritários para o controle da doença, como Imperatriz-MA, Nordeste, Brasil. Desse modo, objetivou-se descrever aspectos epidemiológicos dos casos de TB notificados no município sob investigação no período compreendido entre 2006 e 2015, segundo variáveis sociodemográficas, clínicas e epidemiológicas. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo descritivo, retrospectivo e exploratório, com abordagem quantitativa realizado em Imperatriz-MA, que considerou os registros de casos de TB obtidos em dados secundários das fichas individuais de TB do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Serviço de Vigilância em Saúde (SVS) da Unidade Gestora Regional de Saúde de Imperatriz (UGRSI) no período compreendido entre 2006 a 2015 onde foram coletadas todas as notificações compulsórias de todas as formas clínicas da TB em outubro de 2016. As variáveis analisadas no estudo compreenderam idade, sexo, raça/cor e escolaridade e dados complementares do caso para investigação clínico-epidemiológica como tipo de entrada, forma clínica, institucionalização, doenças e agravos associados – AIDS, baciloscopia de escarro, cultura de escarro, cultura de outro material, radiografia do tórax, teste tuberculínico, sorologia anti-HIV, cultura, tratamento diretamente observado, situação de encerramento e localização dos casos. A análise exploratória foi realizada por meio da estatística descritiva dos parâmetros quantitativos, na qual para variável idade foram expressas medidas de tendência central e para as demais variáveis investigadas foram expressos valores absolutos e relativos. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: No período analisado foram notificados 800 casos de TB que apresentaram idade média de 42 anos, mediana de 40 anos, idade mínima de 0,1 ano e máxima de 90 anos, sendo o desvio padrão (DP) 19 anos, e a moda de 27 anos. A maioria dos casos notificados referiu-se ao sexo masculino (504; 63,0%), raça/cor parda (479; 60,0%). escolaridade com destaque para a 1° - 4° série incompleta (155; 19,4%). Constatou-se a predominância da doença em pessoas com idade menor e igual à 40 anos, idade esta considerada econômica e socialmente ativa. Fatores como maior exposição à risco relativos à ambientes de trabalho, alcoolismo, tabagismo, além de retardo à procura de serviços de saúde, embora não investigados nessa casuística, são apontados como determinantes da maior prevalência de TB em homens, tem-se ainda que a baixa escolaridade e a falta de entendimento/compreensão podem influenciar os indivíduos na obtenção de informações acerca da doença, assim como o acesso às informações de maneira geral como acesso à qualidade de vida, ficando patente portanto, a iniquidade social. Esses registros refletem todo um conjunto de condições sociais precárias, que aumentam a vulnerabilidade à TB e são responsáveis pela maior incidência da enfermidade, além de contribuírem para a não adesão ao tratamento e para o aumento da taxa de abandono, bem como para a ocorrência do óbito. O estudo evidenciou ainda  importantes características referentes ao perfil clínico e epidemiológico da TB sendo casos novos (689;86,0%), forma clínica pulmonar (720;90,0%), não institucionalizados (547;68,4%), radiografia de tórax como casos suspeitos (687;85,9%), teste tuberculínico não realizado (558;69,8%), cultura de escarro não realizada (730; 91,2%), tratamento supervisionado realizado  (516;64,5%), situação de encerramento como cura (692; 86,5%) e com maior ocorrência na zona urbana do município (785; 98,2%). Destaca-se ainda que parcela significativa dos casos notificados não foi submetida à sorologia anti-HIV para detecção da coinfecção TB/HIV. Ademais, os dados deste estudo revelaram 86,0% de casos novos, cura de 86,5%, 2,9% de abandono do tratamento, deixando de testar 48% dos indivíduos para coinfecção TB/HIV. Vale destacar que a meta definida pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), de diagnosticar 100% dos Sintomáticos Respiratórios (SR) não foi alcançada, já o fato de apresentarem taxa de abandono menor que 5% e cura superior a 85% dos casos preconizadas pela OMS estão condizentes com as ações de controle da doença e são considerados pontos positivos para o decréscimo das taxas de prevalência no cenário investigado. Acrescenta-se ainda que comorbidades são elencadas como importantes fatores de mau prognóstico, impondo condições clínicas mais graves, de maior dificuldade diagnóstica e tratamento. Desse modo, a associação da TB com a AIDS retrata um novo desafio em escala mundial, nesse aspecto, o estudo demonstrou falhas em relação à sorologia para HIV visto que foram feitos os testes em apenas 52,0% dos casos e destes, 6,6% ainda encontram-se em andamento. Levando-se em consideração a conexão epidemiológica documentada entre HIV e TB é indiscutível a avaliação de todo paciente diagnosticado com TB através do teste rápido de HIV onde neste estudo evidenciou-se que uma grande parte dos casos diagnosticados não realizaram sorologia para HIV, contrariando a norma estabelecida pelo PNCT, que tem como meta a realização desse teste em 100% dos pacientes adultos com TB. No que tange à baciloscopia, observou-se que a tuberculose pulmonar (TBP) ocorreu em indivíduos que apresentaram resultado positivo de baciloscopia, onde 72,7% dos acometidos pela TB realizaram tal exame, percentual este que sobrepõe o valor nacional no ano de 2009 onde 64,0% dos casos realizaram o exame. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Cabe mencionar que os desafios para controlar a TB no Brasil persistem, e as perspectivas para acabar com a doença como problema de saúde pública apenas se concretizará se mais esforços forem lançados pelas três esferas de gestão do SUS, assim como se houver o estabelecimento de parcerias fora desse setor. O estudo, traz importantes contribuições para o avanço do conhecimento na temática ao evidenciar que os casos por TB são eventos socialmente determinados, o que acaba por reforçar a importância da proteção social por sistemas universais de saúde com vistas à eliminação da TB e que não mais aconteçam mortes injustas ou evitáveis. Por fim, a investigação revelou um perfil da população atingida pela doença, evidenciando aspectos epidemiológicos importantes a serem considerados em termos de gestão e organização dos serviços de saúde para a equidade no acesso e desenvolvimento social.


Palavras-chave


Palavras-chave: Tuberculose. Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Aspectos clínicos-epidemiológicos.