Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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TERRITÓRIOS VULNERÁVEIS À OCORRÊNCIA DE TUBERCULOSE EM MUNICÍPIO DO NORDESTE BRASILEIRO PRIORITÁRIO PARA O CONTROLE DA DOENÇA.
Francisca Bárbara Gomes da Silva, Mônica Ribeiro Sousa, Floriacy Stabnow Santos, Lívia Fernanda Siqueira Santos, Menildes Paixão Ribeiro, Mellina Yamamura Calori, Ricardo Alexandre Arcêncio, Marcelino Santos Neto

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: Considerada uma doença negligenciada e endêmica em diversos países, a tuberculose (TB) é responsável por cerca de 1,3 milhões de óbitos anualmente no mundo e estima-se que um terço da população mundial esteja infectada pelo bacilo estando, portanto, sob risco de desenvolver a doença, ademais, aproximadamente 95,0% dos casos de adoecimento ocorrem nos países em desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou que, no mundo, 10,4 milhões de pessoas tiveram TB em 2015, e mais de 1 milhão morreram por conta da doença. O Brasil é um dos 22 países que representam 80% da carga mundial da TB, sendo definido pela OMS como prioritário para o controle da TB no mundo. Considerando a direta relação que a doença possui com as condições precárias de vida das populações, a análise espacial da doença torna-se um instrumento importante para obter informações adicionais às análises convencionais, auxiliando na compreensão da dinâmica deste agravo e sua ocorrência no território. Assim, entender a distribuição da TB no espaço torna-se importante para o desenvolvimento de ações interse­toriais, coletivas e de saúde que possibilitem melhorias nas condições de vida do território, visto que a TB é uma doença considerada um problema social. Para sua prevenção e con­trole, devem-se levar em consideração os aspectos sociais, as situações de pobreza e a análise das iniquidades sociais dos diferentes cenários acometidos. Nessa lógica, é relevante o uso do instrumental da espacialização, mediante técnica de geoprocessamento, associada a uma visão globalizada do processo saúde-doença, para identificar cenários de vulnerabilidades à TB, e agir não só no ambiente clínico e biológico, mas também nos determinantes sociais da saúde-doença. Desse modo, a incorporação de novas tecnologias e o acesso às bases de dados secundários têm permitido que este tipo de análise possa ser amplamente utilizada. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo descrever a distribuição espacial dos casos de TB além de evidenciar territórios vulneráveis à ocorrencia da doença em Imperatriz-MA. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo descritivo e ecológico, realizado em um dos municípios do nordeste brasileiro que, desde 2003, é considerado prioritário para o controle de doença. A população do estudo compreendeu todas as notificações compulsórias englobando todas as formas clínicas da TB no período de 2006 a 2015 do município de Imperatriz-MA. Os dados da pesquisa foram coletados em outubro de 2016 por meio Sistema de Informação de Notificação de Agravos (SINAN) do Serviço de Vigilância em Saúde (SVS) da Unidade Gestora Regional de Saúde de Imperatriz (UGRSI). Ademais, foram considerados como unidades de análise ecológica os setores censitários definidos pelo Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para análise espacial, primeiramente foi realizada a padronização e equiparação dos endereços (casos de TB) residentes das zonas urbana e rural do município de Imperatriz com a base cartográfica do município, empregando-se principalmente o software TerraView versão 4.2.2 e ferramenta Batch Geocode. Realizou-se a geocodificação propriamente dita,  que representa a interpolação linear do endereço completo, a um ponto no segmento de logradouro correspondente, sendo possível a partir de então, elaborar padrões de pontos de eventos. Em seguida, os casos geocodificados foram distribuídos espacialmente nos respectivos setores censitários.  Posteriormente realizou-se a análise da densidade de pontos por meio da estimativa kernel, que consiste na interpolação exploratória gerando uma superfície de densidade para a identificação e visualização de áreas quentes, no caso deste estudo áreas com maiores densidades de casos de TB, ou seja, potencialmente mais vulneráveis a presença deste evento. Realizou-se ainda a análise espacial de área, utilizando como unidade de análise ecológica espacial os setores censitários do município, com intuito de se obter as taxas de prevalência de TB. Desse modo, foram calculadas, por setor censitário e para o período de estudo, as taxas de prevalência de TB, dividindo-se, respectivamente, a somatória dos casos pela população padrão no meio do período (população urbana de Imperatriz) de cada setor censitário multiplicada por 100.000 e por fim dividida por 10, referente aos anos de estudo. Os mapas temáticos foram elaborados no ArcGis versão 10.5. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: No período analisado foram notificados 800 casos de TB, dos quais 761 casos (95,0%) foram geocodificados, sendo a maioria absoluta (99,7%) localizados na zona urbana. Os 39 (5,0%) casos, que não foram geocodificados, apresentaram incoerências e/ou inconsistências nos endereços informados, mesmo com as diversas estratégias de geocodificação utilizadas. Através da análise exploratória da densidade dos casos, realizada pela estimativa kernel, pode-se observar taxas que variaram de 0 a 31,79 casos de TB/Km2 e que os locais com maior densidade de casos, as chamadas “áreas quentes”, estão localizados na região central em direção ao sul do município, onde se verificam os setores censitários urbanos pertencentes aos bairros com maior registro de casos de TB no município em estudo. A análise espacial de área mostrou que a distribuição das taxas de prevalência de TB segundo setores censitários variou de 0,00 a 213 casos/100.000 habitantes-ano, confirmando que a distribuição espacial dos casos ocorre de forma heterogênea. A distribuição espacial dos casos de TB, com ênfase na distribuição heterogênea observada na cidade de Imperatriz deve ser considerada como o momento inicial de um processo de investigação e vigilância, que pode desencadear a focalização de áreas problemas e a identificação de elos frágeis do sistema de atenção à saúde da população alvo. Os setores censitários em que foram encontrados maiores percentuais de ocorrência de casos de TB fazem parte dos bairros Bacuri (118; 15,5%), Nova Imperatriz(83; 10,9% ), Centro(52; 6,8%), Santa Rita(52; 6,8%), Vila Lobão(47; 6,2%), Vila Nova(28;3,7%) e Vila Cafeteira(21; 2,7%). Tais espaços geográficos são considerados áreas de risco para a disseminação da doença, por consistirem em regiões com maiores densidades populacionais, precárias condições de vida ou onde o fluxo de pessoas é intenso. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Observaram-se taxas de prevalência de TB, segundo setores censitários, elevadas em comparação aos cenários internacional e nacional, evidenciando a necessidade de adoção de medidas de promoção e vigilância da saúde voltada para populações residentes em áreas de maior risco de ocorrência de casos de TB. Ressalta-se, ainda, que esse padrão não aleatório dos casos de TB notificados e identificados pelas análises espaciais realizadas (kernel e análise de área) sugere a dependência espacial da doença às áreas privadas de condições de moradia de qualidade, educação e renda. Novas investigações são necessárias no sentido de confirmação dessa hipótese. Por fim, salienta-se que o planejamento das ações a serem implementadas devem considerar as intensas desigualdades socioespaciais do município, tendo em vista ações em saúde mais efetivas e resolutivas, que resultaram em intervenções mais específicas, não apenas de saúde, mas também intersetoriais e coletivas, visando melhores condições de vida e redução das iniquidades sociais.


Palavras-chave


Palavras-chave: Tuberculose. Análise Espacial. Sistema de Informação de Agravos de Notificação.