Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Relato de experiência de um processo pedagógico na formação em saúde em comunidades de Assentamento Agroextrativista da Amazônia
Wilson Sabino, Juliana Gagno, Rui Massato Harayama, Annelyse Rosenthal Figueiredo, Hernane Guimarães dos Santos Junior, Teógenes Luiz Silva da Costa, Heloísa do Nascimento de Moura Meneses

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Apresentação

Durante o movimento sanitário no Brasil, se previu a necessidade de políticas de saúde que envolvesse outros setores da sociedade, como a educação. De tal maneira que é importante observar, no artigo 200 da Constituição Brasileira, que uma das competências do Sistema Único de Saúde (SUS) é ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde, entretanto, há necessidade da articulação entre os campos da saúde e educação. Nesse sentido, é urgente repensar os campos de práticas e saberes, com a finalidade de criar novas estratégias de formação para os futuros profissionais da “saúde”.

Partindo do pressuposto que a formação destes profissionais deve estar em consonância com as demandas do SUS e voltada para realidade que está inserida, a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), constituída por seis institutos, dentre estes, o Instituto de Saúde Coletiva (ISCO), organiza, a formação dos futuros egressos em saúde, em três ciclos: o primeiro do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS); o segundo profissionalizante, com os cursos de Bacharelado em Saúde Coletiva e Farmácia; e o terceiro e último ciclo, os cursos de Pós-Graduação da UFOPA. Ambos os cursos do segundo ciclo, obrigatoriamente, passam pelo BIS.

Ressalta-se que a formação de profissionais em consonância com as demandas do SUS consiste num desafio para todas as profissões da saúde. Por este motivo, este resumo tem como objetivo relatar a experiência e as reflexões da prática do componente denominado Interação na Base Real constituído para balizar o processo pedagógico de formação em saúde.

 

Desenvolvimento do trabalho: descrição da experiência

A proposta deste relato está pautada na experiência de implantação do BIS que tem como finalidade: Formar profissionais orientados por uma concepção humanística, ética e técnico-científica habilitando-os para o enfrentamento das necessidades de saúde da população e de desenvolvimento do sistema de saúde. Para sustentação dessa proposta, o mesmo conta com o componente curricular denominado Interação na Base Real (IBR) em que os discentes, já no primeiro semestre, são postos em contato com a realidade social, através de visitas na comunidade. Este componente transversalmente está presente nos quatro primeiros semestres, dos seis propostos no BIS, sendo estes:

  • IBR I: O componente tem por objetivo desenvolver no discente a escuta e o vínculo, prática essa, que deveria ser comum aos diversos profissionais da saúde. Possibilita aos discentes visitas acordadas com as lideranças e famílias nas comunidades. Analisa-se a realidade observada problematizando através de discussões que levem à compreensão dos possíveis determinantes sociais da saúde.
  • IBR II: Este componente traz como ponto central a aprendizagem do diagnóstico participativo, utilizando-se, indicadores demográficos, sociais e de saúde. O mesmo ocorre através de visitas na comunidade, com intuito de mapear o território como, por exemplo, escolas, igrejas, unidades de saúde, associações entre outros.
  • IBR III: Este componente se apresenta com a proposta de introdução ao campo do Planejamento Estratégico Situacional (PES). Neste, os educandos retornam a comunidade, para realizarem um planejamento participativo tendo como perspectiva uma possível intervenção no território.
  • IBR IV: O propósito deste componente é propiciar aos estudantes a efetivação do Plano Operativo para intervenção no território, utilizando informações obtidas ao longo dos três componentes anteriores.

O módulo de IBR tem como proposta a apreensão da realidade com vista à diminuição das iniquidades e foco na Promoção da Saúde.

A análise deste relato se deu através dos Relatórios Técnicos (RTEC) apresentados pelos discentes às comunidades no final de cada semestre, e também, relatos de experiências (REX) em cada uma das fases acima descritas. Estimulados pelos docentes, muitos desses REX foram aprovados para apresentação em seminários, workshop, jornadas de pesquisa e extensão, e também, congressos acadêmicos. As comunidades visitadas no período 2016 a 2018 fazem parte do Projeto Agroextrativista da região rural do Eixo Forte no município de Santarém, estado do Pará.

Resultados e impactos: os efeitos percebidos decorrentes da experiência

Observou-se através dos RTEC e REX que as visitas às lideranças e famílias nas comunidades conduziram a ressignificação na maneira de pensar e agir no que se refere ao processo saúde-doença. O desenvolvimento do IBR I pôde proporcionar, aos educandos, uma melhor compreensão sobre algumas peculiaridades das famílias e suas relações extrafamiliares com a comunidade a qual estão inseridas. Acrescido a esse processo, ressalta-se, que os discentes passaram a valorizar a habilidade do saber ouvir, o que ajudou a concluir, que a maioria dos problemas enfrentados dentro do local onde o indivíduo está inserido tem conexão direta com a sua saúde. É notório o impacto que ficou nos educandos surgidos após as visitas, tais como: impotência, alegria, medo, angustia, necessidade de mudanças no modo de pensar, e por último, o imperativo de tomarem suas próprias decisões para auxiliarem nas transformações.

Percebeu-se, tanto nos RTEC quanto nos REX, desenvolvidos no IBR II, que o ponto marcante para os discentes foi a construção do diagnóstico com a comunidade, reconhecendo os comunitários como os principais atores do processo e profundos conhecedores da realidade na qual estão inseridos. O diagnóstico participativo proporcionou diálogo entre comunitários e discentes, em que os primeiros corroboravam com as melhores informações sobre o território. Este processo trouxe a compreensão que as informações demográficas são importante elo para o planejamento em saúde. O impacto nos educandos expressou-se pela necessidade de um olhar abrangente para o território, pela inerente complexidade que se apresenta, e que segundo os mesmos, somente seria possível ser entendida através da interdisciplinaridade.

Outro ponto a se destacar foi a compreensão dos discentes quanto à importância de se realizar o PES junto aos comunitários pela facilidade com que os mesmos identificavam tanto as causas como as consequências de um determinado problema priorizado. Enfatizou-se através dos RTEC e REX que a participação dos atores envolvidos no problema estudado é fundamental na execução de um planejamento. O impacto ficou patente na percepção de que na maioria das vezes “o ponto de vista dos acadêmicos não corresponde à percepção dos comunitários em relação aos problemas elencados”.

Para os discentes a construção de um plano operativo, somente deve ocorrer com envolvimento de diferentes atores sociais. O IBR IV encontra-se em fase de construção com diversos segmentos, sendo: Ministério Público, Poder Executivo, Conselho de Saúde, Agentes Comunitários de Saúde, Igreja Católica, Lideranças Comunitárias, Movimentos Sociais e Moradores das Comunidades.

 

 

Considerações Finais

As fases do módulo de Interação na Base Real têm conduzido paulatinamente a um processo de ressignificação dos discentes, levando-os a compreensão de como o processo saúde-doença está conectado com os determinantes sociais em saúde. Contudo, ficou claro para os mesmos, que a resolução deste processo necessita ser construída com aqueles que demandam por saúde.

Todavia, fica evidente, que se faz necessário realizar adequações no processo de aprendizagem dos futuros egressos no Sistema Único de Saúde. Há necessidade das grades curriculares se ajustarem de forma criativa para dar conta da complexidade inerente que é esse sistema.

Nesta trajetória ora apresentada, percebe-se que o vinculo do futuro egresso em saúde com a comunidade, família e o individuo é uma construção paulatina e essencial no processo do planejamento em saúde, o que torna um desafio na formação do futuro trabalhador do SUS.

Palavras-chave


Inovação pedagógica em saúde; Educação em Saúde; Ensino