Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CONTRIBUIÇÕES DA FISIOTERAPIA PARA A PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTE COM DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Hermon Nogueira Lopes, Kelem Costa Oliveira, Tereza Raquel de Lima Alencar, Cristina das Neves Pereira

Última alteração: 2018-01-31

Resumo


Este artigo relata a experiência do desenvolvimento de um projeto de pesquisa pelo Centro Universitário do Norte (UniNorte Laureate) acerca dos efeitos da atuação fisioterapêutica na qualidade de vida em um paciente com diagnóstico clínico de Distrofia Muscular de Duchenne (DMD), o qual compõe a amostra do estudo. Descreve as práticas fisioterapêuticas utilizadas durante os atendimentos ao paciente e os efeitos da terapêutica na qualidade de vida do indivíduo, levando em consideração o quadro clínico apresentado pelo portador de DMD.

Considera-se a DMD uma doença degenerativa e não-curativa, com progressão das complicações que levam a morbidade dos indivíduos acometidos, majoritariamente do sexo masculino, levando-os a óbito por volta da segunda ou terceira década de vida. A fisioterapia e suas vertentes terapêuticas objetivam retardar o avanço da doença e consequentemente promover a manutenção da qualidade de vida em pacientes com DMD. São indivíduos distróficos, ou seja, perdem massa muscular constantemente e a capacidade efetiva de movimentar-se e realizar as AVDs, portanto, tornam-se dependentes com o avanço dos anos e progressão da doença, conferindo-os a cadeira de rodas, adotando posturas viciosas que geram contraturas e deformidades que comprometem a biomecânica corporal e a atuação de sistemas reguladores da atividade metabólica como o trato respiratório. Devido o encurtamento dos músculos respiratórios e redução da mobilidade da caixa torácica, a fisioterapia busca retardar os defeitos sinérgicos gerados pela progressão da doença, como estimular a força contrátil dos músculos respiratórios, alongar a musculatura patologicamente retraída e promover integridade as vias respiratórias, prolongando a vida do indivíduo, considerando que a insuficiência respiratória é a principal causa de óbito entre indivíduos com DMD.

O estudo em questão aborda a intervenção fisioterapêutica desenvolvida entre agosto e dezembro de 2017 por 4 acadêmicos de fisioterapia supervisionados pela professora da instituição responsável pelo desenvolvimento do estudo, o qual foi apresentado e aceito pelo CEP que analisou o projeto. As intervenções fisioterapêuticas consistiram em 60 sessões, realizadas três vezes durante a semana, onde dois atendimentos eram realizados na residência do paciente localizada na região metropolitana de Manaus e um atendimento realizado na Clínica Escola de Fisioterapia da UniNorte destinado a Hidroterapia. Os atendimentos residenciais foram destinados a cinesioterapia e a manutenção da biomecânica respiratória, sendo realizadas as segundas e quartas feiras, as sextas foram destinadas a hidrocinesioterapia. As intervenções foram descritas pelos acadêmicos nas evoluções realizadas posteriores a cada atendimento.

No primeiro contato com paciente, foram explicados o objetivo do estudo assim como os possíveis benefícios do tratamento fisioterapêutico ao paciente e aos seus responsáveis, levando em consideração que se encontrava na faixa etária correspondente a adolescência segundo a OMS, dos 12 aos 19 anos, e legalmente necessitava-se da aprovação dos responsáveis para inclusão na pesquisa. Após assinatura dos termos correspondentes a efetivação da pesquisa e posterior aval do CEP, os acadêmicos juntamente a professora/fisioterapeuta responsável iniciaram a intervenção fisioterapêutica a partir de uma minuciosa anamnese e avaliação física do paciente o que incluiu a goniometria, manovacuometria, teste de força muscular, avaliação do tônus muscular e avaliação da dor, os quais foram pontuados a partir de escalas evidenciadas cientificamente.

O quadro clínico do indivíduo era de total dependência, não frequentava a escola, devido a morbidade que o resguardava ao leito. Sua mobilidade era restrita a cadeira de rodas, a força muscular não vencia a gravidade, hipotônico, apresentava deformidades como pé equino bilateralmente e escoliose toracolombar o que lhe causava dores na coluna e nas regiões adjacentes devido o encurtamento da musculatura local, comprometendo também a mecânica ventilatória a qual de acordo com a manuvacuometria apresentava fraqueza muscular tanto em músculos responsáveis pela inspiração e pela expiração. Durante os atendimentos que se procederam, foram utilizadas técnicas de mobilização e alongamento no pé equino favorecendo a circulação, ativação das fibras musculares afetadas e retardando o agravamento da deformidade. Alongamentos na musculatura encurtada decorrente da escoliose assim como dos músculos da respiração e exercícios respiratórios como técnicas de reexpansão pulmonar: inspiração em tempos, soluços inspiratórios, expiração fracionada, utilizou-se também espirometria de incentivo com o Respiron e técnicas lúdicas como encher balões a partir do volume pulmonar, soprar cata-ventos e línguas de sogra, foram técnicas utilizadas durante a intervenção, assim como manobras de higiene brônquica quando necessário. Exercícios ativo-assistidos eram incentivados e realizados pelo paciente favorecendo a contratilidade muscular e retardando a perda da consciência corporal, as mudanças de posicionamento eram constantes com o estimulo a sedestação. A hidroterapia foi um diferencial ao atendimento, paramentado por instrumentos hidroterápicos e assistido pelos acadêmicos foi estimulada a movimentação ativo-assistida do paciente utilizando a força de flutuação, arraste e a resistência encontrada pela água promovendo o retardo das aderências articulares, estimulou-se a contratilidade muscular com as manobras de Bad Ragaz e Watsu, objetivando o relaxamento da tensão psicomotora a qual o paciente é constantemente submetido.

Com o avanço dos atendimentos era notória a colaboração e aceitação da inserção da fisioterapia no cotidiano do paciente, que inicialmente tímido as práticas incisivas mostrou-se colaborativo e coeso com a equipe que o assistia. As complicações advindas da progressão da doença são irreversíveis e obedecem a evolução natural da doença, porém atestar o aumento do estimulo contrátil nas musculaturas aparentemente fracas com o decorrer da propedêutica é satisfatório. A possibilidade de movimentação mesmo que mínima no ambiente aquático revelou melhora dos estímulos contrateis em relação aos atendimentos anteriores principalmente em membros inferiores. No ambiente aquático foram realizados exercícios respiratórios otimizados pela pressão hidrostática exercendo sobre o corpo, precisamente a caixa torácica, resistência, potencializando o trabalho respiratório com o cuidado em não fadigar excessivamente o paciente, consultado durante o decorrer do atendimento. A segunda avaliação realizada com o paciente ao final de 30 sessões mostrou melhora na força dos músculos inspiratórios, porém manteve-se o potencial de fraqueza em músculos expiratórios. Paciente mantinha-se em sedestação em um maior período de tempo, posicionamento o qual referia incomodo anteriormente ao manter-se durante um curto período de tempo.

Considerando os profissionais fisioterapeutas com ampla habilidade em cuidar e promover saúde, a experiência em atender um paciente com DMD, trouxe aos acadêmicos a capacidade em compreender as necessidades de um paciente com DMD, assim como intervir com pudor as técnicas conferidas ao tratamento proposto que foi idealizado juntamente a professora responsável pela pesquisa. O paciente restrito torna-se dependente, comprometendo a estabilidade psicossocial e a qualidade de vida. Abraçou-se a possibilidade em reinserir o paciente ao âmbito social, prolongando a vida deste indivíduo na sociedade. Mostra-se satisfação em possibilitar esperança através da fisioterapia.


Palavras-chave


distrofia; tratamento; saúde