Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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MULHERES QUE NOTIFICAM A VIVÊNCIA DE VIOLÊNCIA
Luciana Virginia de Paula e Silva Santana, Caroliny Oviedo Fernandes, Laura Elis Aguero Reis Junqueira, Sandra Luzinete Felix de Freitas, Grazielli Rocha de Rezende Romera, Ana Paula de Assis Sales

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


Introdução: A violência, uma das principais causas de óbitos no mundo de pessoas entre 15 e 44 anos, é compreendida com uma realidade mundial multifatorial, podendo ser auto infligidas, interpessoais e coletiva. Assim como a violência no geral, a específica contra as mulheres é um fato de escala mundial com sérias implicações para a saúde pública e tem se constituído em um fenômeno histórico-social que influencia o modo de viver, adoecer e morrer das mulheres e, por esta razão é constantemente abordada nas políticas públicas de saúde desde os anos 1990. Reafirma os preceitos patriarcais, é produzida pela hierarquização do domínio masculino dentro das relações sociais entre os sexos, historicamente delimitadas, culturalmente legitimadas e cultivadas, nas quais a mulher está exposta a agressões, tanto no espaço público como no privado. No Brasil, a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente e os atos violentos resultam na perda de um ano de vida saudável para cada cinco anos de submissão às agressões. O Brasil ocupa o 5° lugar com uma taxa de 4,8 homicídios por violência em 100 mil mulheres. Mato Grosso do Sul ocupou a 9° posição em 2013 com uma taxa de 5,9 homicídios por violência em 100 mil mulheres e, Campo Grande o 23° lugar entre as capitais com uma taxa de 5,4 homicídios por violência em 100 mil mulheres. A elevada prevalência e suas consequências caracterizam a violência contra a mulher como um problema de saúde pública e exige estudos de diversas áreas de conhecimento. Para sua prevenção é preciso conhecer as proporções e impacto do problema. Objetivo: Estimar a ocorrência dos casos de violência contra a mulher e caracterizar o perfil sociodemográfico das mulheres em situação de violência atendidas nos serviços de saúde. Método: Trata-se de um recorte de uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa com os casos notificados de violência contra mulheres adultas de 20 a 59 anos assistidas na Rede Municipal de Saúde (REMUS), dentro do período compreendido entre janeiro de 2010 e março de 2015. A coleta de dados foi realizada por intermédio de um funcionário, autorizado pela Secretaria Municipal de Saúde Pública de Campo Grande (SESAU), Mato Grosso do Sul, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação. As variáveis que contemplaram as informações sociodemográficas das mulheres foram: faixa etária, etnia/raça/cor, situação conjugal, escolaridade e distrito municipal administrativo de residência. Este estudo faz parte de um projeto maior intitulado “A situação da violência contra a mulher em Campo Grande - MS” aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos sob o parecer nº 890.305 de 02 de novembro de 2014. Resultados: No período foram notificados 5.874 casos de violência contra a mulher dentro da faixa etária de 20 a 59 anos, com média mensal de 93,2 casos. A média de idade das mulheres foi de 33,8 anos. As mulheres, na faixa etária predominante (20 a 29 anos), encontram-se em um período de maior atividade sexual, reprodutiva e produtiva resultando em índices de incapacidade ou morte significativos, como o fato de que um de cada cinco dias de abstenção no trabalho seja consequência da violência doméstica. Entre os motivos desencadeadores da violência encontra-se o ciúme, podendo ser resultante da juventude e beleza, uma vida social mais ativa o que as torna vulneráveis a certos atos violentos por parte de desconhecidos, bem como pela posição no mercado de trabalho ou pela busca de independência financeira. Mediante a essa realidade, existe a hipótese explicativa na qual conforme as mulheres envelhecem se tornam mais produtivas financeiramente e influentes no meio social, aumenta a subnotificação dos casos atuais de violência. Ou seja, mesmo tendo sofrido violência durante a juventude, as mulheres mais velhas possuem meios de desviar dessa situação sem a necessidade de procurar atendimento, aumentando a combinação da faixa etária jovens com os casos notificados ou denunciados de violência. Em relação ao estado civil, verificou-se que 45,9% eram casadas ou em união estável, seguida pelas mulheres solteiras (26,9%), solteiras (10,5%), a menor parcela de viúvas (1,4%) e 14,9% não foi informado. Assim, nesta pesquisa, a maioria das mulheres cujos casos de violência foram notificados, eram casadas ou então solteiras. Essas diferenças podem ocorrer devido à cultura brasileira de que muitos casais estáveis não legalizam a união, considerando-se, da mesma forma, como casadas quando questionados sobre a situação conjugal. Além disso, as divergências estariam ligadas as condutas das mulheres perante seus cônjuges ao vivenciarem o abuso: divorciar ou manter o relacionamento. Em outras características sociodemográficas, como a escolaridade, 48,3% não foi informada, 29,7% das mulheres possuíam até o ensino fundamental, 16,8% estudaram até o ensino médio, 4,4% até o ensino superior e a minoria era analfabeta (0,7%). De maneira simplista, seria possível afirmar que as mulheres, mais vulneráveis a violência, possuem baixa escolaridade. Entretanto, é necessária cautela nessa afirmação, visto que a violência se encontra em todos os níveis de escolaridade e que o fato de haver mais notificações e/ou denúncias entre as mulheres com níveis mais baixos de escolaridade pode se relacionar a maior utilização dos serviços públicos de saúde e segurança, tornando o problema visível nessa população. Dentre os casos de violência notificados, 26,1% das mulheres se autodeclaram brancas, 24,5% de raça/cor parda e 23,7% preta. Cabe ressaltar que essa variável é dependente das características populacionais de cada região, dessa forma não corresponde a uma realidade universal para todas as áreas. A etnia, isoladamente, não é um fator de risco para a ocorrência de violência no sexo feminino, mas sim o contexto histórico-social ao qual determinado grupo étnico está vinculado, podendo apresentar maior vulnerabilidade em relação à vivência dos atos violentos. O território urbano de Campo Grande (MS) é dividido nas seguintes regiões urbanas: Centro, Segredo, Prosa, Bandeira, Anhanduizinho, Lagoa e Imbirussu. Observando os locais de residência das mulheres em situação de violência, notou-se o destaque da região Anhanduizinho com 29,0% das notificações, seguida pela região Lagoa (15,9%), Segredo (15,5%), Imbirussu e Bandeira com 12,7% cada, Prosa com 8% e o Centro com 3,7%. A Região Anhanduizinho, com a maior porcentagem de casos notificados, possui a menor densidade demográfica, a pior renda per capita e taxa de alfabetismo e o segundo menor Índice de Qualidade de Vida Urbana. Entretanto, apenas estas informações não são suficientes para determinar uma relação entre as condições que favorecem a violência de gênero com a frequência das notificações de violência contra mulher. Conclusão e implicações para a saúde: Por meio da determinação da ocorência e da caracterização das mulheres vítimas de violência, verificou-se que a maioria da população do estudo encontra-se na fase produtiva e reprodutiva, são brancas, casadas, com baixa escolaridade e residentes na Região do Anhanduizinho. A violência contra a mulher é frequente em todos os níveis da sociedade, perpassando todo o ciclo de vida feminina, com maior ocorrência entre as mais jovens. A alta ocorrência da violência relacionada ao gênero reflete a sua importância e suas repercurssões na saúde da mulher que procuram os serviços de saúde. Para o atendimento dessa população vulnerável, é necessário que os profissionais de saúde sejam capacitados a identificar os casos de violência e a articular os diversos serviços diponíveis na rede para prestar uma assitência mais efetiva e humanizada às mulheres em situação de violência.


Palavras-chave


Violência contra a mulher. Saúde da mulher. Saúde Pública.