Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-23
Resumo
1: Introdução:
Este artigo trata-se de um relato de experiência de um breve estágio realizado a partir da disciplina intitulada “Projeto de Investigação Exploratória da Comunidade”, pertencente ao Programa de Mestrado Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário da Universidade Estadual do Centro-Oeste, visando a inserção dos alunos nos mais diversos contextos comunitários. Com o objetivo de inserir o aluno no contexto comunitário, a ementa preconiza uma aproximação com o campo de estudo possibilitando o levantamento de demandas para pesquisas sob uma perspectiva interdisciplinar dentro de um determinado território. Assim, formaram-se grupos a partir dos objetos de pesquisa, sendo esse em questão formado por quatro pessoas, uma assistente social e três psicólogas.
Diante de um mundo globalizado, o avanço tecnológico, aumento populacional e desigualdades sociais caracterizam o cenário atual. A ciência em um primeiro momento contribuiu para o desenvolvimento tecnológico, ascensão da indústria, expansão urbana e comunicação, porém não foi suficiente para resolver problemas antigos da sociedade como doenças, desigualdade social, miséria e tantos outros. Isso mostra que a atenção em saúde não deve ser feita de maneira fragmentada e especializada, pois acaba sendo insuficiente e ineficiente.
A interdisciplinaridade não acaba com a ideia da especialidade, mas pauta-se em um trabalho que conta com a união das mais diversas áreas de conhecimento, garantindo que o objeto de estudo ou intervenção seja visto por vários olhares que se conversam entre si e se complementam. Nessa lógica de construção de conhecimento nenhum saber se sobrepõe, mas se somam, tornando-se algo mais completo.
2- Objetivos:
A Unidade Básica de Saúde e sua equipe de Estratégia de Saúde da Família foi eleita como campo desse estágio pois considerando-a como ponto de referência para o acesso da comunidade à saúde, visualizamos nela a possibilidade de conhecer as características dessa comunidade a qual ela pertence e também a possibilidade de discussões acerca da interdisciplinaridade junto da sua equipe multidisciplinar.
O serviço de saúde, enquanto parte do contexto comunitário, tem importantes contribuições a oferecer para o fortalecimento das redes sociais de suporte das comunidades. Este estágio teve como objetivo geral a aproximação com o campo e o conhecimento dos conteúdos comunitários, propondo como objetivo específico o desenvolvimento de uma proposta de intervenção a partir das demandas encontradas no campo pesquisado.
3- Método:
Iniciamos a inserção na UBS através da aproximação com a equipe e observações no campoe também no território, acompanhano o dia a dia da unidade. Após alguns dias de observação, conversamos com a enfermeira responsável, a qual enfatizou que a principal dificuldade que enfrentam é quanto as questões relacionadas à Saúde Mental, que possuem pouca formação nessa área, e enfrentam dificuldades para a realização da estratificação de risco e possuem pouca habilidade para prestar atendimento às pessoas que apresentam uso, abuso ou dependência de crack, álcool e outras drogas.
Diante disso, pensou-se na realização de uma oficina sobre Saúde Mental na Atençã Básica, com toda a equipe. Para que a referida Oficina de fato pudesse mobilizar a rede e redesenhar de fato os processos de trabalho em saúde mental, estendemos o convite para alguns profissionais/representantes dos pontos de atenção da Rede de Saúde Mental de Irati, como as coordenações do CAPS II – do Consórcio Intermunicipal de Saúde – CIS, e do Ambulatório Municipal de Saúde Mental. Nessa oportunidade, com o Grupo de Pesquisa, estabeleceu-se os objetivos dessa intervenção, de possibilitar um momento de reflexao sobre as questões de saúde mental, favorecendo o repensar das práticas cotidianas e relação com a rede de atendimento do município, proporcionando a troca, compartilhamento e, principalmente, estreitar os vínculos da rede, facilitando o encaminhamento e contrarreferência dos usuários daquele território.
4. Resultados e discussão:
Durante as primeiras observações e diálogos estabelecidos foi identificada a demanda de uma capacitação profissional sobre saúde mental. Com a realização desta atividade, buscou-se desmistificar a saúde mental estimulando a reflexão sobre medicalização e a autonomia do usuário, repensar a estratificação dos casos, elencando possibilidades de trabalhos e devidos encaminhamentos, bem como a co-responsabilização do trabalho em rede.
O Ministério da Saúde aponta que mais de 50% dos casos que chegam até a atenção básica possuem algum agravo em saúde mental e que 80% dos casos que chegam ao serviço especializado em Saúde Mental (Ambulatório, CAPS) não precisariam ser encaminhados até eles e que poderiam ser acompanhados na própria Unidade de Saúde Básica. O chamado Matriciamento, ou apoio matricial (AM) vem para reorganizar o atendimento em saúde mental a partir da rede básica, modificando a maneira de trabalhar o sofrimento psíquico a partir dali e estimulando a integração da rede e assim, fortificando-a.
O apoio matricial é uma estratégia que contempla a descentralização das ações em saúde mental, perpassando o modelo biomédico de saúde e transformando a rede em uma clínica ampliada, facilitando o acesso do usuário ao serviço e do vínculo com o mesmo, pautado na junção dos mais diversos saberes, culminando em um serviço humanizado e numa atenção longitudinal e de forma integral desse sujeito. Ele constituído por um conjunto de ações onde a equipe especializada em Saúde Mental desenvolve ações conjuntas com as equipes da atenção básica na lógica da interdisciplinaridade e co-responsabilização do usuário, permitindo um trabalho ampliado, articulado e qualificado em saúde mental e garantindo o acesso da pessoa com transtorno mental a todos os serviços que fazem parte da rede.
Apesar da reforma psiquiátrica e dos novos modelos de atenção em saúde mental, a pessoa com transtorno mental ainda possui uma representação social bastante negativa, fortalecendo ainda mais a ideia de exclusão, rejeição e discriminação desse sujeito, sustentando a lógica manicomial de tratamento, o que implica muitas vezes na dificuldade, resistência ou insegurança por parte dos trabalhadores da saúde em abordá-lo ou acompanhá-lo, muitas vezes culminando até na exclusão desse sujeito dos serviços que deveriam atendê-lo.
O usuário, a família, o território e a comunidade formam uma rede de atores com saberes e fazeres diferenciados. As ações conjuntas entre Saúde Mental e a Atenção Básica podem contribuir na prevenção e promoção de saúde e não devem se limitar à medicalização e “patologização” do sofrimento, mas a espaços que promovam qualidade de vida à toda comunidade.
Como resultado desse breve trabalho, pode-se observar que as discussões realizadas a partir desse encontro da equipe com o serviço especializado foram bastante positivas, possibilitando uma melhor comunicação e entendimento entre os serviços de saúde e também a articulação de novas ações e estratégias relacionadas à Saúde Mental.
5. Considerações finais:
A partir desse trabalho, ressalta-se a importância do apoio matricial e de ações em rede dentro do município, a educação permanente para os profissionais de saúde como possibilidade de produção de conhecimento que, a partir dos problemas enfrentados no trabalho, aperfeiçoa a prática e a atenção à saúde da comunidade em geral e também a importância da conscientização sobre o trabalho interdisciplinar para pensar ações mais abrangentes, efetivas e de qualidade na atenção básica, visto que o aumento considerável de casos de transtornos mentais mostra a necessidade da Saúde Mental ser objeto de discussão, reflexão e ação dentro de todos os serviços do SUS.