Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CONDIÇÕES DE TRABALHO E O RISCO DE ADOECIMENTO NO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO DE UM HOSPITAL GERAL PÚBLICO
VALÉRIA MOREIRA, JANNE CAVALCANTE MONTEIRO

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Este trabalho é fruto de pesquisa de uma dissertação de mestrado em andamento e aborda sobre Saúde do Trabalhador no Centro de Material e Esterilização (CME) de um hospital geral público, em Porto Velho–RO. Objetiva analisar as condições de trabalho que podem influenciar no adoecimento dos trabalhadores, o processo de trabalho no CME, identificando-se os riscos ergonômicos, psicossociais a que estão expostos os trabalhadores e a correlação desses riscos e comportamentos de agravos à saúde. Este estudo descritivo, do tipo transversal e abordagem quanti-qualitativa, utilizou a metodologia Análise Ergonômica do Trabalho (AET), a qual parte-se da decomposição da situação de trabalho, com estudo minucioso das interfaces que compõem o trabalho para assim, compreender esta situação através da recomposição da mesma. Como método de estudo, a AET compreende não somente as dimensões do ambiente de trabalho, mas também considera os aspectos do agir do trabalhador que impactam nos resultados da produção e está dividida em três fases a, saber: Análise da Demanda, Análise da Tarefa e Análise da Atividade. O trabalho está fundamentado nos preceitos éticos da Resolução 466, de 12/2012, do Conselho Nacional de Saúde, que trata das Diretrizes e Normas de Pesquisa envolvendo Seres Humanos, e foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Rondônia, aprovado pelo parecer nº 1.849.750. Para coleta de dados utilizou-se parte da versão média portuguesa do instrumento Copenhagem Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) validado por Kristensen e Borg com a colaboração do Danish National Institute for Occupational Health in Copenhagen, ou seja, um conjunto de 26 itens que permitiu a identificação de fatores psicossociais que foram agrupados em quatro dimensões: Exigências Físicas e Psicológicas: apresentou alto risco psicossocial para as exigências quantitativas e ritmo de trabalho e médio risco psicossocial para exigências emocionais e cognitivas; Apoio Social: comunidade social no trabalho, identificado alto risco psicossocial e médio risco para suporte dos colegas e superiores; Satisfação no trabalho: significado do trabalho e insegurança laboral, com médio risco psicossocial e quanto a variável Saúde Física Geral, 35,9%, consideraram a saúde boa, 30,7% razoável, 23%, muito boa , 7,69% excelente e 2,56%,  deficiente. Foi utilizado também o Diagrama de Corlett e Manenica, que possibilitou avaliar o desconforto/dor musculoesquelético por meio de mapa dos segmentos corporais. Dos 39 trabalhadores participantes, 69% relataram queixas álgicas nos ombros, 66% coluna cervical, 64% nos pés, 61% respectivamente nas regiões da coluna superior, braços e pernas, 56% coluna média, 54% pescoço, punhos/mãos, coxas e joelhos, 51,2% tornozelos, 49% coluna inferior e 38% quadril. Foi utilizada a técnica de observação sistemática das atividades de trabalho, por meio de máquina fotográfica digital. Foram registradas as posturas assumidas pelos trabalhadores (após assinatura do termo de autorização de uso de imagem) a fim de mostrar as exigências físicas e os constrangimentos posturais que as atividades impunham sobre os trabalhadores. As manobras realizadas, exploração visual, manuseio de equipamentos, comunicação, pausas efetuadas e deslocamentos foram registrados no diário de campo objetivando fundamentar à análise da atividade. A aferição dos riscos físico-ambientais (ruídos, iluminação, temperatura) dos postos de trabalho do CME foi medida pelos equipamentos: termômetro de globo, luxímetro e decíbelimetro, durante visita técnica realizada em parceria com o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) do hospital. As principais fontes de ruídos encontrados no estudo, foram as autoclaves (79,2 dB), exaustores na sala de esterilização química (84 dB), gás medicinal ar comprimido na sala de limpeza e secagem dos artigos odonto-médico-hospitalares (87 dB); no que tange aos valores de temperatura ambiental, constatou-se valores que estavam acima dos limites aceitáveis conforme preconizado pela NR 17. A sala de atividades administrativas apresentou temperatura de 28°C; sala de esterilização química, 29°C; sala de distribuição de materiais esterilizados/recebimento de roupas da lavanderia para preparo e esterilização, 27°C; sala de armazenamento dos artigos odonto-médico-hospitalares, 27°C e sala de recepção e conferência dos artigos do Centro Cirúrgico, 28ºC e referente à iluminância, o estudo mostrou respectivamente na sala de preparo dos artigos odonto-médico-hospitalares (27,2 lux), sala administrativa (18,9 lux), sala de armazenamento (21 lux), sala de esterilização química (59,8 lux) e sala de recepção (49 lux), demostrando inadequação no ambiente de trabalho, conforme a ABNT NBR ISO/CIE 8995/2013. Quanto ao perfil sociodemográfico e ocupacional, a idade média dos trabalhadores que trabalhavam no CME foi de 47,3 anos (dp=±9,68; IC [7,91;12,48]), sendo o mínimo de 28 anos e máximo de 65 anos. Em relação ao Índice de Massa Corporal (IMC), a média foi de 27,9 kg/m2 (dp=±5,51; IC [4,50;7,10]), sendo o mínimo de 18,7 kg/m2 e máximo de 46,3 kg/m2. Além disso, a maioria era do sexo feminino (79,5%), (74,4%) auxiliar/técnico de enfermagem, de 5 a 9 anos no serviço (35,9%), com tempo médio na função de 17 anos (dp=±11,11; IC [9,08;14,32]), sendo o mínimo de 6 meses e máximo de 38 anos. Na variável não desempenhou outra função neste serviço, apresentou (84,6%), no que concerne à jornada de trabalho, (82,1%) são plantonista, com carga horária ≤ 40 horas (94,9%), (64,1%) não possuía mais de um vínculo empregatício, (43,6%) com período de pausa a noite, com duração ≤ 30 minutos (66,7%), (56,4%) não praticavam exercícios físicos, (74,4%) nunca fumaram e (64,1%) possuíam renda familiar de 0 a 4 salários mínimos. Em respeito à percepção dos trabalhadores quanto aos riscos ergonômicos no ambiente de trabalho, o físico foi de 69,2%, que correspondem aos relatos de queimaduras nos membros superiores durante o manuseio das autoclaves, ruídos oriundos das autoclaves, uso dos exaustores e do gás medicinal ar comprimido, esforço físico durante o manuseio de caixas cirúrgicas; riscos organizacionais (28,2%), que incluem tarefas manuais e repetitivas, cumprimento simultâneo de várias tarefas, iluminação deficiente de alguns postos de trabalho; e riscos cognitivos (2,6%), referente à complexidade dos processos de esterilização e necessidade de treinamento em serviço. Diante do exposto, serão propostas recomendações de melhoria em conjunto com o Núcleo de Educação Permanente (NEP), SESMT e Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), pois ações interinstitucionais asseguram a continuidade do cuidado ao trabalhador, contribuindo dessa forma para minimizar situações de risco de adoecimento, acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.

 


Palavras-chave


Saúde do Trabalhador; Análise Ergonômica do Trabalho; Centro de Material e Esterilização