Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Fatores Associados à Mortalidade de Pacientes com Câncer do Colo do Útero Internadas de 2005 a 2015 em um Hospital de Referência em Belém-Pará, Norte do Brasil
Vânia Carneiro, Saul Carneiro, Marcela Fagundes, Pricila de Jesus Oliveira do Rosário, Laura Maria Tomazi Neves, Maria Conceição Nascimento Pinheiro, Givago da Silva Souza

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação:

O câncer é considerado um problema de saúde pública e seu impacto na população dos países em desenvolvimento corresponderá a 80% dos mais de 20 milhões de novos casos estimados para o ano de 2025. A última estimativa mundial realizada em 2012, aponta para mais de 14 milhões de novos casos no mundo, com mais de oito milhões de óbitos previstos, sendo 70% da mortalidade encontrada em países em desenvolvimento.

Na América Latina, um dos tipos de câncer que ainda contribui de forma significativa para altas taxas da doença em mulheres é o câncer de colo do útero, sendo representado como o segundo mais incidente (12,2%) e a segunda causa de morte por câncer no gênero feminino nesse continente. No Brasil para o biênio 2016-2017, estimou-se a ocorrência de aproximadamente 600 mil casos novos de câncer, e o perfil epidemiológico encontrado se assemelha ao da América Latina, apontando que nas mulheres, o câncer de colo de útero está entre os três mais frequentes e transcende o paradigma diagnóstico-tratamento e ainda continua apresentando grande impacto na população mundial com altas taxas de mortalidade, principalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil.

Desenvolvimento do Trabalho:

O objetivo do estudo foi identificar quais os fatores associados à mortalidade de pacientes com câncer do colo do útero internadas de 2005 a 2015 em um hospital de referência em câncer na Amazônia. A amostra do estudo foi de 513 prontuários de pacientes com diagnóstico de câncer de colo do útero internadas  no período de 1 de janeiro de 2005 à 31 de dezembro de 2015, sendo a coleta dos dados realizada de junho a setembro de 2016. Foram coletadas informações socioeconômicas, resultados de laudos histopatológicos, estadiamento do tumor, presença de comorbidades, metástase, hábitos de tabagismo, tratamentos realizados, reinternação e desfecho. Para análise individual das variáveis independentes foi aplicado o teste qui-quadrado, em seguida foram feitas as análises das regressões brutas e ajustada e, estabelecido ODDS RATIO com intervalo de confiança de 95% e nível alfa de significância de 5 %.

Resultados:

Como resultado, observou-se que a mortalidade foi maior entre as mulheres procedentes do interior do estado (61%), com diagnóstico histopatológico de carcinoma escamoso (86,40%), com invasão de camadas (83,10%), com presença de metástase à distância (45,80%), óbito em 100% no grupo de mulheres sem tratamento e 36,40% de mulheres com pelo menos, uma reinternação.

Alguns componentes sociodemográficos e clínicos testados no presente estudo mostraram-se com importante associação à mortalidade das mulheres internadas por câncer cervical. Foi possível observar que a taxa de mortalidade foi maior nas mulheres que procediam do interior do estado do Pará, representando 61% das mulheres diagnosticadas com câncer de colo do útero que morreram. Tais dados encontrados se assemelham com os que Singh et al observaram em seu estudo. Os autores analisaram os aspectos socioeconômicos e as disparidades na mortalidade por câncer nos Estados Unidos utilizando três fontes de dados, demonstrando em seus resultados, que as zonas rurais e urbanas provocaram disparidade nas taxas de mortalidade por câncer no país. Observaram também que os riscos de mortalidade nas mulheres com câncer cervical que residiam nas áreas rurais foram significativamente maiores do que aquelas que residiam nas áreas urbanas das cidades. O tipo histológico mais encontrado nas mulheres que morreram foi o carcinoma de células escamosas, com mais de 86% de taxa de mortalidade. Isso pode ser explicado pelo fato de este tipo de câncer cervical ser o mais comum, representando mais de 80% dos diagnósticos.

Observou-se também a prevalência de estágios mais avançados de tumor nas mulheres que evoluíram a óbito, apresentando estadiamento igual ou maior que IIA, segundo a classificação FIGO 2009, demonstrando que aquelas que tinham o tumor com características invasivas morreram  mais quando comparadas com as que, em seu estadiamento, apresentaram o tumor com estadio mais precoce, a presença de metástase também influenciou nas taxas de mortalidade do estudo, uma vez que mais de 54% das mulheres internadas que morreram apresentavam metástase a distância, quase três vezes mais do que as que não tinham evoluído com processo metastático.

A reinternação e o tipo de tratamento foram determinantes também para o desfecho do estudo, sendo que nas mulheres que não fizeram nenhum tipo de tratamento ou realizaram tratamento combinado apresentaram mortalidade maior quando comparadas àquelas que realizaram tratamento exclusivo (possivelmente devido doença avançada ou já fora de possibilidade terapêutica), bem como aquelas com mais reinternações, provavelmente devido a presença de comorbidades que agravaram a doença de base. Sabe-se que pacientes com câncer pertencem a um grupo de risco para reinternação dentro de 30 dias da alta hospitalar, e por todo o conjunto de fatores que podem levá-los a readmissão, a mortalidade se torna um risco iminente nessa população. Algumas opções de tratamento nos estágios iniciais de câncer cervical são exclusivamente pelo método cirúrgico enquanto que os avançados necessitam de tratamentos adjuvantes como radioterapia, braquiterapia e quimioterapia ou mesmo a combinação de um ou mais desses.

As limitações do estudo restringiram-se às fontes dos dados, já que a não digitalização dos prontuários contribui para perda amostral, pois as informações ilegíveis e a má condição física de alguns prontuários não permitiram a coleta completa das informações. Além disso, a não padronização dos dados permitem que os prontuários sejam preenchidos por vários profissionais, o que gera possibilidade de algumas informações distintas acerca do mesmo assunto. O preenchimento de prontuário não padronizado por vários profissionais gera possibilidade de registros de informações distintas acerca do mesmo assunto, dificultando as análises.

Considerações Finais:

Conclui-se que os principais fatores determinantes para a mortalidade dessas mulheres foram a procedência do interior do estado, o laudo histopatológico de carcinoma escamoso, estadiamento do tumor invasivo, a presença de metástase, a não realização de tratamento e a reinternação após alta no hospital.

Tais dados ajudam a esclarecer a carência de serviços de prevenção e rastreamento sobre o câncer cervical no Pará, e possibilitam subsídios teóricos para a criação de políticas públicas que alcancem todas as mulheres equitativamente, pois os ajustes realizados hoje possibilitam uma consequente mudança futura necessária nos índices e taxas de mortalidade da região. Os resultados sugerem uma carência de serviços de prevenção e rastreamento sobre o câncer cervical no Estado do Pará, e fornecem subsídios teóricos para a criação de políticas públicas que alcancem todas as mulheres equitativamente, pois os ajustes realizados hoje possibilitam uma consequente mudança favorável na redução dos índices e taxas de mortalidade da região.


Palavras-chave


câncer do colo do útero, mortalidade, fatores associados