Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Os mares do SUS: a metáfora no ensino-aprendizagem dos princípios do Sistema Único de Saúde
RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO, MERCIA LIMA DE MELO, ANTONIO MEDEIROS JUNIOR, JANETE LIMA DE CASTRO, ROSANA LUCIA ALVES DE VILAR

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Apresentação:

Trata-se do relato de aplicação de uma estratégia pedagógica baseada no uso das figuras de linguagem (metáfora e analogia) para reforçar a compreensão dos graduandos dos cursos da área de saúde sobre as diretrizes do Sistema Único de Saúde. A prática comunitária pode ser considerada um dos eixos norteadores da formação acadêmica do futuro profissional de saúde, quando aproxima demandas universitárias, exigências sociais e prestação de serviços à população. A integração precoce do estudante universitário à realidade concreta da comunidade e dos serviços de saúde implica na busca de sentidos nos diálogos e espaços de escuta, reflexão e construção multidisciplinar. Essa articulação de saberes induz cada pessoa a mobilizar aprendizagens individuais adquiridas em situações de ação individual ou coletiva. O contexto de aplicação da proposta remete às primeiras experiências de aproximação do graduando dos cursos de saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, aos serviços públicos (municipais) de saúde, orientados pela Estratégia Saúde da Família, durante o primeiro ano de seus cursos, através das disciplinas Saúde e Cidadania I e II. Na ocasião, os alunos vivenciam semanalmente a rotina da Atenção Básica à Saúde durante o semestre letivo. Essa estratégia pedagógica foi pensada na intenção de facilitar a compreensão das diretrizes e princípios do SUS por meio de metodologias ativas de ensino e aprendizagem. Os objetivos da ferramenta foram: estimular o pensamento crítico-reflexivo dos discentes através do potencial pedagógico da metáfora e da analogia para compreensão dos princípios e diretrizes do SUS; compreender a percepção dos discentes sobre os aspectos positivos e negativos da vivência da metodologia supracitada.

Desenvolvimento do trabalho:

A proposta, que vem sendo praticada desde 2015 a 2017, explora e compara, metaforicamente, alguns aspectos, semelhantes e dissonantes, quanto à suposta navegação nos mares da antiguidade (Adriático, Negro, Cáspio, Vermelho, Pérsico, Mediterrâneo, Arábico) em analogia à compreensão dos princípios do SUS (Universalização, Equidade, Integralidade, Regionalização, Hierarquização, Descentralização, Participação Popular). Para isso, o mediador fez uso dos referenciais da Metodologia de Análise de Redes do Cotidiano (MARES) e do Método Aporético de Sócrates. A atividade constitui um Protocolo Verbal que utiliza perguntas norteadoras e cartas temáticas, tipo baralho, como recursos mobilizadores, para estimular a socialização do pensamento e o debate, em roda (grupo), sobre a compreensão dos princípios e diretrizes do SUS. A ação também pode incluir, na mesma perspectiva lógica, os sete atributos da Atenção Primária à Saúde e sete características principais da Estratégia Saúde da Família, para uma melhor triangulação das discussões. Os discentes, principais sujeitos da ação, em média 15 alunos por turma, são acolhidos e dispostos na sala acomodados em formato de círculo, em volta a uma pequena uma mesa ao centro. O mediador espalha e mistura as cartas temáticas mobilizadoras sobre a mesa, enquanto explica a dinâmica. Os temas estão no ventre das cartas, que ficarão inicialmente voltadas para baixo. No dorso das cartas estão os mares das mil e uma noites. Cada carta contém um princípio no ventre e um mar no dorso. O preceptor/mediador convida cada um dos alunos a escolher uma carta (mar) e comentar sobre ela, dizendo a todos o que compreende acerca desse mar (princípio) e como o percebeu/observou em sua vivência, no semestre letivo anterior. Desta forma, cada aluno, um de cada vez, escolhe uma carta, que contém no dorso (visível) um mar da antiguidade, virando-a sobre a mesa, mostrando aos demais o princípio (do SUS) revelado (ventre). Em seguida esse mesmo aluno comenta a respeito do princípio, associando-o à sua vivência no semestre anterior, como discente em aproximação com os serviços de saúde ou como usuário do SUS, caso tenha ocorrido essa possibilidade. Em seguida, a palavra é facultada a quem desejar comentar, discordar ou concordar, no todo ou em parte, com o que foi expresso. As questões norteadoras e indutoras da problematização incluem: Como a navegar (transitar) na porta de entrada do sistema de saúde? Quais as características (percepções) sobre os mares (princípios) navegados? Será que a navegação nos princípios do SUS é tão ou mais difícil que a rota de percurso dos sete mares da antiguidade? Que mares são esses, que exigem uma navegação precisa, diante da imprecisão da vida? Quem navega nesse mar? Como faz para navegar?

Resultados e/ou impactos:

A interação potencializada pelas figuras de linguagem foi um instrumento pedagógico potencial para dar voz ao aluno, possibilitando que ele fosse construtor de seu aprendizado, protagonista, ativo e responsivo, conforme a perspectiva Freireana. As metáforas e analogias incentivaram a criatividade, a conexão entre pessoas e contextos. Se tais instrumentos foram eficazes até mesmo como recursos facilitadores dos ensinamentos de Jesus, por que não os aplicar enquanto ferramentas pedagógicas de ensino-aprendizagem dos princípios do SUS? O processo metafórico envolveu cognição, imaginação e sentimento, através de uma espécie de engenho, de uma forma e/ou fonte de saber, cujos processos e produtos resultam de associações através das quais o conhecimento é construído. É um instrumento de comunicação problematizado capaz de reorganizar, na sua trama, os conteúdos de uma visão de vida, através da fusão de pensamentos, de horizontes, de mundos diferentes. A aplicação (modificada) da Metodologia MARES (criada pelo sociólogo Paulo Henrique Martins) provocou uma alternância entre a desconstrução e reconstrução de opiniões. Assim, as ancoragens vagas acerca de percepções inconsistentes e sem fundamento crítico sobre o SUS são desconstruídas e, através do diálogo democrático entre os saberes (conhecimento científico e senso comum), as concepções consistentes são reforçadas, reconstruindo sabedorias práticas pautadas na cognição, no contexto, na experiência e na interação.

A atividade foi usada no início de cada semestre letivo, geralmente na segunda e/ou terceira aula, na ocasião da chegada dos alunos à unidade de saúde (cenário de prática). Sua temporalidade deve ser analisada em função das características de cada debate. Não há de se ter pressa durante a navegação, principalmente se a dinâmica for estendida também em relação aos sete atributos da Atenção Primária, neste caso, absorveria, em torno de três aulas, ou parte de aulas. Os discentes, através de rodas avaliativas ou de registros em portfólios reflexivos, consideraram a relevância da ferramenta pedagógica enquanto método ativo e envolvente na promoção de debates e na facilitação do processo ensino-aprendizagem na saúde coletiva.

Considerações finais:

Seu uso representou uma oportunidade para desenvolvimento de habilidades, atitudes e amadurecimento pessoal em relação à acepção de críticas construtivas. O movimento articulado das discussões, provocado pelas muitas idas e vindas, semelhante ao vai e vem das ondas do mar, e ao encontro antagônico ou sinérgico das correntes marinhas, misturando os mares do Sistema Único de Saúde no cotidiano de uma unidade de saúde/escola, induz uma problematização constante que retira os participantes da zona de conforto e os convida a reflexões críticas, através do confronto entre as experiências do vivido e as expectativas do porvir.

Palavras-chave


Metodologias ativas; Ensino-aprendizagem; Integração ensino-serviço.