Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-23
Resumo
Introdução: Os óbitos maternos representam um grave problema de saúde pública. As estatísticas sobre a mortalidade materna constituem melhor indicador da saúde da população feminina e uma ferramenta fundamental de gestão de políticas públicas voltadas para fundamentar as análises de programas e ações de atenção à saúde. Está associada à negligência da atenção à saúde no momento da gestação, parto e puerpério. A morte de mulheres durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gravidez, devido a qualquer causa relacionada ou agravada pela gravidez ou por medidas tomadas em relação a ela, excluindo fatores acidentais ou incidentais, é a definição de morte materna instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10). As taxas de mortalidade materna (MM) ainda são altas, violando os direitos humanos das mulheres, que atingem desigualmente as regiões brasileiras. Sua maior prevalência é entre mulheres de classes sociais baixas, com pouco acesso aos bens como: saneamento básico, moradia, emprego, educação, entre outros. A morte materna se caracteriza como um indicador receptivo das condições de vida das mulheres em idade fértil e também da qualidade da atenção obstétrica de que essas mulheres têm acesso. Quando se comenta acerca da organização dos serviços oferecidos e das condições de vida da mulher, sabe-se que a MM está diretamente relacionada e será pesquisada como um indicador que contempla a qualidade de vida de uma população e também reflete a efetividade das políticas públicas de saúde. Estudar os índices de mortalidade materna desperta o interesse em aprofundar o conhecimento como o estado de Mato Grosso do Sul vem lidando com esse assunto tão importante para o norteamento de assistências voltadas a mulher. Objetivo: caracterizar o perfil epidemiológico dos óbitos maternos no estado de Mato Grosso do Sul. Método: Trata-se de um recorte de uma pesquisa baseada em dados secundários, do tipo transversal, descritivo, realizada no período compreendido entre janeiro de 2010 a dezembro de 2014. Foi realizado análise das variáveis quantitativas dos óbitos maternos no estado de Mato Grosso do Sul, por meio do Sistema de Informação de Mortalidade. Este estudo faz parte de um projeto maior intitulado “Mortalidade materna em mato grosso do sul: características epidemiológicas no período de 2010-2014,” aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, em 16 de dezembro de 2015, sob o registro CAAE: 51346215.4.0000.0021. Foi solicitado autorização à Secretaria Estadual de Saúde para adquirir e manusear os dados referentes à mortalidade materna em MS e, a dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pois para esse estudo não houve pesquisa de campo com entrevistas em seres humanos. Resultados: De acordo com os dados disponibilizados pelo SIM, foram identificadas 136 mortes maternas, em mulheres de 10 a 49 anos, residentes no Estado de Mato Grosso do Sul no período de 2010 a 2014. Considerando o total de nascidos vivos no estado neste mesmo período (210.874), obteve-se uma razão de mortalidade materna média de 65/100.000 nascidos vivos. O ano que apresentou a menor taxa de RMM foi 2013 com 52,01 por 100 mil nascidos vivos. Enquanto que a maior taxa RMM foi em 2010 com 74,76. Conforme os valores para RMM recomendado pelo Ministério da Saúde – entre 21 e 35 por 100 mil nascidos vivos - e a meta da OMS em reduzir para 20 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos; nenhum dos anos do período de estudo apresentaram-se dentro do preconizado. Percebe-se que ao longo dos anos estudados, houve uma diminuição nos coeficientes de mortalidade Verificou-se maior número de óbitos maternos nas mulheres com mais de oito anos de escolaridade (55,1%), da raça/cor parda/preta (61,7%), com estado civil solteira (46,3%) e de 30 a 39 anos de idade (40,4%). O local de ocorrência do óbito foi predominantemente hospitalar (91,2%). Houve o predomínio das causas obstétricas diretas, com acentuada participação da hipertensão. As principais causas dos óbitos maternos foram: edema, proteinúria, transtornos hipertensivos da gravidez parto e puerpério (19,9%), complicações do trabalho de parto e parto (19,9%), complicações relacionadas ao puerpério (11%) e gravidez terminando em aborto (9,6%). A medicalização do parto em conjunto com altas taxas de cesáreas, o excesso de intervenções desnecessárias e a falta de treinamento de equipes especializadas são alguns fatores apontados como barreiras para que as taxas de mortalidade materna não diminua no país, estendendo-se ao estado de Mato Grosso do Sul. Sabe-se que a mortalidade materna discorda segundo classe social, escolaridade, níveis de renda, dentre outros, e, por esse motivo, a sua análise é qualitativamente melhor quando as variáveis são incluídas. Para se prevenir mortes maternas, é fundamental que ocorra um acesso organizado dos serviços de saúde e uma boa qualidade no atendimento. A assistência deve ser estabelecida desde antes da gravidez, por meio de educação em saúde com o planejamento familiar, cursando todas as etapas do pré-natal, trabalho de parto e parto, cuidando do binômio como um todo, com continuidade dos cuidados desde os primeiros dias de vida do recém-nascido e até se findar o período puerperal. Considerações Finais: Neste estudo, percebeu-se a necessidade de caracterizar o perfil desses óbitos maternos em suas variadas particularidades, podendo resultar na elaboração de pontos de atenção qualificada à saúde materna condizente com o real cenário. A análise quantitativa torna-se importante pois mostra a situação da saúde materna, e possibilita melhores práticas, permitindo mecanismos de análise e decisões por gestores e profissionais de saúde. Reflexões devem ser feitas quanto ao modelo de atenção à mulher gestante e puérpera, e como a Rede Cegonha pode impactar na atual realidade. Para a implantação efetiva do programa é imprescindível que descreva o perfil epidemiológico da população em suas variadas demandas e determinantes, podendo resultar na elaboração de projetos de atenção qualificada à saúde materna condizente com o real cenário. Os coeficientes de mortalidade materna apontam para desigualdades sociais, apresentando uma realidade que necessita de intervenções na área da saúde, para que se tenham indicadores satisfatórios no setor materno-infantil, mostrando um panorama em mudança sendo construído por meio de esforços para suprir desfechos evitáveis utilizando assistência qualificada. As informações adquiridas na pesquisa auxiliam na caracterização de uma realidade e criam subsídios para a implantação de ações em saúde direcionadas às verdadeiras necessidades das mulheres, possibilitando resultados significativos voltados a melhor assistência para estas. É fundamental que haja uma ampliação do acesso aos serviços de saúde e o comprometimento efetivo dos profissionais envolvidos com a assistência à mulher durante o pré-natal, parto e puerpério. Neste contexto de melhoria na assistência, espera-se uma prospecção tanto no acolhimento, busca ativa e compreensão, número de consultas nas unidades de serviços de saúde e no reforço a humanização da assistência, sustentada pelas práticas do acolhimento, da orientação, do acesso aos serviços de saúde, da assistência a mulher em sua totalidade no âmbito hospitalar, sanando casos de violência obstétrica e proporcionando cuidados intensivos e necessários a essas mulheres em um momento peculiar de suas vidas.