Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Seminário O Bem Viver dos Povos Indígenas - Relato de Experiência
Camila Rodrigues e Rodrigues, Maycon Correia Pinto, Álvaro Palha Junior, Eluana Carvalho, Bianca Tsubaki, Marcela Acioli, Aline Lima, Isabela Ramos

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Este trabalho é um relato de experiência sobre o “Seminário O Bem Viver dos Povos Indígenas: diálogos, desafios e perspectivas”, ocorrido em Belém do Pará, nos dias 14 e 15 de Setembro de 2017, no interior do espaço físico da Universidade da Amazônia (UNAMA), com o objetivo de provocar momentos de diálogo entre os povos indígenas, trabalhadores de políticas públicas, pesquisadores e demais interessados no tema. O evento foi realizado através da cooperação entre o Grupo de Trabalho de Psicologia e Povos Indígenas do Conselho Regional de Psicologia da 10ª Região Pará/Amapá (CRP 10 PA/AP), a Faculdade de Psicologia da Universidade da Amazônia (UNAMA) e o Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá - Tocantins da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (DSEI GUATOC/SESAI/MS). Cada uma destas instituições parceiras envolvidas na realização do evento teve interesses específicos ao organizar este Seminário. O CRP é um conselho de classe, uma autarquia que tem as funções de orientar, fiscalizar e disciplinar o exercício de profissionais psicólogos, e dentro deste, os Grupos de Trabalho, como é o GT de Psicologia e Povos Indígenas, funcionam como ferramenta estratégica para orientar o exercício profissional em determinado tema específico, ou seja, neste caso, o CRP, através deste GT, teve como objetivo principal promover o encontro de profissionais psicólogos com a temática “povos indígenas”, através deste evento. Além deste objetivo, porém em menor escala, ampliar o debate, socializando tais informações com o público interessado em geral, uma vez que o GT é um espaço aberto. A UNAMA, como instituição universitária, teve como principal objetivo fomentar o debate sobre o diálogo da Psicologia com Povos Indígenas para fins de pesquisa, complementação de ensino e possibilidade de extensão universitária. Além da UNAMA, pesquisadores de outras instituições universitárias, como da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e o Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES), também participaram conduzindo atividades do evento, ou como ouvintes. E os DSEIs, que são unidades gestoras descentralizadas do Subsistema de Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde (SASI-SUS), responsáveis pela execução de ações de atenção à saúde nas aldeias, de saneamento ambiental e edificações de saúde, mais especificamente o DSEI GUATOC, que, promovendo o III Encontro de Formação Técnica Continuada do Programa Bem Viver sobre Vigilância Epidemiológica, Saúde Mental e seus instrumentos, entre os dias 11 e 15 de Setembro de 2017, teve como objetivo central aproveitar o Seminário como atividade culminante de sua formação, qualificando e ampliando o debate profissional. Destas três instituições, foi o GT que protagonizou a organização do evento e provocou a parceria com a UNAMA e o DSEI. Entre Mesas Redondas, Cine-debates e Minicursos, os temas abordados no Seminário foram: a indissociabilidade entre saúde e educação intercultural; sobre as formações em Psicologia no Norte do Brasil; os caminhos para o cuidado integral dos povos indígenas; povos indígenas e questões de gênero; os efeitos sociais das intervenções do Estado sobre territórios indígenas: Belo Monte, Marco Temporal, CPI da FUNAI no atual contexto de violação dos direitos indígenas; a dimensão ético-política da clínica psicológica com populações indígenas; a atuação do psicólogo do SASI-SUS; PNAS – Proteção Social Básica e Famílias Indígenas; a Enfermagem aplicada à Saúde Indígena; a epidemiologia das populações indígenas brasileiras; contação de histórias: Caminhos de narrativas e a arte milenar dos povos indígenas; a apresentação dos documentários: “Eu + 1” e “Tupinambá – O retorno da Terra”. Esta diversidade de temas abordados na programação reflete bem a escolha do nome do Seminário, “O Bem Viver dos Povos Indígenas”, fazendo alusão à base do pensamento do Bem Viver, apoiado na cosmovisão indígena, em que todos os humanos, assim como os demais seres, são parte da Mãe Natureza, irmãos das plantas e dos rios, e não há separação. O Bem Viver significa recuperar a vivência dos povos da terra, a Cultura da Vida em completa harmonia e respeito mútuo com a natureza, e é diferente do conceito de “bem-estar” ocidental. Logo, falar sobre saúde indígena perpassa por todas estas e várias outras questões. Daí a importância de formar profissionais de saúde com uma perspectiva multidisciplinar, que atuarão em contextos interculturais, dialogando com saberes de bases epistemológicas distintas, que transitam entre ciência e ancestralidade. E assim como o Programa Bem Viver na Aldeia da SESAI, que é o programa de saúde mental indígena e atenção psicossocial renomeado pelos indígenas, o Seminário também teve a intenção de fomentar o protagonismo indígena tanto na escolha dos temas quanto na execução do evento. É imprescindível destacar que a organização do evento preocupou-se com o diálogo constante com diversos indígenas de alguns povos do Estado do Pará, Amazonas, Tocantins e Santa Catarina, como Tembé, Kumaruara, Aikewará, Kayapó, Kambeba, Baniwa, Baré, Xerente e Kaingang, os quais sugeriram seus temas para compor cada atividade que conduziram. Vale ainda ressaltar que todas as Mesas Redondas contaram com a participação de pelo menos um representante indígena. O público presente no evento consistiu em acadêmicos e profissionais das Ciências Humanas, Ciências Sociais, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências da Educação e Ciências da Saúde, membros de comunidades tradicionais e povos indígenas, profissionais do DSEI Guamá-Tocantins e do DSEI Kayapó do Pará, representantes do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06) e público em geral, contabilizando aproximadamente 300 inscritos. Em síntese, o Seminário alcançou os seus objetivos de promover o encontro de profissionais da Psicologia com a temática indígena, socializou tais conhecimentos com o público em geral, intensificou o debate deste tema entre os acadêmicos, que participaram em massa do evento, fortaleceu um coletivo de psicólogos e estudantes de Psicologia de Santarém do Pará, que passaram a compor o GT e ampliar as ações para a região do oeste paraense, e encerrou as atividades do III Encontro de Formação Técnica Continuada do Programa Bem Viver sobre Vigilância Epidemiológica, Saúde Mental e seus instrumentos, promovido pelo DSEI GUATOC. Além disso, demarcou o Grupo de Trabalho de Psicologia e Povos Indígenas como um coletivo de referência quanto ao fomento deste tema na região, desdobrando-se também no reconhecimento por parte de outros Conselhos Regionais de Psicologia do país e do Conselho Federal de Psicologia.


Palavras-chave


psicologia e povos indígenas ; saúde indígena ; CRP10.