Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-03-14
Resumo
RESUMO
Diante da importância de se provocar mudanças frente a um cenário tradicional de acesso à saúde, o grupo tutorial da disciplina Atividade Interativa Interdisciplinar: Saúde e Cidadania II (SACI-II) propôs aos funcionários da Unidade de Saúde da Família (USF) de Aparecida o acesso avançado no atendimento aos seus usuários. Dessa forma, o trabalho apresenta um relato de experiência de estudantes de graduação de enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Serão abordados pontos pertinentes aos benefícios dessa nova visão e como ela foi construída e exposta na USF Aparecida. Ademais, considerar os efeitos positivos causados nos profissionais e discentes para transformar o processo de trabalho em prol da garantia dos diretos da população.
INTRODUÇÃO
O acesso avançado é uma visão desafiadora do sistema de saúde que visa à reformulação no atendimento prestado a usuários da rede de Atenção Básica. Tendo em vista que a USF é a porta de entrada aos serviços do SUS (Sistema Único de Saúde), a mesma deve estar qualificada em ofertar uma assistência de forma universal, integral, longitudinal e com equidade. Muitos desses princípios são prestados deficientemente no acesso tradicional nas Unidades Básicas de Saúde. Mas por que isso ocorre?
O acesso tradicional em prática gera, na maioria das vezes, o congelamento do usuário no agendamento, impedindo a continuidade do serviço e quebrando a visão de prevenção e promoção em saúde. Mas não precisamos ir tão longe para falar das deficiências desse sistema, podemos começar com a porta de entrada da unidade, invadida com longas filas, com a realidade de vendas de fichas e até de sobrecarga dos profissionais, gerando uma desumanização no atendimento aos pacientes.
Veremos mais a frente os benefícios de implantar um sistema com acesso avançado e observaremos que o anseio de fazer o trabalho de hoje, hoje, apesar de ser um desafio, pode ser uma realidade atual das unidades de saúde brasileiras.
Pretendemos através desse relato exaltar a importância da implantação do acesso avançado nas unidades de saúde, conscientizar estudantes e profissionais sobre essa nova visão no acolhimento de pacientes e principalmente trazer a reflexão de que lutar é preciso para mudar a realidade do acesso à saúde.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência baseado na intervenção final da disciplina SACI-II, a qual visa à inserção do aluno em Grupo Tutorial Interdisciplinar e Multiprofissional abordando a dinâmica dos serviços de Atenção Básica à Saúde e, mais especificamente, a Estratégia de Saúde da Família e sua relação com a comunidade. Possui como um dos seus métodos avaliativos uma intervenção, que ocorre no final da disciplina. O objetivo dessa é incitar nos alunos o trabalho em equipe, educação em saúde, pensamento crítico. E, além disso, o SACI-II vem reforçando as nossas políticas públicas de saúde, proporcionando educação em saúde para os profissionais, consequentemente, melhorando a qualidade do atendimento e deixando o legado para a comunidade.
A partir disso o grupo tutorial da disciplina despertou nos alunos o tema acesso avançado, tendo em vista às necessidades do território. Ponderou-se que a intervenção se daria através de um dia de integração entre os alunos com o apoio dos doutorandos de Medicina, em conjunto com os profissionais da USF, na própria Unidade.
Para se dar essa integração, elaborou-se uma apresentação com as seguintes etapas: (1) apresentação do tema e descrição rápida do Acesso Avançado, gerando problematização da realidade vivida; (2) separação de cinco grupos de profissionais para debater sobre o tema, trazendo questões relativas às perspectivas dos processos de trabalho vivenciadas, e como o acesso avançado poderia solucioná-las; (3) relato da discussão do grupo, por um representante discente, do que foi discutido para que se tivesse uma melhor percepção da receptividade do tema e das dificuldades enfrentadas relativas ao acolhimento; (4) exposição mais aprofundada sobre a temática sanando dúvidas acerca da sua implantação e funcionamento.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Visto que o sistema de atendimento tradicional, como já citado, é deficitário, com atraso na disponibilidade da oferta, levando ao agravamento do adoecimento e a sobrecarga da Atenção Secundária e Atenção Terciária. Temos que a USF Aparecida necessitava de adesão a um novo método que preconizasse as reais demandas dos usuários, garantindo acesso facilitado e com continuidade no cuidado, mitigação de tempo de agendamento, diminuição das faltas das consultas médicas, diminuição do absenteísmo e aumento do número de atendimentos resolutivos. E são esses aspectos que constituem o acesso avançado.
Diante disso, foi aberta a discussão na intervenção tentando responder as seguintes perguntas:
- Como você define o acesso avançado?
- Como é o acesso em sua equipe e o que pode melhorar?
- Como o acesso avançado pode auxiliar na melhoria do acesso a sua equipe?
Essas perguntas serviram para nortear a discussão e para uma auto-reflexão de cada profissional e aluno presente, revelando que mudanças precisam e devem ser implementadas buscando a fortificação dessa Atenção Primária, a qual deve ter cerca de 80% de resolutividade.
Temos que muitos profissionais da rede, como agentes de saúde e técnicos de enfermagem, podem otimizar o tempo de atendimento, realizando a escuta qualificada e orientando os usuários. Vale salientar, que enfermeiros, odontólogos e médicos precisam se adequar a uma realidade humanizada e holística que compõem o acesso avançado. Sendo assim, a equipe de forma geral, deve ser ativa e engajada para buscar capacitações e consequentemente melhorar o processo de trabalho.
A apresentação ocorreu sem grandes empecilhos, de forma dinâmica, e com boa receptividade. Com algumas opiniões divergentes que insistiam em dizer que a população não iria entender a lógica da oferta, gerando demanda maior. Entretanto, a população deve ser participante da sua política de saúde e como tal tem direito a informação. Ademais, para que se consolide esse sistema, o planejamento é fundamental, pois só se faz possível com equilíbrio entra a demanda e a oferta, que existe na USF-Aparecida.
Como resultados esperados vislumbram-se reuniões futuras com foco na mudança de fluxo de atendimento – com a reorganização e melhor utilização do espaço da unidade, com um fluxo resolutivo de resposta a demandas e com um horário de atenção da equipe para a população – bem como na associação de todos os funcionários para uma real aplicabilidade da proposta, com compartilhamento de relatos entre as equipes e capacitações para desenvolver a escuta qualificada e o profundo entendimento do processo de trabalho da unidade. Nesse sentido, promove-se um ambiente de trabalho favorável, com uma equipe fortalecida para ter condições de dar mais “sim” do que “não” ao paciente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível concluir que o modelo de acesso avançado pode ser extremamente significativo para o território de adscrição da unidade, pois tende a proporcionar – se bem estruturado e executado – mais serviços de saúde para quem apresenta uma real necessidade.
Diante disso, a intervenção na USF de Aparecida tem seu objetivo cumprido ao conseguir sensibilizar os profissionais de forma transversal para a importância de constantemente buscar uma maior qualidade no acesso à saúde, como forma de reforçar os princípios da Atenção Primária à Saúde.
Além de profissionais sensibilizados e mais críticos quanto ao sistema atual de atendimento, essa experiência revelou aos discentes que eles podem ser agentes de mudanças e que podem atuar junto aos princípios do SUS, enriquecendo sua futura vida profissional.