Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Aborto e adolescência: a realidade de mulheres que vivem na Comunidade do Porto do Sal em Belém do Pará.
Larissa Sales Pereira, Maria Lúcia Chaves Lima

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


O trabalho trata de uma pesquisa de mestrado com adolescentes acerca da temática do aborto, realizada na Comunidade do Porto do Sal, localizado no bairro da Cidade Velha na cidade de Belém do Pará. Dessa forma, o objetivo consiste em identificar quais os sentidos que as adolescentes do Porto do Sal produzem sobre o aborto. Levando em consideração a investigação sobre os processos de decisão das adolescentes pelo aborto, bem como quais os discursos (exemplo: maternidade compulsória, relações de gênero, religião, moral, etc.) que influenciam a decisão das adolescentes pela interrupção da gestação, e identificar quais as práticas de resistência as adolescentes exercem/exerceram quando optaram pelo aborto. Nesse contexto faremos concomitante a escuta das adolescentes que não abortaram, as que têm filhos, assim como as jovens que não tem filhos, tudo isso para investigar de que forma ocorre a circulação sobre o aborto, e o que atravessa o sentido das adolescentes sobre a temática. O método da pesquisa está pautado nas Práticas discursivas e produção de sentidos, baseado na perspectiva do Construcionismo Social, considerando que no campo da produção de saberes sobre o aborto - um dos discursos mais defendidos como característica intrínseca da realidade do aborto é a vida do feto, embora, os discursos manifestados pelas adolescentes que vivenciaram a situação da escolha pela interrupção da gestação são sobrecarregados de medo, inclusive vergonha de expor a situação. Dessa maneira, a discussão que propomos tem como finalidade mostrar as diferentes perspectivas que essa pesquisa pode nos possibilitar, no sentido de revelar a necessidade da Psicologia considerar também questões de gênero, raça, classe social, problemas sociais entre mulheres e homens no espaço público e privado, e tantas outras problemáticas enfrentadas pela mulher que se perpetuam na atualidade. No entanto, para podermos adentrar nesse diálogo será imprescindível conciliarmos esse debate com o feminismo para nos auxiliar na compreensão desse contexto. Levando em consideração reflexões, por exemplo, sobre os lugares que as adolescentes ocupam, quem acolhe essas adolescentes nas suas angústias de vida ou quando buscam os serviços de saúde, e então podemos pensar qual a nossa implicação nisso? Nessa perspectiva o assunto aborto atravessa todos esses elementos quando refere sobre a questão do gênero, atinge aproximadamente meio milhão de mulheres que abortaram no ano de 2015 no Brasil, isso corresponde a 1.369 mulheres por dia, 57 mulheres por hora, quase uma por minuto, de acordo com dados do Instituto de Bioética – ANIS. Por envolver estes aspectos, surge outro questionamento como pensar uma psicologia feminista que nos possibilite atentar para a Comunidade do Porto do Sal e fazer pesquisa, pautada em pressupostos de uma escuta não moralizante, atitudes não doutrinárias que diz respeito sobre como as adolescentes devem reagir diante das opressões e outras dificuldades que lidam, respeitando a construção dessa subjetividade que foi constituída na relação com outros sujeitos e saberes, a partir do lugar de fala que elas ocupam, assim como os seus marcadores sociais. Em razão disso, tratamos aqui da teoria da interseccionalidade que terá suma importância nas nossas observações e análises, pois de acordo com a afirmação de Staunaes (2005 apud NOGUEIRA, 2017, p. 149): “[...] a aplicabilidade da teoria interseccionalidade é cada vez maior não só porque permite a teorização sobre grupos com opressões múltiplas e simultâneas ou mesmo para todas as pessoas (homens e mulheres, privilegiados ou oprimidos em diferentes dimensões) na prática, fazendo parte integrante de uma teoria da identidade”. Por esses motivos, a necessidade de nortearmos as análises com o auxílio da teoria da interseccionalidade que nos permite olhar através de diferentes perspectivas, como por exemplo, a discriminação, o assédio, opressões por serem mulheres, adolescentes e mães, e os vários lados da violência que esse público lida no decorrer da vida. Dessa forma, passamos a considerar também o caráter interdisciplinar que a interseccionalidade nos permite enxergar articulada com a psicologia social, tendo em vista a complexidade do contexto social. A respeito dos dados parciais coletados, no primeiro momento, participaram 8 (oito) adolescentes nos 3 (três) encontros que foram realizados no formato roda de conversa em que as temáticas dialogas eram trazidas por elas (relacionamento, família, gravidez, aborto, religião), em seguida reflexões eram feitas acerca daquelas situações, inclusive houve músicas que elas solicitaram que fossem levadas para elas tocarem no violão e cantarem. Assim, pretende-se discutir possíveis implicações políticas e sociais dos sentidos sobre o aborto produzidos pelas adolescentes. Desta forma o estudo das práticas discursivas não se pauta no significado das palavras ou frases, mas na compreensão das condições que produziram este discurso, as relações de poder nele presentes, o que o tornou possível, os efeitos por ele produzidos (MÉLLO et al, 2007). Os resultados/impactos parciais mostram que as adolescentes participam com entusiasmo e demonstram interesse no diálogo, acompanhadas dos filhos (bebês) que também participam da roda. Houve questionamento por parte do companheiro de uma das adolescentes sobre sua ida ao grupo, tanto que em um dos dias buscou se aproximar da roda para se informar do que tratava. Os discursos relatados mostram que ainda há uma naturalização da violência doméstica. Religião influencia no modo de pensar determinados assuntos como o aborto, e o desejo em alcançar a independência financeira, a partir dos estudos para futuramente proporcionar melhores condições de vida para seus filhos e família, tendo em vista que a maioria das adolescentes residem com os pais e as avós é que geralmente são responsáveis pelos cuidados dos filhos. Atrelado a isso construiremos um trabalho pautado na psicologia social articulando com o feminismo, no intuito de não dicotomizar essas experiências sendo uma forma de nos colocarmos num lugar de resistência e nosso enfrentamento é adentrar nesses espaços, fazendo com que esse diálogo possa contribuir para a vida dessas jovens, nas relações de gênero que as adolescentes enfrentam, seja com o companheiro, familiares e amigos. Trabalho voltado para as questões da mulher, perpassando pelas políticas públicas de saúde, relações de gênero, direitos sexuais e reprodutivos, ética profissional, problematizando como uma possível psicologia feminista pode fazer uma escuta nesses espaços e intervir promovendo uma educação em saúde.

Palavras-chave


Psicologia Social; Aborto; Adolescência; Porto do Sal; Belém Pará.