Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Experiências inovadoras nos projetos pedagógicos dos cursos de graduação em saúde – A inserção do acadêmico de Medicina no Sistema Único de Saúde: um relato de experiência
Ranna Abadias Pessoa, Gabriel Antônio de Lima Cerqueira, Giulia Crisóstomo Feitosa Carvalho, Matheus Felipe Ketes Bergamin

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação:

O Sistema Único de Saúde (SUS) é formado pelo conjunto de todas as ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, com permissão para participação complementar da iniciativa privada (BRASIL, 2000). No contexto deste, as Redes de Atenção à Saúde (RAS) são arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado (BRASIL, 2010).

Devido às transições demográfica e epidemiológica pela qual passou a saúde no Brasil, e a apresentação desta com uma tripla carga de doenças, manifestada por doenças infecciosas, violência urbana e doenças crônicas, com a predominância desta (MENDES, 2010), vê-se a necessidade da efetivação das RAS. Estas apresentam características como: formação de relações horizontais entre os pontos de atenção, tendo a Atenção Básica (AB) como centro de comunicação; centralidade nas necessidades de saúde da população; responsabilização por atenção contínua e integral; cuidado multiprofissional; compartilhamento de objetivos; e compromisso com resultados sanitários e econômicos (BRASIL, 2014).

Na última década, o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da Saúde (MS), indicaram a necessidade de uma reforma curricular nos cursos de graduação da área da saúde, a fim de incluir na formação dos futuros profissionais, a responsabilidade social com a saúde da população e com a consolidação do SUS (UFRB, 2016). É neste contexto que as visitações feitas pelos acadêmicos de Medicina aos componentes das RAS mostram sua importância, em que aqueles podem firmar os preceitos prezados na formação médica.


Objetivo:

Relatar a experiência de quatro acadêmicos de Medicina nas aulas práticas da disciplina Saúde Coletiva II, que versavam pelas Redes de Atenção à Saúde do Sistema Único de Saúde.


Desenvolvimento:

No decorrer de Março a Junho de 2017, acadêmicos da disciplina Saúde Coletiva II (UFAM) visitaram unidades de saúde de Manaus, com destaque para os componentes da RAS: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); Policlínica; Maternidade; Casa de Apoio à Saúde Indígena (CASAI).

Nos CAPS Silvério Tundis e Dr. Afrânio Soares foi possível conhecer o trabalho de consultas psiquiátricas e internações; e um centro de acolhimento de pacientes e familiares, além do uso de metodologias ativas como meio de terapia complementar às usadas na medicina tradicional. Notou-se, também, o atendimento preferencial de dependentes de álcool e outras drogas. Em visita guiada, foi possível a interação entre acadêmicos, funcionários e pacientes; outrossim, foi a tomada de conhecimento das equipes multidisciplinares como psicólogos, médicos e assistentes sociais.

Por sua vez, a Maternidade Ana Braga, local de cuidado e atenção à gestante e ao recém nascido, é uma instituição de referência no sistema de saúde manauara. Reconhecido com o Certificado de Excelência Classe A - Padrão Ouro em 2013, seu Banco de Leite Humano figura entre os três principais do estado do Amazonas (FIOCRUZ, 2013). A Rede Cegonha, estratégia implantada pelo MS, coloca a maternidade como ponto ativo da RAS, ao realizar o planejamento reprodutivo, o controle de DSTs e a conscientização acerca de métodos contraceptivos, de modo a ampliar o cuidado integral à mulher e controlar a morbimortalidade materna e infantil (BRASIL, 2014).

Dentro da atenção secundária, na Policlínica Dr. Antônio Reis percebeu-se a importância do nível de atenção secundária, visto que este amplia o acesso às consultas e aos procedimentos especializados, ao conectar pontos da RAS e promover a integralidade do cuidado. Já na CASAI, uma unidade integrante do Subsistema de atenção à Saúde Indígena, que tem por finalidade prestar apoio a pacientes indígenas referenciados pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas – DSEI, ou pelos Estados, via Tratamento Fora de Domicílio (TFD), aos serviços de média e alta complexidade na rede do SUS (BRASIL, 2017), a visitação ocorreu com mais discrição. Entretanto, ainda assim foi possível conhecer toda a unidade e seus componentes, como o alojamento separado por etnias e a equipe multiprofissional.


Impactos:

Ao destacar os CAPS, observou-se que a rotina desses locais serviram para desmistificar os mitos e construções falaciosas acerca do manejo de pacientes psiquiátricos ou dependentes químicos, antes fomentados pelos “manicômios”. Já embasados teoricamente pela Lei nº 10.216, que tergiversa sobre os cuidados de pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, pôde-se discutir e indagar gestores das unidades do cumprimento ou não de determinadas formas de atendimento, como a entrega de medicamentos no local a quem precisasse. Existe, sim, problemas na falta de fármacos e no atendimento, uma vez pela escassez de médicos especializados, porém há uma equipe multidisciplinar muito fortuita e que busca atender bem desde a triagem até o cuidado pós atendimento de pacientes e familiares.

Com relação à Maternidade Ana Braga, viu-se que esta segue os conceitos implementados através da Rede Cegonha. A ampliação do acesso, a qualificação da atenção ao parto e ao nascimento, o estímulo ao parto natural, a capacitação de parteiras, a permissão para que a gestante leve uma doula como acompanhante, são ações notáveis desta unidade. O local, também referência por seu banco de leite, encoraja as lactantes à doarem leite materno que será distribuído para UTIs neonatais das redes pública e privada, tendo recolhido em 2016 mais de 11 mil litros.  Ademais, também foi possível perceber a importância do pré-natal e da adoção de estratégias, como o Método Canguru, para a manutenção da saúde da gestante e do bebê. No entanto, apesar do cuidado por parte dos funcionários, a instituição carece em infraestrutura, já que no dia da visita a climatização não funcionava em vários locais, inclusive nas salas de parto onde o calor era intenso. Além disso, há poucos leitos para as gestantes em trabalho de parto e os já existentes são pequenos.

Referente às Policlínicas, apesar de Manaus ser uma grande capital, o número destas não é suficiente para suprir a demanda. Assim, os problemas da unidade visitada eram: superlotação; falta de médicos; inoperância do SISREG; e obsolescência de equipamentos, o que gera uma estagnação em sua função. Na CASAI, constatou-se outra realidade dos serviços de saúde, em que estes se realizam conforme o sistema de referência e contrarreferência e com devido acompanhamento dos pacientes pela equipe e órgãos competentes. Entretanto, um ato falho destacável é a ausência de respeito à separação por etnias, pois os indígenas apresentavam-se misturados sem se considerar suas particularidades.


Considerações finais:

Em todos os serviços de saúde visitados, estes se apresentaram como um aprendizado das partes que compõem o caleidoscópio que é o SUS. A experiência nas RAS pôde acrescentar que estas são uma estratégia viável e necessária para o bom e integrado funcionamento deste.

Um dos grandes pontos positivos foi a interação dos acadêmicos com funcionários e pacientes, situação de grande valia para a aquisição de capital humano, com contribuição para a obtenção da responsabilidade social com a saúde da população e com a consolidação do SUS. Com isso, a formação médica aprimora-se, pois o acadêmico de Medicina, quando formado, já se encontra inserido no Sistema Único de Saúde.



Palavras-chave


Sistema Único de Saúde; Atenção à Saúde; Assistência Integral à Saúde; Educação Médica