Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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INCIVILIDADE E VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA NO TRABALHO: EVIDÊNCIAS DE COMPORTAMENTOS DESTRUTIVOS DA EQUIPE DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA
Yane Carmem Ferreira Brito, Luana Silva de Sousa, Aline Portela Bernanrdes, Ilse Maria Tigre de Arruda Leitão, Roberta Meneses Oliveira

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Introdução: Comportamento destrutivo envolve condutas desrespeitosas adotadas por trabalhadores em suas práticas profissionais, envolvendo atitudes de incivilidade, violência psicológica e violência física. No processo de trabalho da Enfermagem, esta problemática tem sido evidenciada e disseminada em diferentes meios de comunicação que tem relatado casos de violência nas organizações de saúde envolvendo enfermeiros, técnicos e outros trabalhadores contra seus colegas de trabalho e repercutindo, consideravelmente, na qualidade da assistência prestada. Sabe-se que a busca por qualidade nos serviços de saúde tem requerido estudos, ações e formulação de estratégias para o desempenho de cuidados seguros e à valorização da equipe e o comportamento destrutivo, dentre outras formas de violência no trabalho, manifesta-se como um impedimento a essa valorização e à implementação da cultura de segurança. Objetivo: analisar comportamentos destrutivos no trabalho da equipe de enfermagem de um serviço hospitalar de obstetrícia. Metodologia: Trata-se de um recorte de projeto de pesquisa de maior abrangência (projeto guarda-chuva) intitulado: “Comportamento destrutivo no trabalho em saúde: análise de conceito”. Este é um estudo descritivo, de abordagem qualitativa realizado no período de setembro a dezembro de 2014, em hospital terciário de referência para o estado do Ceará, nas unidades que compõem o serviço de obstetrícia, incluindo: internação (alojamento conjunto), emergência e sala de parto/centro obstétrico. A população foi composta por enfermeiros e técnicos de enfermagem contando com os seguintes critérios de inclusão: trabalhar no período diurno e/ou noturno na unidade; exercer suas atividades na instituição há pelo menos 1 ano; ocupar cargo assistencial. Foram excluídos enfermeiros gerentes e supervisores e os que estavam de férias ou licença no período de coleta dos dados. Ao todo, participaram da pesquisa 30 trabalhadoras da equipe de enfermagem, sendo 12 enfermeiras e 18 técnicas de enfermagem. Estas aceitaram participar do estudo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados realizou-se por meio de um roteiro de entrevista em profundidade. Esta reunia as seguintes informações: características sóciodemográficas e ocupacionais e perguntas norteadoras sobre comportamento destrutivo, condutas características e consequências. As entrevistas foram realizadas logo após os plantões, ou nos seus intervalos, por meio de gravação dos depoimentos com consentimento das participantes, visando à garantia de maior fidedignidade ao processo de análise e interpretação. Em média, as entrevistas duraram de 10 a 30 minutos. Para análise das entrevistas foi utilizada a Técnica da Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2010) definida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens em três fases: Pré-análise; Exploração do material; Tratamento dos resultados, inferência e interpretação. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição com número de protocolo 479.384/2013. Resultados: O perfil das entrevistadas demonstra a totalidade de trabalhadoras do sexo feminino, o que reflete e determina uma caraterística predominante da Enfermagem. Apresentavam idade média de 36,7 anos, porém mais da metade tinha de 22 a 34 anos, revelando força de trabalho relativamente jovem. A maioria era técnica de enfermagem atuante na unidade de alojamento conjunto. Dentre as enfermeiras, a maioria relatou ser especialista, com destaque à Especialização em Enfermagem Obstétrica, com 75% das entrevistadas. Este dado demonstra que as enfermeiras do estudo eram profissionais especialistas na área de atuação, podendo demonstrar conhecimentos e práticas favoráveis à reflexão sobre o seu processo de trabalho. Quanto ao tempo de formação, verificou-se que as trabalhadoras tinham quase dez anos de formadas, também refletindo experiência na área. Além disso, tinham em média 10 anos de atuação no serviço. Cabe ressaltar que algumas participantes referiram trabalhar há mais de 30 anos na instituição, algumas com mais de 40 anos de formadas. Este resultado com relação ao tempo de formação e ao tempo de serviço é considerado favorável para as participantes abordarem aspectos crítico-reflexivos acerca do seu processo de trabalho. No que diz respeito às condutas características de comportamentos destrutivos estudados, foram extraídas das entrevistas 51 unidades de registro/contexto. Estas, por sua vez, foram categorizadas, principalmente, como incivilidade e violência psicológica. Pouco mais da metade das unidades de registro/contexto abordava casos de comportamento destrutivo caracterizado como incivilidade. Esta é conhecida como um comportamento destrutivo de baixa intensidade que viola normas do ambiente de trabalho para respeito mútuo, que pode ou não ter a intenção de prejudicar o alvo, não ameaça fisicamente o outro e pode ocorrer por diferença hierárquica. Dentre as condutas características de incivilidade prevaleceram: descumprir normas, rotinas e protocolos organizacionais, recusar-se a executar as tarefas atribuídas ou exibir atitudes que não cooperam durante as atividades de rotina e desrespeitar o colega de trabalho. Conforme foram evidenciados nas entrevistas, os principais consequentes dos comportamentos destrutivos estão relacionados às respectivas categorias: para o trabalhador/ equipe (medo, tensão e/ou perda de foco e sofrimento moral e psíquico), para o paciente (comprometimento da segurança e da qualidade dos cuidados) e para a organização de saúde (impacto na dinâmica e na cultura organizacional). Estudiosos afirmam que, na maioria das vezes, não há reconhecimento ou apoio para as ações contra as vítimas dos comportamentos destrutivos, e estas podem sofrer em silêncio. Este silêncio põe em perigo a saúde e a segurança do paciente e do trabalhador. Diante desses resultados, acredita-se na importância da abertura de espaços de discussão sobre a violência no trabalho, para que gestores possam estabelecer medidas e estratégicas de prevenção e contenção desse tipo de violência, a fim de garantir a saúde, a dignidade e o bem-estar no trabalho. Torna-se importante discutir o assunto no espaço acadêmico, a fim de dar maior visibilidade ao tema para que futuros enfermeiros possam identificar e enfrentar adequadamente esse tipo de violência. Conclusão: O estudo demonstra que o comportamento destrutivo permeia a prática de enfermagem em obstetrícia, devendo ser tema de discussão entre os trabalhadores da área e na formação acadêmica tanto na graduação como na pós-graduação. Além da violência institucional, comum em hospitais públicos, existe uma violência cometida por trabalhadores contra seus próprios colegas, o que repercute em toda a organização, de diversas formas. Sugerem-se novas pesquisas que esclareçam o impacto desses comportamentos na segurança do paciente, analisando os eventos adversos gerados e o custo envolvido no tratamento dos danos causados para profissionais, pacientes e organizações.

Palavras-chave


Obstetrícia; Enfermagem Obstétrica; Relações interpessoais.