Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Estratégias de Manejo de Grupo na Saúde
Fabiane Braga Pereira, Larissa Polejack

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


A promoção à saúde se efetiva de modo mais pleno nas ações coletivas, pois é na coletividade que o direito à saúde pode ser mais facilmente associado a outros direitos fundamentais como a cidadania e a dignidade da pessoa humana. Por isso, o manejo de grupos na saúde se faz duplamente necessário ao Sistema Único de Saúde (SUS) pois, além de promover a saúde por intermédio da valorização e compartilhamento de saberes dos seus usuários, traz também fundamental contribuição na formação dos profissionais de saúde.

A presente revisão integrativa da literatura fez um levantamento bibliográfico dos artigos publicados no Brasil nos últimos seis anos acerca das estratégias de manejo de grupos na saúde, com o objetivo de verificar as abordagens mais utilizadas no manejo de grupos na saúde, quais os principais contextos em que se efetivam os grupos e a contribuição das práticas em grupo para a saúde no Brasil, além de apurar possíveis lacunas na literatura sobre o tema. As pesquisas foram realizadas em novembro de 2017, sendo incluídos os artigos científicos empíricos a respeito do tema, publicados em língua portuguesa, com acesso gratuito e integral em plataforma on-line, publicados a partir de janeiro de 2012, até outubro de 2017, em formato de artigo. Os descritores utilizados foram “manejo + grupo + saúde”, “terapia + comunitária + saúde”, “grupo + sociodrama + saúde”, “grupos + operativos + saúde” e as bases de dados em que se efetivaram as buscas da pesquisa foram BVS, LILACS e Periódicos CAPES.

Após a análise dos resumos dos artigos encontrados, aqueles que não se relacionaram diretamente com o tema proposto ou não trouxeram relatos de experiências com o manejo de grupos, bem como aqueles encontrados em duplicidade, publicados em língua estrangeira ou fora do lapso temporal, foram excluídos do presente estudo.

Aplicados os critérios de exclusão, a busca resultou em 32 artigos publicados no recorte temporal determinado, sendo a maior produção no ano de 2013 e 2014 o ano de menor registro de publicações relacionadas com o tema abordado. Em todos os artigos encontrados, o manejo de grupos trouxe resultados positivos para a saúde em variados contextos, mostrando-se como caminho seguro e eficaz para a consolidação e efetivação da própria dignidade humana, promovendo o protagonismo, a qualidade de vida e a saúde dos diversos participantes do SUS.

Nos achados incluem-se práticas de prevenção e cuidado envolvendo usuários de todas as faixas etárias e em situações variadas, como saúde no trabalho, escola, hospitais e postos de saúde, saúde mental, cuidado permanente de doenças crônicas, drogadição, entre outras. Além disso, os estudos apresentaram grupos de composições diversificadas, com a participação de múltiplos atores dos serviços de saúde em diferentes âmbitos, como gestão de serviços e práticas educativas para a formação e educação continuada de diversos profissionais da saúde. A eficácia dos grupos ficou demonstrada, tanto nos chamados grupos terapêuticos, que são os grupos nos quais o objetivo é o de levar o cuidado e práticas curativas aos usuários, como nos grupos educativos e de formação, cuja finalidade é a de prover a educação dos usuários ou formação continuada dos profissionais de saúde. Também foram encontrados artigos em que a principal finalidade do manejo de grupos era a pesquisa na área da saúde, como os chamados grupos focais, que têm por objetivo específico não a intervenção no grupo, mas a realização de entrevistas em conjunto com os participantes da pesquisa, de forma que seja avaliada também a comunicação e interação entre eles, o que inevitavelmente, gera nos participantes uma reflexão acerca do tema pesquisado.

O número de pesquisas encontradas na literatura levantada, todavia, mostrou-se muito pequeno, principalmente levando-se em conta os inúmeros benefícios que as práticas em grupo trazem à promoção de saúde. O ano de 2013, o de menor quantidade de publicações na área é subsequente ao ano de maior corte orçamentário nos investimentos em saúde, educação e pesquisas por parte do governo federal, o que mostra a necessidade de políticas públicas que fortaleçam as práticas em grupo na saúde.

Os artigos analisados nesta pesquisa demonstram que os grupos em saúde proporcionam autonomia, aprendizado, valorização e compartilhamento de saberes dos participantes, usuários e profissionais de saúde, além de permitir ao pesquisador uma clara identificação dos proveitos e falhas na prestação dos serviços. Mesmo nos artigos que descreveram grupos focais e outras modalidades de pesquisas de grupos em cujas experiências o objetivo era apenas coletar dados por intermédio da prática grupal, o manejo dos grupos mostrou-se eficaz e, na maior parte dos casos, promoveu reflexões importantes e a expectativa de transformações geradoras de bem-estar e saúde.

A abordagem mais utilizada foi a dos grupos operativos, preconizada pelo argentino Pichón-Rivière, que são grupos que trabalham mobilizando a motivação para as atividades, a consciência quanto aos papéis desempenhados pelos integrantes e a disponibilidade para mudanças. Contudo, os artigos encontrados evidenciaram que, na prática, as abordagens se comunicam e se influenciam umas às outras, tanto nos grupos terapêuticos, como nos grupos preventivos, de aprendizagem e formação de profissionais.

Alguns artigos evidenciaram a necessidade de aprofundamento das práticas em grupo e a necessidade de uma melhor formação dos profissionais pois, muitos ainda reproduzem visões fragmentadas do cuidado, defendem a responsabilidade exclusiva do usuário em caso de não adesão aos tratamentos e atuam de forma distanciada da comunidade, defendendo manejos diretivos em lugar da participação social.

A literatura levantada demonstrou ainda algumas lacunas, como a ausência de artigos empíricos nas bases pesquisadas sobre o manejo de grupos que utilizem o sociodrama na saúde e a necessidade de uma melhor clareza por parte de alguns autores sobre o referencial teórico empregado em suas produções.

Por fim, em face das grandes vantagens que o manejo de grupos traz para as ações em saúde e diante do reduzido número de artigos na área, constata-se a necessidade de fortalecimento da utilização dos grupos nas diversas estratégias de promoção da saúde, a imprescindibilidade da inclusão de suas práticas nos currículos da graduação dos profissionais da área, bem como a urgente retomada nos investimentos em pesquisas no setor.




Palavras-chave


grupos;promoção da saúde;participação da comunidade;psicoterapia de grupo